Sacerdócio, vocação e serviço ao Amor

D. Ilídio Leandro, Bispo de Viseu, escreve ao Clero da Diocese «Não vim para ser servido… (Mt 20, 25-28)» A vida de Jesus poderá ver-se em três grandes momentos. Cada um tem uma unidade essencial entre si mas, também, está em função dos outros dois: do nascimento aos 30 anos; a vida pública e os 3 últimos dias. Cada um destes momentos começa com um acto no qual, Jesus “Se esvaziou a Si mesmo, tomando a condição de servo”, inserindo-se totalmente na Sua missão, “tornando-se semelhante aos homens e sendo, ao manifestar-se, identificado como homem, rebaixou-se a Si mesmo, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz” (cf Filp 2, 7-8), explicando-a depois com a mensagem, com as atitudes e com a vida. O primeiro momento inicia-se com o Nascimento – que acto de “serviço” na identificação e na “morte”!…; o segundo, com o Baptismo – avança mais ainda, assumindo-se “pecado”!…; o terceiro com o lava-pés – aqui assume os gestos de escravo (portanto, abaixo de “homem”)!… As explicações: Não sabíeis que Eu devo ocupar-me das coisas do Meu Pai?; Eu sou o Bom Pastor e dou a minha vida pelas Minhas ovelhas – vou à procura da “perdida”!…; Eu estou no meio de vós como Aquele que serve. Para o terceiro momento, ainda: Fazei isto em memória de Mim; Não sois vós a tirar-me a vida… Eu a dou por Mim próprio… Pai, nas Tuas mãos, entrego o Meu espírito… Tudo isto é proposto a todos nós no convite que Jesus faz a quem O queira seguir: “Se alguém quer seguir-me… É a síntese da missão de Jesus que aparece de outras formas: Lc 4, 18-19; “venho, ó Pai, para fazer a Tua vontade”…; “O Meu alimento é fazer a vontade de Meu Pai”…; “Se o grão de trigo, caído à terra, não morre, não dá fruto”… Esta é, também, a síntese da missão de Maria (cf Lc 1, 38). Não pode deixar de ser, também, a síntese da missão da Igreja, pois, o seu caminho e a sua finalidade é o homem. É a afirmação correcta e perfeita da vontade de Deus a nosso respeito – “a glória de Deus é o homem vivente”. Ele vem para ser nosso Caminho, nossa Verdade e nossa Vida. Em Cristo, não é o homem quem procura encontrar Deus, mas é Deus Quem vai ao encontro do homem. Toda a acção de Jesus Cristo foi viver esta atitude de serviço. Porém, “antes da festa da Páscoa, Jesus, sabendo bem que tinha chegado a Sua hora da passagem deste mundo para o Pai, Ele, que amara os Seus que estavam no mundo, levou o Seu amor por eles até ao extremo” (Jo 13, 1-2). Importância do “lava-pés” para se entender a Eucaristia… João não descreveu a instituição da Eucaristia, mas o que a prepara e realiza… Não podemos celebrar o culto e somos, mesmo, contra a Igreja ou a pastoral da manutenção, das missas… da multiplicação das celebrações… De facto, elas não traduzem nada se não passam pela atitude de serviço. O culto sem serviço é hipocrisia (rico e publicano) … Então… é o nosso Plano Pastoral – Vocação ao Amor – vivido na nossa própria dimensão, vocação e missão de padres e de responsáveis pela Pastoral da Diocese… Sim, da Diocese, pois somos Presbitério e não há padres sem esta comunhão no Presbitério… Temos que tomar consciência que a Pastoral da Diocese nos diversos âmbitos – vocações, catequese, família, juventude, cultura… depende de cada um na medida em que cada um está unido à cepa – alegoria da videira!… – O que é viver a vocação ao Amor? Viver a vocação ao Amor, ao jeito de Deus e de Deus encarnado em Jesus Cristo, é procurar a relação com o outro para o fazer viver, crescer e ser feliz. Se a vocação não é entendida como Amor, numa entrega e doação totais a alguém, essa vocação não realiza a pessoa, mas, depois de a entusiasmar por algum tempo, deixa-a vazia, frustrada, estéril e infeliz. Muito mais se é uma vocação consagrada. – O que é lavar os pés aos irmãos? – O que é “servir” para Jesus Cristo? – É, certamente, servir as grandes causas dos homens ou, melhor ainda: servir os homens nas suas grandes causas… – Quais são as grandes causas dos homens? – Em primeiro lugar e com a causa da dignidade da pessoa, coloco a causa da comunhão – Sentir