Situada entre o rio Lima e o rio Minho, a serra de Arga representa uma cadeia montanhosa que constitui em simultâneo um ponto de convergência dos concelhos de Caminha, Vila Nova de Cerveira, Viana do Castelo, Ponte de Lima e Paredes de Coura. É nesta região que várias aldeias sobrevivem ao ritmo do dia a dia que quem lá vive. Arga de Cima, Arga de Baixo e Arga de São João, são exemplos dessa rotina. Esta última, com mais um motivo, pois é o local onde todos os anos, no dia 29 de Agosto, se comemora o dia do patrono da região, com a famosa e antiga romaria de São João. O povo habituou-se a chamar à serra a “montanha sagrada”, “mágica” ou “santa”, devido à existência de inúmeras ruínas de conventos, capelas e eremitérios a indicar que ali viveram eremitas, religiosos ou penitentes, que escolheram aquele lugar pelo seu isolamento. A capela de São João de Arga, cercada de enormes blocos graníticos localiza-se num planalto da serra, local onde se celebra a festa ao Santo Percursor no dia da sua degolação (a 29 de Agosto), com os romeiros a chegarem a pé, pois só assim se alcançava o santuário. Mas o difícil acesso nunca dissuadiu os romeiros, vindos dos concelhos vizinhos, a subirem pelos carreiros da serra. A caminhada era feita ao som da concertina, do tambor, dos ferrinhos, das pandeiretas, cantando e dançando. As mulheres com a merenda à cabeça trazida em cestos cobertos por toalhas brancas bordadas e franjadas – chamadas “toalhas da romaria”. Os homens de mais idade continuam a cumprir a tradição de levarem uma pena de pavão colocada entre uma fita e o chapéu, como sempre foi hábito. Actualmente só as mulheres dos concelhos vizinhos continuam a cumprir a tradição de levarem as cestas com a merenda. Também apenas dos concelhos vizinhos se vê gente a pé à romaria, quase sempre em cumprimento de promessas. As mulheres, receosas dos caminhos, vestiam um fato domingueiro para o caminho e subiam descalças, guardando as chinelas e o fato de festa para quando alcançassem a romaria. Os homens vestiam os fatos “de ver a Deus” pretos ou escuros e carregavam na ponta de uma vara os garrafões de vinho. Os trajes regionais minhotos estão a ser, actualmente recuperados pelas raparigas. A romaria de São João de Arga, era conhecida principalmente pelo suas danças, cantares e pela beleza típica dos trajes das romarias. Aqui se mostrava o vira, a rosinha, a tirana, o regadinho, o fandango, a cana-verde, a gota ou o malhão acompanhados do colorido dos trajes, da alegria e da festa das gentes. As músicas e as danças juntavam-se ao redor do santuário, e com as orações faziam a romaria de São João de Arga uma das mais concorridas e tradicionais da região do Minho. Hoje são poucos os tocadores, mas para que a tradição não se perca, ao princípio da tarde do dia 28, o Rancho Folclórico de Dem inicia o percurso a pé por antigos atalhos, cantando, dançando e tocando as concertinas. As festas têm lugar no Mosteiro de São João Baptista, mandado edificar por São Frutuoso (bispo de Braga), com data final de construção no ano de 661. O povo começou a reunir-se na capela do mosteiro aquando da romaria de São João das Cerejas, a 24 de Junho e a 29 de Agosto. A romaria em torno de São João de Arga, começa pela manhã do dia 28, com a chegada das bandas filarmónicas. A meio da tarde sai a procissão, antecedida do sermão celebrado no santuário, seguindo-se o cortejo. No final da procissão era costume celebrar-se na capela algumas missas e sermões encomendados em cumprimento de promessas. Galinhas, ovos, cebolas, azeite e outros bens da terra eram oferecidos e leiloados depois. As promessas em dinheiro e as voltas penitentes a pé ou de joelhos, em redor da capela (geralmente nove voltas) continuam a ser usuais. Outra promessa que ainda se mantém, consiste em ir em silêncio com um cravo ou um raminho de oliveira entre os dentes, sinal de que ninguém deve falar ao penitente. A tradição de oferta de sal (símbolo de baptismo e início de vida) feita a São João baptista, considerado nesta região um santo advogado contra todos os males, constitui a promessa mais tradicional e característica desta romaria. Uma outra prática mágico-religiosa que continua a verificar-se consiste na utilização, pelos devotos, de dois crucifixos de madeira que se encontram no altar da capela. Os crentes tocam a imagem do santo com um dos crucifixos e beijam depois a parte da cruz que tocou a imagem. Este ritual costuma ser praticado por três vezes. No segundo dia das festas celebra-se a eucaristia e acompanha-se uma segunda procissão. Depois, a pouco e pouco, os romeiros regressam a casa, lembrando as horas de convívio e o dever cumprido das promessas e orações. A tradição ainda se quer manter, pois a fé ao padroeiro São João Baptista não se esgota.