19 horas de sequestro com tempo para dormir e rezar

Pe. Júlio Lemos viveu momentos delicados no Estabelecimento Prisional de Pinheiro da Cruz (SOM) O Pe. Júlio Lemos viveu, no Estabelecimento Prisional de Pinheiro da Cruz, alguns dos momentos mais difíceis da sua vida após ter sido sequestrado por dois reclusos, situação que se prolongou por 19 horas. Foi libertado esta segunda-feira de madrugada, após uma delicada operação de resgate e confessa que ele e os presos chegaram a estar convencidos de que não sairiam com vida daquela situação. Como faz em cada manhã de Domingo, o sacerdote celebrou a Eucaristia no interior do estabelecimento prisional. Terminada a missa, os dois sequestradores terão prosseguido um plano de sequestro que estaria preparado para um guarda prisional. Porque não estava, a vítima foi o Padre Júlio. Os restantes reclusos presentes quiseram libertar o Capelão, tendo sido o próprio padre e a evitar conflitos entre os reclusos Em declarações exclusivas à Agência ECCLESIA, o capelão relata que ao longo das horas do sequestro esteve com uma caixa amarrada entre a barriga e o pescoço – na qual montado um dispositivo que faria com que uma faca atingisse o pescoço, caso fosse activado através dos fios que estavam amarrados ao punho dos dois raptores. Os restantes reclusos presentes quiseram libertar o Capelão, tendo sido o próprio padre e a evitar conflitos entre os reclusos. O Pe. Júlio Lemos refere que o rapto estava programado para um guarda prisional, mas dado que nenhum se encontrava na cerimónia, ele acabou por ser o alvo dos reclusos porque “não havia mais ninguém”, segundo os sequestradores. Estes repetiram-lhe por diversas vezes que não queriam a morte do padre: “estava no sítio errado à hora errada”, diziam. O sacerdote confessa que “no início foi complicado”, lembrando o susto inicial. Depois, a partir da segunda hora, admite que “todos nos fomos abrindo: eles foram ganhando confiança e eu ganhei confiança deles”. Com “momentos de tudo”, falaram da família, mostraram fotografias, contaram anedotas e chegaram mesmo a “cantar a Nossa Senhora”. “Eu até dormi, eles puseram almofadas e trataram-me melhor do que algumas pessoas cá fora”, graceja o sacerdote. Risco de vida Em todos os momentos, o Pe. Júlio Lemos teve a noção de que corria perigo de vida: “um gesto mais brusco e era o fim de tudo. Apesar disso, não condena os seus raptores nem as pessoas que acompanha na prisão: “É como em todo o lado, há pessoas boas e más”. Os “momentos críticos” aconteceram quando “eles se apercebiam que não havia abertura para as suas exigências”. “Cada movimento que eles percebiam era uma ameaça a e enervavam-se. Eles pensavam que iam morrer e quando pediram para sair em liberdade era exactamente para morrer em liberdade”, refere o sacerdote. Nunca entrou em pânico e assegura que os sequestradores “tinham como dor maior a minha morte”. Aos reclusos que o sequestraram assegurou sempre o seu perdão, ao que os próprios responderam que “não o mereciam”. A operação de resgate é classificada pelo Pe. Júlio Lemos como “excepcional” e “de louvar”, sublinhando que “se houvesse uma falha de um segundo, poderia ter corrido mal”. O sacerdote também foi atingido por vários tiros de choque, mas agradece a Deus por “tudo ter acabado bem” para todos os envolvidos. Quanto ao futuro, deixa a certeza de que quer continuar a ser Capelão prisional. “Por mim, continuarei lá”, assegura. A acompanhar todo o processo esteve o Bispo da Diocese de Beja, D. António Vitalino. Mal foi informado oficialmente do sucedido, pediu a dois padres de paróquias próximas a Pinheiro da Cruz para acompanharem o caso. Foram esses padres que esperaram, na madrugada, o Pe. Júlio Lemos. “Estive em contacto com o Director da Prisão e com o Director-geral dos Serviços Prisionais”, referiu D. António Vitalino à Agência ECCLESIA. Voz do Pe. Júlio Lemos

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