Jornadas de Teologia 2022 abordam os desafios lançados pelo Papa Francisco
Porto, 07 fev 2022 (Ecclesia) – João Duque, docente da UCP, disse hoje que a Fraternidade universal, proposta pelo Papa Francisco, traz a “relação com um irmão, do conflito ao limite” mas “há famílias onde essa realidade não acontece”.
“A própria proximidade e partilha das mesmas origens, nas famílias, levam a um conflito próprio entre irmãos, o estatuto de irmão é o que mais pode levar a violência; havendo um irmão tem de se abdicar da totalidade, de ocupar o terreno todo, tem de dividir parte de sua existência, essa experiência que pode levar a uma dinâmica de ressentimento e violência, pode levar a outro lado de nos reconhecermos no nosso limite, dando nosso espaço”, explicou, na conferência que proferiu nas Jornadas de Teologia que decorrem em formato online, com organização do núcleo do Porto da Universidade Católica.
O especialista trouxe o exemplo bíblico do “Bom Samaritano” para mostrar o “cuidado na fraternidade” que depois se pode transformar em responsabilidade pelo outro, o “centro da relação da fraternidade”.
“A proximidade que supera a indiferença, não somos mundos paralelos uns aos outros mas em proximidade, que inclui uma interpelação universal, incondicional; estar perante uma vulnerabilidade concreta que instaura a proximidade, concretizando-a”, referiu.
João Duque apontou que “não há lei que obrigue a tratar de quem está na beira da estrada”, que é uma questão de compaixão mas se houver uma “legalização da fraternidade” fica ao “sabor do sentimento”, na prática um “ideal utópico na realização”.
Já o padre Nuno Santos, reitor do Seminário de Coimbra, abordou as famílias que, com menos filhos, não proporcionam “momentos de confronto entre irmãos, tempo para negociar e dialogar”, e essa realidade traz consequências.
Por exemplo há seminaristas e futuros padres que não tiveram irmãos, na sua experiência de casa, é mais uma marca que acontece; no confronto também somos irmãos”.
O sacerdote, com dois irmãos e uma irmã, revela que essa circunstância o ajuda a “enquadrar o contexto e a vivência da fraternidade” e trouxe à reflexão a passagem bíblica da “última ceia”, onde “todos irmãos não havia nenhum igual”.
“No contexto da última ceia, de uma refeição, a fraternidade acrescenta o sabor; neste caso o lava pés e o que significa de acolhimento e humanidade, o que se deixa lavar e frase: “que vos ameis uns aos outros assim como eu vos amei””, referiu na sua intervenção, intitulada “A cultura do encontro performativo como fundamento da fraternidade”.
Segundo o padre Nuno Santos, o “Evangelho está cheio de toques” e só da “experiência concreta da relação se pode saborear esta grandeza”, a fraternidade como “desafio para qualquer cristão e ser humano”.
“Acredito que a fraternidade precisa de confronto mas depois de base para aceitar esse confronto para perceber que podemos ser mais, e estamos sempre a caminho”, reforçou.
“O Reconhecimento da Fraternidade. Fundamentos, Hermenêuticas e Desafios da Fratelli Tutti”, é o tema das Jornadas de Teologia 2022 que a Faculdade de Teologia, em colaboração com as Dioceses do Porto, Vila Real e Coimbra e a Irmandade dos Clérigos, está a organizar, entre os dias 7 e 10 de fevereiro de 2022.
SN