D. Luiz Fernando Lisboa critica líderes políticos por ocultarem crise na Província de Cabo Delgado
Lisboa, 14 abr 2021 (Ecclesia) – O bispo emérito de Pemba, em Moçambique, considerou que o governo local procurou ocultar a crise na Província de Cabo Delgado e disse que o executivo o ameaçou de morte, por denunciar a situação.
Em entrevista publicada pelo jornal ‘La Repubblica’, de Itália, D. Luiz Fernando Lisboa foi questionado sobre se a sua saída de Moçambique e regresso ao Brasil, por decisão do Papa, teria como motivo as ameaças dos extremistas islâmicos, que há três anos atingem o norte do país africano.
“Não. O governo. Recebi primeiro ameaças de expulsão, depois de apreensão de documentos e, no final, de morte”, respondeu.
A entrevista foi depois publicada pelo portal de informação religiosa do Instituto Humanitas Unisinos, do Brasil.
“Maputo negou a guerra desde o início. Quando o conflito e o perigo se tornaram evidentes, ele proibiu que se falasse sobre o assunto. Impediu que os jornalistas fizessem o seu trabalho. Um repórter está desaparecido desde abril do ano passado”, denunciou.
Segundo o missionário brasileiro, a Igreja Católica “era a única que falava sobre a situação” e isso não agradava ao Governo de Moçambique.
“Acima de tudo, não tolerava que saíssem notícias sobre o estado. Orgulho nacional, negócios. Quando há um ano a Conferência Episcopal condenou o que estava a acontecer, num documento, as autoridades reagiram mal, começando a lançar lama sobre mim”, relata.
O responsável considera, por outro lado, que esta “não é uma guerra religiosa”.
“Eles atacam todos e destroem tanto igrejas como mesquitas. Eles matam líderes cristãos e muçulmanos. Esta é uma guerra económica pela apropriação dos recursos naturais: gás líquido, ouro, rubis, pedras semipreciosas”, refere, a respeito dos insurgentes que se apresentam como elementos do autoproclamado Estado Islâmico.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, após ser nomeado como bispo da Diocese de Cachoeiro de Itapemiri, no Estado do Espírito Santo (Brasil), D. Luiz Fernando Lisboa admitia que o Papa tivesse informações a que ele próprio não teria acesso.
“O Papa tem muitas informações, que às vezes nem nós mesmo temos. O Papa mostrou-se muito preocupado com a situação de Moçambique, procurou estar muito próximo, enviou ajuda, telefonou, chamou-me para falarmos de frente sobre a situação e achou melhor que eu saísse e fosse trabalhar para outro lugar”, declarou.
Francisco, que se encontrou com o responsável, no Vaticano, a 18 de dezembro de 2020, concedeu ao bispo emérito de Pemba o título honorífico pessoal de arcebispo.
PR/OC