Munique: Relatório independente sobre casos de abusos sexuais questiona gestão de Bento XVI na arquidiocese alemã

Papa emérito respondeu em depoimento, com mais de 80 páginas, rejeitando acusações

Munique, Alemanha, 20 jan 2022 (Ecclesia) – Um relatório independente sobre abusos sexuais na arquidiocese católica de Munique e Frisinga, na Alemanha, divulgado hoje, questiona a gestão destes casos pelo então arcebispo Joseph Ratzinger, o Papa emérito Bento XVI.

O documento, do escritório de advocacia Westpfahl Spilker Wastl, inclui uma resposta escrita com mais de 80 páginas, do Papa emérito, em que Bento XVI rejeita a acusação de “inação” perante casos de abusos, no tempo em que esteve à frente da arquidiocese (1977-1982).

Martin Pusch, advogado, disse aos jornalistas que quatro casos dizem respeito a abusos cometidos durante este período e que os abusadores continuaram em atividade pastoral.

O documento aborda casos de abusos sexuais de crianças entre 1945 e 2019.

O secretário particular de Bento XVI, D. Georg Gaenswein, referiu ao portal ‘Vatican News’ que o Papa emérito se “congratula” com a investigação e a publicação do relatório, mostrando-se “profundamente” tocado pela situação das vítimas.

“Bento XVI não tinha conhecimento do relatório de mais de 1000 páginas do escritório de advocacia Westpfahl-Spilker-Wastl até esta tarde. Nos próximos dias, estudará e examinará o texto muito extenso com o cuidado necessário”, adiantou.

O Papa Emérito “manifesta a sua vergonha e pesar pelos abusos perpetrados por clérigos contra menores e renova a sua proximidade pessoal e oração por todas as vítimas, algumas das quais ouviu pessoalmente durante encontros nas suas viagens apostólicas”.

O jornal alemão ‘Die Zeit’ publicou a 4 de janeiro uma reportagem sobre o padre Peter Hullermann, acusado de abusar de ao menos 23 menores de oito a 16 anos; o sacerdote tinha sido suspenso na Diocese de Essen, em 1979, e foi enviado para Munique.

D. Georg Gaenswein, disse ao jornal que Bento XVI “não sabia” da acusação de abuso sexual no momento da decisão de admitir o sacerdote.

A 12 de março de 2010, a Arquidiocese de Munique publicou um comunicado no qual o então vigário-geral, mons. Gerhard Gruber, assumia “plena responsabilidade” por não ter impedido Hullermann de continuar a exercer o seu ministério.

A Santa Sé reforçou, no dia seguinte, que o então arcebispo Joseph Ratzinger “desconhecia a decisão de reintegrar” o padre Hullermann na atividade pastoral paroquial.

A Arquidiocese de Munique e Frisinga vai promover a 27 de janeiro uma conferência de imprensa para comentar o relatório independente, por si encomendado, sublinhando a necessidade de proceder a um “exame inicial” do documento antes de se pronunciar sobre o mesmo.

Esta tarde, o cardeal Reinhard Marx, arcebispo local, fez uma breve declaração à imprensa; a arquidiocese não teve conhecimento do conteúdo do documento até à sua publicação, nesta manhã.

“Oeu primeiro pensamento hoje é para aqueles que foram vítimas de abuso sexual”, disse o cardeal, que em 2021 chegou a renunciar ao cargo, pedido recusado pelo Papa Francisco.

“Como arcebispo em exercício, peço desculpas em nome da Arquidiocese pelo sofrimento que foi infligido às pessoas nas últimas décadas”, acrescentou.

O relatório denuncia o encobrimento sistemático de casos de violência contra menores, por parte da Igreja Católica, com o objetivo de “proteger a instituição”, identificando 497 vítimas.

A maioria são vítimas jovens do sexo masculino, 247, e com idades compreendidas entre os 8 e os 14 anos (60% do total); os autores dos abusos, incluem 173 padres, nove diáconos, cinco representantes pastorais, 48 ​​pessoas do ambiente escolar.

O porta-voz do Vaticano, Matteo Bruni, disse aos jornalistas que “a Santa Sé acredita que deve dar a devida atenção ao documento, cujo conteúdo não conhece atualmente”

“Nos próximos dias, após a sua publicação, irá vê-lo e poderá examinar adequadamente os detalhes”, acrescentou, antes de “reiterar o sentimento de vergonha e remorso pelos abusos de menores cometidos por clérigos”.

“A Santa Sé assegura a proximidade a todas as vítimas e confirma o caminho percorrido para proteger os menores, garantindo-lhes ambientes seguros”, concluiu.

OC

Notícia atualizada às 15h56

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Agência ECCLESIA

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