LUSOFONIAS – D. Tirso ‘todo-o-terreno’

Tony Neves, em Verona – Itália

‘D. Tirso Blanco, o Bispo todo-o-terreno, o meu incansável Bispo que morria de amor por este povo!’ – assim D. José Manuel Imbamba (Presidente da Conferência Episcopal de Angola e S. Tomé – CEAST) definiu D. Tirso Blanco, Bispo do Lwena, falecido a 22 de fevereiro. Nascido em Buenos Aires há 64 anos, chegado a Angola em 1986, trabalhando no Lwena (até 1992), em Ndalatando (até 95) e m Luanda (até 2008). Seria Bispo do Lwena (o seu primeiro amor em Angola), desde 2008 até à morte, vítima de um galopante cancro no pâncreas.

Chegou a este país quando a guerra era forte e foi um missionário empenhado na educação dos mais jovens, na comunicação, na intervenção social, ou seja, numa pastoral integral. Tinha formação especializada em muitas áreas, desde a Teologia à Missiologia, da Filosofia à Comunicação Social.

A CEAST, em nota oficial, apresenta D. Tirso como ‘um exímio pregador do Evangelho, com constantes apelos à Justiça Social. Era defensor dos pobres, dos injustiçados e dos oprimidos. Dom Tirso Blanco, foste um Missionário Peregrino incansável!’. D. Zacarias Kamwenho, Prémio Sakharov dos Direitos Humanos, foi quem ordenou Bispo D. Tirso, a quem apelidou de ‘homem de Deus’. D. José Manuel Imbamba, natural do Lwena, conheceu-o ainda como seminarista e testemunha: “Um Bispo que eu chamava todo terreno, o meu bispo, aquele que percorreu distâncias e distâncias, e até o anel rompeu de tanto conduzir, um bispo que morria de amor por este povo, que queria ver desenvolvido, que queria ver incluído nos grandes projectos de desenvolvimento, nos grandes sonhos de oportunidades, nas grandes conquistas da justiça social”.

D. Maurício Camuto, Bispo do Caxito e ex-director da Rádio Ecclesia, testemunha: ‘Um homem irrequieto de voz inquieta, diante do qual os problemas e dificuldades fugiam. As distâncias superadas pelo olhar e vontade de chegar lá onde estavam os seus cristãos, as suas ovelhas queridas. Toda a diocese era a sua casa. Partiu ao encontro daquEle que o chamara a ir ao encontro dos pobres e esquecidos da Lixeira, de Luanda, do Lwena, do Luau, do Cazombo, de Angola. Era um 4×4! Um todo terreno incansável! Deixou órfãos aos milhares’.

O P. David Mieiro, dehoniano a trabalhar no Luau, Diocese do Luena, partilhou: O bispo D. Tirso foi um clarão. Como bom aprendiz da escola de Dom Bosco foi mestre da juventude que o chamou de ‘eterno jovem’. Foi a voz firme e sensata no meio de uma multidão silenciosa e silenciada. Voz dos sem voz nem vez. Um clarão defensor da justiça social, da paz e do diálogo para conquistar a tão desejada dignidade de toda a pessoa humana. Se lhe recomendavam descanso dizia: ‘para que eu descanse, vós tende de trabalhar’… trabalhemos então!’.

D. Belmiro Chissengueti também escreveu: ‘A paixão de Dom Tirso era a luta contra a pobreza, a promoção dos Direitos Humanos, a consciencialização da juventude, a educação e a promoção humana. Era uma ‘máquina imparável’ com uma postura profética firme na defesa dos interesses das populações, denunciando a ganância dos poderosos que se esqueceram da desgraça dos pobres’.

D. Tirso faleceu num Hospital de Verona, aqui em Itália, fundado pela Congregação dos Calabrianos. Fui de Roma a Verona, com a comunidade angolana, a 26 de fevereiro, para prestar uma homenagem a este missionário. Estiveram presentes, na Igreja Paroquial de Negrar, muitos angolanos, cerca de duas centenas, incluindo os Embaixadores junto da Santa Sé e do Estado Italiano. Concelebraram o Cardeal D. Eugénio dal Corso (Bispo Emérito de Benguela) e o Bispo local, bem como o Provincial dos Salesianos. D. José Nambi, Bispo do Kuito Bié, presidiu à Missa de Corpo Presente e resumiu assim a vida e missão deste Bispo: ‘Foi um bom pastor, um Bispo simples, inculturado, um homem do povo, atento aos seus problemas, alguém formado em comunicação que soube utilizar bem os media’. Concluiu: ‘Soube denunciar o que estava mal e fazer muitos projectos para desenvolver esta imensa região. Visitava as comunidades. Mesmo que levasse dias a faze-lo’.

Usando como exemplo umas das fotos tornada viral nas redes sociais, comentou: ‘Vemos um Bispo com um tronco de árvore aos ombros para reconstruir uma ponte e fazer o jipe passar. É uma boa imagem: ele foi um construtor de pontes, ele apoiou as crianças de rua, ele tentou recuperar dependentes do álcool, tentou cimentar as famílias, dar formação e capacitações aos jovens, empenhou-se na construção de um mundo melhor’.

Luanda (a 4 de março) e Lwena (dia 5) pararam para prestar uma última, sentida e grata homenagem a D. Tirso, por ocasião do funeral. Que Deus o abrace e recompense. RIP.

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Agência ECCLESIA

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