O significado de Fátima numa situação de emigração

As muitas manifestações religiosas que no mês de Agosto trazem para as igrejas, santuários e ruas do nosso país milhares de emigrantes para celebrar a sua Fé são manifestações da necessidade sentida por esta população de formas religiosas precisa para a sua situação de transição. Este é o ponto de partida, por exemplo, da obra de Policarpo Lopes “Signification de Fatima dans une situation d’émigration”, datada de 1992, que se revela um instrumento precioso para quem quiser analisar este fenómeno. A obra considera Fátima como uma fonte simbólica de que se apropriam aqueles que estão numa situação migratória, explorando as suas potencialidades de conciliação das referências a um passado de beleza e saudade (a terra de partida) e a um futuro hostil (na terra de emigração). A sua referência a Fátima como fonte simbólica permite ao autor debruçar-se sobre o problema, muito presente nas comunidades migrantes, da relação entre tradição e modernidade. O choque e desestruturação de personalidade que o emigrante muitas vezes sente são atenuados pela segurança oferecida pela referência fundamental que é Fátima. O autor recorda que ir a Fátima em peregrinação durante o tempo de férias “é um projecto de quase toda a população da primeira geração dos emigrantes”. A situação migratória dos portugueses é, muitas vezes, por uma situação de “insegurança estrutural e vulnerabilidade radical”, pelo que a figura de Nossa Senhora de Fátima ocupa um papel central na protecção do indivíduo e como elemento homogeneizador da religião popular e religião oficial. A religião popular, enquanto local de iniciativa e manifestação da componente afectiva aproxima as pessoas e cria laços identitários. As procissões de Nossa Senhora de Fátima são muitas vezes momentos privilegiados de contacto entre a população local e os emigrantes, permitindo um contacto mais próximo e uma melhor integração. A transição entre dois mundos é, assim facilitada pela figura de Fátima, presente na terra mãe e na terra de acolhimento/exílio. “Com efeito – conclui Policarpo Lopes – cada grupo social ou sociedade cria modelos e uma representação do seu mundo que interpretam e tornam inteligível aos seus olhos. Esse modelo e essa chave de interpretação nós descobrimo-la, no nosso universo (as comunidades portuguesas emigrantes) na realidade de Fátima”.

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