«Zoom in»: Três sugestões para descobrir o património religioso da Diocese do Porto (c/vídeo)

Igreja de Santa Clara, Porto

Visitar o Porto é sem dúvida folhear uma verdadeira enciclopédia de história de arte. É viajar na história e com atento olhar descobrir vários estilos, reflexos dos tempos da história, e sem dúvida da marca de humanidade na cidade. Ao entrar na Igreja de Santa Clara, onde a estrutura arquitetónica gótica do século XV se impõe, é o capítulo do barroco que aqui assume particular destaque.

Nasce de um bonito gesto de amor de D. João I a sua esposa. Uma promessa às monjas Clarissas do Mosteiro do Torrão que, por morte, Dona Filipa de Lencastre não iria conseguir cumprir. Seu esposo assume-a como sua e, na qual coloca toda a beleza. A dedicação de D. João I é tal que como refere Júlio Gil, no livro, as “Mais Belas Igrejas de Portugal”, “A cerimónia de instituição do mosteiro das Clarissas do Porto decorreu a 28 de Março de 1416, tendo sido marcada pela presença das mais importantes figuras do reino – D. João I e os príncipes D. Fernando e D. Afonso -, que desde a primeira hora privilegiaram a nova casa, e pelo Bispo D. Fernando Guerra.”  … É em outubro de 1427 que as Clarissas se instalam no seu novo mosteiro, sendo que a igreja monástica apenas foi concluída algumas décadas depois. Apesar de grande parte da edificação monacal ter sido custeada por D. João I, dando continuidade à vontade de sua esposa, as suas armas acabaram por desaparecer do portal gótico.

Atualmente considerada um dos mais belos exemplares das denominadas igrejas forradas a ouro do barroco Joanino, não é uma igreja de grandes dimensões, mas a dimensão física em nada reduz a sua beleza. Tendo sofrido várias obras ao longo dos tempos, transformando o seu interior de uma igreja gótica numa igreja barroca, a sua frontaria ainda mantém o seu portal quinhentista, onde convivem elementos manuelinos com alguns apontamentos já renascentistas. Para além de um conjunto de elementos acrescentados ao longo dos tempos, muitos de difícil interpretação simbólica, o que por seu lado convida ao exercício da imaginação, é no século XVIII que é adicionado um frontal superior onde serenamente se instalam as imagens de S. Francisco e Santa Clara. Mas é sem dúvida no seu interior que o nosso olhar é presenteado de uma beleza reluzente, assumindo o seu apogeu no núcleo da capela-mor e arco triunfal, onde a experiencia nos eleva ao esplendor. Cada centímetro desenhado e talhado de forma extraordinária permitem, na conjugação dos inúmeros elementos artísticos, a destacar a pintura, escultura azulejos e cadeiral, formar das poucas e únicas composições estéticas perfeitamente harmoniosas.

Mas não se pode partir, sem antes elevar o olhar para o teto e perenizar na memória a composição estética dos caixotões, que de forma simbólica nos envolvem numa dimensão onde o brilho assume um esplendor quase sufocante, mas onde o conjunto nos eleva a uma sinfonia perfeita.

Nas vicissitudes do passar dos tempos, para além das transformações estéticas o complexo monástico foi, por força de diferentes usos, integrando a memória patrimonial da cidade. É nos dias de hoje, que depois de uma importante campanha de obra de restauro e conservação que na Igreja Santa Clara no Porto, o brilho voltou a resplandecer.

 

Centro de Interpretação do Românico, Lousada

A grande porta de entrada para uma viagem no tempo, num tempo que reflete a nossa cultura cristã, do nosso ser individual, de uma comunidade local a nacional, a algo mais vasto, a traços que nos unem a uma raiz europeia. Um convite que nos empela a descobrir uma rota estruturada em torno da arte do românico, de um tempo medieval … o Centro de Interpretação do Românico é uma escultura arquitetónica contemporânea, assente em 7 pilares/torres que convidam a um conjunto de experiências temporais.

O Centro de Interpretação do Românico (CIR), promovido pela Rota do Românico, abriu ao público no dia 27 de setembro de 2018, na vila de Lousada, Porto. O projeto expositivo deste grande equipamento de divulgação do património histórico-cultural distingue-se pelo arrojo da sua arquitetura contemporânea, mas igualmente pelas múltiplas experiências interativas proporcionadas pelos seus conteúdos museográficos. Para além dos espaços de receção, cafetaria e biblioteca, o CIR é constituído por uma superfície expositiva de cerca de 650 metros quadrados, distribuída por um amplo átrio central (claustro) e por seis salas temáticas: Território e Formação de Portugal; Sociedade Medieval; O Românico; Os Construtores; Simbolismo e Cor; Os Monumentos ao longo dos Tempos.