que ser pessoa é viver uma relação dependente (de dependência)… Em primeiro lugar entre nós, no Presbitério. – Coloco, depois, a causa da Verdade. Também a da Esperança. Ainda, a da Reconciliação… Importantíssima a causa do Acolhimento (essencial para todas as outras). Talvez as causas da Verdade e da Esperança se integrem na causa da Comunhão… Ficariam, então, as 3 (Comunhão – Reconciliação – Acolhimento). Vocação ao Amor = Vocação ao Serviço nas causas da Comunhão, da Reconciliação e do Acolhimento. Vocação ao Amor é aprender a amar até dar a vida. Vocação ao Amor é, pois, vocação à doação a fundo perdido, gratuitamente, como Jesus… Urgência da necessidade de um testemunho profético “diferente”, ao mundo e aos homens do nosso tempo, com a necessidade de: – Dar primazia a Deus; valorizar os bens futuros; imitar Jesus Cristo, casto e pobre; viver a vocação à santidade na obediência; amar os irmãos. Tudo isto e cada um destes aspectos na minha vida pessoal de padre, na minha vida pessoal de pastor, na minha vida pessoal de cristão e de seguidor de Jesus Cristo… Apesar da secularização e, precisamente, por causa dela – exigência de espiritualidade e permanente carência de oração. Quanto maior é a dificuldade de evangelizar, de viver e de testemunhar a fé e o amor… mais urgente é a necessidade de recuperar a missão essencial de levedura, de fermento, de sinal e de profecia… Quanto maior se apresentar a massa a levedar, tanto mais rico em qualidade deverá ser o fermento evangélico e tanto mais refinados o testemunho de vida e o serviço carismático das pessoas consagradas. Importa fazer vir fora, hoje mais que nunca, o carisma específico – o carisma apostólico, a implementar nesta Nova Evangelização. Quais as características próprias do serviço do padre diocesano? Qual é o nosso serviço específico? Não será a prática de Lc 4, 18-19 – a cura integral das pessoas? Não será ser um “médico de família” em cada Comunidade? Que significa e como se traduz e concretiza? Temos que actuar na procura da formação das consciências e da renovação das mentalidades – Rom 12, 2… Através de pequenos grupos, do recurso à direcção espiritual e da reconciliação. Tudo isto se consegue, somente, com um ambiente de comunhão, de inter-ajuda, de alegria, de partilha de actividades… SERVIR!… Quem?… O Quê?… Como?… Se o modelo do Serviço no Amor é o Bom Pastor, o acolhimento – abertura – compaixão – ir ao encontro… tem que ser a metodologia, pois, hoje, muitas pessoas continuam a andar sozinhas e sem Pastor. Há necessidade de montar “consultórios” abertos, com liberdade na agenda, no coração e no relógio. Temos absoluta necessidade de reflectirmos sobre o que é o essencial da missão do pároco e do padre e, concretamente, na Quaresma… As pessoas têm o direito de saber os horários de atendimento e de presença do seu pároco, em lugares acessíveis e disponíveis para a marcação de serviços, para um diálogo informal, para uma direcção espiritual, para a reconciliação fora dos dias e datas previstas e para outros eventuais contactos. Queria fazer apelo a que todos nós usássemos, também para nosso próprio benefício, destes meios de espiritualidade. Ser-nos-á difícil compreender as necessidades dos leigos e ser-nos-á difícil marcar na agenda e no coração tempos para estas actividades se nós, pessoalmente, não as usamos para a nossa vida pessoal, cristã e sacerdotal. Isto é Serviço no Amor que supõe uma resposta positiva à Vocação ao Amor. Sem esta Vocação e sem este Serviço, nem dignos “funcionários” somos e o sacerdócio vai muito além de um serviço digno de funcionário… Sem esta Vocação e sem este espírito de Serviço, não há Padres Felizes e não há Presbitério em Comunhão, o objectivo e ideal fundamentais para o Secretariado do Clero no presente Ano Pastoral. Queria que a nossa Quaresma fosse vivida a partir destas reflexões e orientações. Faço votos para que, na Quinta-feira Santa, todos nos sintamos felizes a renovar as Promessas Sacerdotais, como um verdadeiro Presbitério em Comunhão.

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