Covid-19: «Percebemos a nossa fragilidade humana e como este equilíbrio económico é tão frágil» – João César das Neves (c/vídeo)

Três economistas refletiram sobre as consequências sociais e económicas da pandemia, a convite da Diocese de Angra

Foto: Lusa

Angra do Heroísmo, Açores, 17 jun 2021 (Ecclesia) – O economista João César das Neves disse que “ninguém sabe” como é que se vai sair da crise atual, “a pior crise desde há 75 anos, em que o impacto económico é dominante”, num debate sobre as consequências da pandemia.

“Parou tudo, percebemos a nossa fragilidade humana e como este equilíbrio económico é tão frágil”, explicou no encontro promovido pelo Instituto Católico de Cultura (CCC), da Diocese de Angra.

O professor da Universidade Católica Portuguesa (UCP) assinalou que a pandemia Covid-19 “foi uma crise devastadora, a pior crise desde há 75 anos” com um impacto sanitário com pessoas a morrer, mas “o impacto económico é dominante”, informa o portal ‘Igreja Açores’.

“Como vamos sair? Ninguém sabe, mais descapitalizados é certo, mais endividados, porventura, os pobres mais pobres mas não podemos perder a esperança”, acrescentou.

Para João César das Neves, a Igreja tem um lugar decisivo e “o papel principal é manter a esperança”.

“Quando  o Estado e as empresas desaparecem, é a Igreja e a família que entram em ação”, observou, indicando que o Plano de Resiliência e Recuperação “não é um bom instrumento, é uma lástima”.

“Penso que a opção da União Europeia não foi tratar da pandemia, pois o documento não procura resolver a recuperação, olhando para os problemas concretos. O que vamos fazer é reforçar as forças de paralisia: O investimento público, os professores, mas não ouço nem vejo tratar das empresas e da sua saúde”, desenvolveu.

Para o professor catedrático Mário Fortuna, da Universidade dos Açores, no caso concreto do arquipélago é preciso garantir recursos para “recapitalizar as empresas, trabalhar a sua produtividade” e “investir nas pessoas”.

“Quando um abalo de terra é forte tem consequências diferentes consoante a região. Foi isso que aconteceu aqui nos Açores com esta pandemia. Em 2010 recebemos um abanão, esta crise ainda é pior e o impacto tem a ver com a estrutura económica que não existia”, exemplificou.

O também presidente da Câmara de Comércio e Indústria de Ponta Delgada afirmou que a ideia de “não deixar ninguém para trás” é um aspeto que tem estado presente “na ação da Igreja nos Açores”.

“A Doutrina Social da Igreja parte da valorização da propriedade privada e a produção é um ponto de partida. É preciso recuperar os valores: o valo do trabalho e da produção, o valor de que as pessoas  devem dar à sociedade sem esquecer aqueles que não podem”, desenvolveu Mário Fortuna.

Já Gualter Furtado, presidente do Conselho Económico e Social dos Açores, referiu que não se sai desta crise “sem ser de uma forma organizada e solidária”, alertando que “um em cada três açorianos são pobres”.

“A  pobreza atinge cerca de 30% da população, com bolsas absolutamente gritantes; A pobreza tem uma dimensão astronómica, e em Igreja temos de saber lidar com ela, não pode ser só com medidas paliativas”, acrescentou o também economista.

O Instituto Católico de Cultura da Diocese de Angra que está a promover um ciclo de três debates, com o apoio do Santuário do Senhor Santo Cristo dos Milagres, e em parceria com a RTP Açores, e o último encontro vai centrar-se na encíclica ‘Laudato Si’, informa o sítio online ‘Igreja Açores’.

CB

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