O CIR perfila-se, assim, como o cenário ideal para iniciar a viagem de descoberta da Rota do Românico e do seu território de influência, bem como da arte e simbolismo que marcaram Portugal e a Europa durante vários séculos da Idade Média.

A Rota do Românico é um projeto turístico-cultural que reúne, atualmente, 58 monumentos e dois centros de interpretação, distribuídos por 12 municípios dos vales do Sousa, Douro e Tâmega (Amarante, Baião, Castelo de Paiva, Celorico de Basto, Cinfães, Felgueiras, Lousada, Marco de Canaveses, Paços de Ferreira, Paredes, Penafiel e Resende), no Norte de Portugal. Um convite a descobrir, numa experiência fundada na história um rico território.

Conjugando sabores únicos com testemunhos que o tempo ergueu, somos transportados para uma linha do tempo, uma verdadeira cronologia da intervenção humana. Da pré-história à contemporaneidade, a Rota do Românico permite uma viagem milenar, o Centro de Interpretação faz todo o enquadramento e num aliciante desafio, contextualiza o visitante no tempo mental, artístico e social, mas também num território onde se une experiências intemporais com a degustação de uma excelente gastronomia e vinhos de exceção.

 

Convento e Igreja de S. Gonçalo, Amarante

Sentimos a ténue fronteira entre a lenda e a devoção a S. Gonçalo, entre o cheiro a cravos e o brilho renovado de um altar que nos eleva, tendo aos pés o correr do Tâmega, rio que assume ali, particular beleza visual e sonora, um verdadeiro convite a ficar … a desfrutar …

Implantada no local da ermida onde se julga estar sepultado São Gonçalo, a igreja do Convento de São Gonçalo, marca a paisagem ao entrarmos na cidade antiga, impõe assim o carácter religioso à cidade. De 1540 aos dias de hoje, numa conjugação de tempos dos vários elementos arquitetónicos que contam as diferentes etapas da sua construção resultando em influências renascentistas, maneiristas, barrocas e oitocentistas. Iniciada por ordem de D. João III, também D. Sebastião, D. Henrique e Filipe I estão ligados à sua construção, e por isso representados na bela galeria exterior da Varanda dos Reis. Ao gosto Filipino a escondida fachada principal, a poente, contrasta com a imponente fachada lateral, voltada a sul sobre o Largo – com um portal/retábulo, constituído por um arranjo artístico distribuído por três andares, de diferentes estilos, com um desenho e composição inicial maneirista cede, ao longo do tempo de construção, a uma linguagem barroca.

A igreja assume um traçado em forma de cruz latina, partindo do nártex, encimado pelo coro, seguido do corpo da igreja e do transepto com o zimbório, culminando na capela-mor, de estilo barroco joanino onde o trabalho da talha resplandece. Onde tantos elementos se destacam, de realçar as duas colunas que ladeiam o arco triunfal e nas quais se erguem as estátuas de S. Pedro e S. Paulo. Na base das colunas encontramos inscrições da data de construção do convento e a proibição, ditada por Filipe I de Portugal, em 1595, de mais alguém ser sepultado na capela-mor por aqui se encontrar São Gonçalo.

Não esquecendo o Santo que o Papa Júlio III inscreveu no Catálogo dos Santos, S. Gonçalo repousa assim numa das capelas que ladeiam a capela mor. Do lado do Evangelho onde encontramos a sua estátua jacente e do lado da Epístola, a capela das oferendas, onde se podem encontrar inúmeros testemunhos dos seus milagres, bem como uma imagem em tamanho natural de São Gonçalo do séc. XX, da autoria de José Thedim, vestido com o hábito dominicano.

O complexo do antigo convento integra ainda a admirável sacristia, bem como, dois claustros ainda bem conservados. Atualmente parte do antigo convento é ocupada pelo Museu Municipal Amadeo de Souza Cardoso e pela Câmara Municipal de Amarante.

A visita será sempre uma surpresa entre a cenografia do edificado, a experiência que no convida a um envolvimento com a lenda, a uma paisagem que conjuga história e natureza deslumbrantes, entre o rio e a prova dos doces conventuais apuram sentidos desconhecidos e, onde sabe sempre bem regressar …

Rosário Correia Machado

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Agência ECCLESIA

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