Moçambique: Missionário alerta para «grande fome» em 2021 (c/vídeo)

Padre Edegard Silva para fome, guerra, doenças e pessoas a viver em redes mosquiteiras

Lisboa, 17 mar 2021 (Ecclesia) – O padre Edegard Silva, missionário em Pemba, na província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, alertou para a falta de condições de mais 600 mil deslocados e prevê “grande fome” numa região onde continuam os ataques armados.

“Com a seca e a falta de terra e o pessoal sem ter como plantar sobretudo o milho [que é a base da alimentação para mais de 90% da população local], nós estamos já a prever uma grande fome para este ano de 2021”, disse o missionário brasileiro à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS).

Na informação enviada à Agência ECCLESIA, pelo secretariado português da AIS, o padre Edegard Silva para além da fome adianta que continua a ameaça de ataques por parte dos grupos armados, como no distrito de Nangade, a zona de onde chegam agora mais ecos de violência.

“Nós combinámos que cada missionário é que deve socializar [tornar público] as informações da sua região. Nestes dias, os frades que atendem essa região, receberam a informação de ataques constantes a 10 de março”, explicou.

O sacerdote adiantou também que na região de Cabo Delgado há “muitos casos de cólera”, também há de casos de malária, mas a “diocese está atenta a esta realidade”.

“O sistema de saúde que já era difícil, que não respondia já à demanda do dia-a-dia, agora vê-se diante de uma situação ainda mais agravante que é esta população deslocada ter de procurar o posto de saúde ou o hospital para esses casos mais constantes que são a malária e a cólera”, desenvolveu.

O padre Edegard Silva descreveu a falta de condições em que se encontram mais de 600 mil deslocados, pessoas que foram forçadas a fugir das suas aldeias e vilas por causa dos ataques violentos no norte de Moçambique, desde outubro de 2017, e que são reivindicados por grupos jihadistas.

Segundo sacerdote, as pessoas quando se deslocam têm duas hipóteses, “vão para junto de familiares ou conhecidos”, e vivem em “pequenas casas grupos com 20, 25, 30 pessoas”, ou vão para os “assentamentos sobretudo na nossa região no distrito de Metuge”, abrigos feitos de capim, por exemplo.

“Na verdade, o que chamam de casa é uma rede mosquiteira para sobretudo à noite não serem picados. A casa é uma rede mosquiteira”, acrescenta.

A Fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre recorda que tem realizado diversas campanhas de apoio ao trabalho desenvolvido pela Igreja Católica na região de Cabo Delgado, que “tem sido crucial no auxílio aos deslocados”.

CB/OC

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Agência ECCLESIA

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