O arcebispo de Braga rejeitou a autoreferencialidade e o «aventureirismo» e pediu «pequenos gestos que falem de amor»
Braga, 01 abr 2021 (Ecclesia) – D. Jorge Ortiga afirmou hoje que o agir do padre deve ser realizado à semelhança de São José “exercido com coração, no sentido da compaixão” e que “acolha a vida, no seu realismo nu e cru”.
“À imagem de São José, deve ser exercido com o coração, no sentido da compaixão: proximidade, dedicação, capacidade de se deixar comover pelos dramas e dores, ternura, carinho, solicitude, presença, e também no modo de o viver com paixão, sentido de entre-ajuda, generosidade, gratuidade, ir até às últimas consequências, sempre com alegria. Um coração que não deve ser de pedra mas de carne”, sublinhou o arcebispo de Braga na homilia na Missa Crismal esta manhã, na cripta do Santuário do Sameiro.
D. Jorge Ortiga apresentou a figura de São José colocando “o serviço sacerdotal em diálogo com o que o Papa sublinha” desta figura que apresentou recentemente numa carta apostólica.
“Não é suficiente o funcionalismo, talvez diversamente organizado e modernizado, com tudo minuciosamente considerado. Não basta um estatuto a defender com atitudes mais ou menos clericais. Nem ser funcionário competente e aberto a todas as formas de modernidade, tal como um espírito clericalista que defende o passado”, alertou o arcebispo de Braga aos padres presentes na celebração.
D. Jorge Ortiga pediu “solicitude” e “palavras que nunca provoquem afastamentos”.
“Não precisamos de grandes coisas. Os pequenos gestos falam muito quando estão carregados de amor”, sublinhou.
A vulnerabilidade do tempo presente deve fazer “tocar a ternura de Deus”, para ser levada a todos, “particularmente aos doentes e idosos”.
“Todos e tudo tem espaço num coração sacerdotal que não se fecha a ninguém. Não há bilhetes de acesso com condições para entrar. O horário é todo o tempo. O preço é a gratuidade e a alegria de celebrar encontros fraternos na amizade de irmãos. Nunca tivemos nem nunca teremos horário de trabalho. Temos orgulho de ser colaboradores de Deus na tarefa de recriar a Humanidade. Não podemos regatear energias. Tudo o que temos e somos é colocado em jogo para o bem da comunidade. Trabalhar por amor não cansa, embora tenhamos sempre a responsabilidade de cuidar do dom da saúde”, sugeriu.
Se em outros tempos o “trabalho do sacerdote foi muito solitário”, hoje, indicou, “terá de ser sempre com outros, sacerdotes e leigos”, que devem ser olhados “não como executores de ordens” mas enriquecedores de um “projeto comum”.
“Não sabemos o amanhã da Igreja. Não temos manuais ou GPS a determinar o caminho a seguir. É preciso muita persistência e resiliência. Não é trabalho de alguns. Toca-nos o agora e só com muita coragem criativa seremos fiéis à nossa vocação e missão”, afirmou.
D. Jorge Ortiga pediu ainda aos padres para rejeitarem a autoreferencialidade e o “aventureirismo” e que tenham por companhia “a vontade de mais e melhor”.
“Amados por Deus, seremos, também, amados pelo povo que sabe reconhecer o dom da vida, gasta por ele em experiências que nem sempre parecem encontrar recompensa humana. Os pobres e os abandonados sabem-no mostrar, se a vida foi para eles ou não”, acrescentou.
LS