Mesma fé, novas linguagens

Chegou ao fim a Semana de Estudos Teológicos em Braga Terminou em Braga a XV Semana de Estudos Teológicos. Sob o tema genérico “A Transmissão de Fé – novos desafios, desafios de sempre”, estes dias pretendiam “ajudar as pessoas a perceber hoje quais são os novos condicionalismos” que se apresentam quando se quer transmitir e falar de fé. Ao longo dos séculos a transmissão de fé teve sempre de ter em conta os diferentes contextos das pessoas às quais se dirigia. “Isto não constituiu uma novidade, porque sempre houve novos condicionalismos”, afirma à Agência ECCLESIA o Cónego Pio Alves Sousa, director adjunto da Faculdade de Teologia. Partindo de três grandes temas para os três dias de reflexão, “embora não estanques”, os participantes reflectiram sobre “os Horizontes, traçando um quadro global onde se situam as novas realidades, os Confrontos que ajudam a perceber as dificuldades e os Reencontros propondo encontrar soluções”, descreve o director adjunto. “A qualidade do testemunho depende do rigor com que o cristão empreende a tarefa de dizer e actuar”, afirmou D. Carlos Azevedo na primeira conferência da XV Semana de Estudos Teológicos. O Bispo auxiliar de Lisboa, que falou sobre “Escritura, tradição e testemunho”, afirmou que “importa inventar uma linguagem e um novo modo de viver”. Segundo D. Carlos as “parábolas ajudam a saltar da lógica banal para uma perspectiva de vida”. E acrescentou que foi graças à tradição que o “anúncio da salvação chegou aos nossos dias”. Isabel Varanda defendeu a urgência de se “reaprender a gramática do coração e a justa conjugação dos verbos amar e pensar”. Na temática sobre os “Novos Desafios Culturais” na “transmissão da fé”, a professora da Faculdade de Teologia de Braga referiu que “a sobrevivência espiritual e mesmo física passa por aqui. Talvez, então, quando a geração dos nossos pais desaparecer, Deus ainda seja lembrado e ainda seja amado”. De acordo com Isabel Varanda, “estamos a viver na era dos construtores de tectos. O humano do século XXI já não constrói catedrais com as torres rasgando os céus, deixou de olhar as alturas e delas se projectar através das suas construções. O seu olhar vira-se para o interior e em vez de torres e pirâmides, o humano do século XXI aposta na engenharia de interiores, tornando-se construtor de tectos”. E apontou que esta interioridade for vazia “de emoções, de sentimentos e afectos, em geral, quando a geração dos nossos pais desaparecer Deus ainda será lembrado/pensado, mas já não será amado”, advertiu. Os rituais foram abordados na sua simbologia enquanto representações de fé. O Cónego Manuel Joaquim da Costa afirmou que “não se inventa um ritual; ele está, por natureza, programado com antecedência, o que lhe permite ao mesmo tempo ser reiterado de forma idêntica, com intervalos regulares, cada ano, estação, semana ou também em cada estação da vida humana, em cada geração ou para todo o acontecimento importante para a vida do grupo”. Na conferência sobre “Ritualidade simbólica e incarnação da fé”, o pároco da Sé de Braga afirmou que “o problema é situar a liturgia entre os horizontes do “demasiado” e do “insuficiente”», apontando que é preciso ter cuidado e não enveredar pelo «cerimonial obsessivo», caracterizado por uma «formalização rigorosa e rígida». Advertiu também para não se seguir uma «banalização dos ritos, sob pretexto de estar “na vida”, num linguagem, gestos e objectos que pretendem situar-se no ambiente do quotidiano, muitas vezes enrolados num verbalismo explicativo e moralizador”, afirmou. “Os ritos devem manifestar a serenidade e reflexão atentas nas quais terá que caber a Igreja, o mundo, a cultura, as comunicações, os ambientes, políticas… toda a rede cuja malha passa pela realidade das nossas vidas”, afirmou o cónego Manuel Joaquim da Costa. À margem da conferência sobre a “Família, afectividade e adesão crente”, o padre jesuíta Vasco Pinto de Magalhães posicionou-se ontem contra a eventual abertura de um banco de esperma público em Portugal, referindo que “a sua criação levanta problemas sérios em relação à identidade e estruturação da pessoa”. O Pe. Vasco Pinto Magalhães lembrou que “um filho não é um produto da técnica, mas fruto de uma relação” e sob o ponto de vista ético, “não há razões para a fecundação heteróloga”. A partir da reflexão realizada o Cónego Pio Alves ressalta que importa ter “consciência de que o conteúdo da fé não mudou, mas como sempre aconteceu deveremos colocar-nos na situação de hoje e chamar a atenção para que o modo como recebemos a fé não será o modo como o vamos transmitir”, sublinhou, adiantando que a fé será sempre a mesma. Significa isto que “a Igreja pode e deve actualizar-se cada vez mais com a sociedade e pode e deve cada vez mais buscar linguagens adequadas, não apenas a linguagem oral ou escrita, mas todos os recursos de comunicação que são muito variados”, apontou o director adjunto. Com Diário do Minho

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