José Pedro Frazão, enviado especial da Renascença, sublinha «esperança» da população e mostra-se impressionado com a separação das famílias, por causa da guerra
Lisboa, 12 mar 2022 (Ecclesia) – O jornalista português José Pedro Frazão, enviado especial da Renascença para a cobertura da guerra na Ucrânia, disse à Agência ECCLESIA que há “máfias” que ameaçam a entrega de ajuda humanitária à população.
“Há máfias, que atuam na fronteira, a tentar desviar, a tentar comprar os mantimentos, os conteúdos dos camiões, para poder fazer negócio com os alimentos onde eles escasseiam, dentro da Ucrânia”, precisou.
O repórter, ainda no leste europeu, sublinhou o “desafio da transposição” da ajuda humanitária da fronteira da Polónia para a Ucrânia”, onde registou problemas, e deixa um alerta: a boa vontade e a generosidade devem ter também em atenção o esforço de “coordenação”, com quem se encontra no terreno.
“É necessário aprimorar a forma como a ajuda chega, são precisos contactos dentro da Ucrânia”, a Cruz Vermelha, o exército ou a embaixada ucraniana em Lisboa, referiu.
Após ter passado pela Polónia e pela região ocidental da Ucrânia, José Pedro Frazão assinala que os camiões com ajuda podem enfrentar uma fila extensa, na fronteira, ou deixar os contentores, sem a certeza de que cheguem ao local.
O enviado da RR mediou um encontro entre o presidente da Câmara de Lviv e autarcas portugueses, para canalizar a ajuda humanitária.
“Vi de uma forma muito sincera, genuína, por parte do autarca, os agradecimentos pela ajuda que chega de muitas partes da Europa, de Portugal”, assinalou.
O jornalista destacou, por outro lado, que nos testemunhos recolhidos junto dos refugiados encontrou, de forma geral, a vontade de regressar em breve a casa.
Eu senti em todos uma enorme esperança de que seja uma saída muito transitória. Sinto uma enorme autoestima, confiança, é um povo que transmite muita força”.
Em Lviv, o jornalista português recebeu várias perguntas de ucranianos, sobre a forma como poderão ter emprego em Portugal.
“Não está na cabeça das pessoas sair já, porque estão numa zona privilegiada, ainda sem conflito, mas admitem que isso poderá acontecer. Estarão disponíveis para ir para Portugal, mas querem saber que tipos de emprego existem”, relatou.
José Pedro Frazão, que já passou em cenários de guerra, nas últimas décadas, como o Paquistão, Afeganistão ou Balcãs, mostrou-se impressionado com a “separação das famílias” que acontece na Ucrânia.
“Eu vi os dois lados: os refugiados, na Polónia e na Hungria, onde estão as mulheres com as crianças; e dentro da Ucrânia, numa zona relativamente normalizada, a ocidental, ainda as famílias juntas”, observou.
Para o repórter, esta é “uma guerra diferente, porque tem um êxodo massivo de mulheres”.
O jornalista recorda, em particular, a imagem “extremamente dura” das mães que enfrentam temperaturas negativas, com dois ou três filhos e, muitas vezes, sem qualquer apoio.
“Na Hungria, um em cada quatro dos refugiados que chegaram a Budapeste são crianças”, acrescentou.
José Pedro Frazão disse que encontrou “abertura” dos ucranianos para falar com os jornalistas, sublinhando a necessidade de um contacto “mediado”.
“É importante, porque não se sentem sós. Sentem-se observados, uns dirão apoiados, e os jornalistas são também uma face visível disso”, precisou.
O facto de ser enviado da emissora católica portuguesa permitiu “atravessar algumas portas”, tendo conseguido chegar ao cardeal Konrad Krajewski, enviado pessoal do Papa à Ucrânia e esmoler pontifício.
A Rússia lançou a 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que causou pelo menos 549 mortos e mais de 950 feridos, entre a população civil, e provocou a fuga de 4,5 milhões de pessoas, entre elas 2,5 milhões de refugiados, segundo dados da ONU.
OC