Malta: Papa critica religiosidade de «fachada» e de condenações (c/fotos)

Em Missa com milhares de participantes, Francisco sublinha centralidade da «misericórdia» na fé cristã, sem julgamento dos outros

Floriana, 03 abr 2022 (Ecclesia) – O Papa presidiu hoje à Missa na localidade maltesa de Floriana, perante cerca de 20 mil pessoas, pedindo que a fé seja mais do que um “elemento de fachada”, centrada na exterioridade e no julgamento dos outros.

“Quem julga defender a fé apontando o dedo contra os outros, até pode possuir uma visão religiosa, mas não adota o espírito do Evangelho, porque esquece a misericórdia, que é o coração de Deus”, disse, na ‘Piazzale dei Granai’, onde chegou após um percurso em papamóvel, saudado por milhares de pessoas nas ruas da ilha.

“Deus perdoa tudo, tudo”, insistiu.

A homilia da celebração, ao ar livre, partiu da passagem do Evangelho que é lida este domingo nas igrejas católicas de todo o mundo, o chamado episódio da “mulher adúltera” – cujos acusadores pedem que seja apedrejada, diante de Jesus.

Francisco destacou que a doutrina cristã não é “abstrata”, mas “toca a vida e liberta-a, transforma-a, renova-a”, deixando sempre abertos “caminhos de libertação e salvação”.

“Qualquer advertência, se não for movida pela caridade e não contiver caridade, afunda ainda mais quem a recebe”, advertiu.

A homilia defendeu uma maior atenção pelos “últimos”, sem “apontar o dedo”, e propôs um olhar particular sobre a mulher e os seus acusadores, que ignoram os próprios defeitos, mas “mostram-se muito atentos na descoberta dos alheios”.

Os fariseus, recordou, “parecem peritos de Deus, e contudo não reconhecem Jesus; antes pelo contrário, veem-no como um inimigo que precisam de eliminar”.

Irmãos, irmãs, estas pessoas dizem-nos que, até na nossa religiosidade, se podem insinuar a traça da hipocrisia e o vício de apontar o dedo; e isto a todo o momento, em qualquer comunidade”.

Francisco destacou que a verdade da fé se manifesta no olhar sobre si próprio e sobre o próximo, “um olhar de misericórdia” e não “de forma inquisitória, por vezes até desdenhosa, como os acusadores do Evangelho, que se erguem como defensores da Deus, mas não se apercebem de espezinhar os irmãos”.

Foto: Lusa/EPA

“Quando estivermos em oração e mesmo quando tomarmos parte em belas cerimónias religiosas, será bom perguntarmo-nos se estamos sintonizados com o Senhor”, recomendou.

O Papa agradeceu a “fé concreta, vivida” do povo maltês, pedindo que todos sejam “testemunhas incansáveis de reconciliação”.

“Como Igreja, comecemos de novo a frequentar a escola do Evangelho, a escola do Deus da esperança que sempre nos surpreende. Se o imitarmos, não seremos levados a concentrar-nos na denúncia dos pecados, mas a sair amorosamente à procura dos pecadores”, acrescentou.

OC

Foto: Lusa/EPA

No final da Missa, o arcebispo de Malta, D. Charles Scicluna dirigiu uma saudação ao Papa, em nome da Igreja Católica local.

Francisco agradeceu “a todos os cidadãos e fiéis de Malta e de Gozo pelo acolhimento e os carinhos recebidos”.

“Esta tarde, depois de ter encontrado vários irmãos e irmãs migrantes, chegará a hora de regressar a Roma, mas levarei comigo muitos momentos e palavras destes dias. Sobretudo conservarei no coração muitos rostos, e o rosto luminoso de Malta”, disse, no último dia da visita iniciada este sábado.

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Agência ECCLESIA

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