Lisboa: Cardeal-patriarca sublinha ligação entra a vida do Padre Cruz e o Papa Francisco (c/vídeo)

«Até a canonização vem mais depressa», refere D. Manuel Clemente

Lisboa, 17 dez 2020 (Ecclesia) – O cardeal-patriarca de Lisboa disse que, se o Papa Francisco “tiver acesso direto” às informações do processo diocesano supletivo de beatificação do Padre Cruz (1859-1948), “se reconhecerá muito nele”.

“Se o Papa Francisco tiver acesso, entre tantos documentos que lhe chegam, e disponibilidade, para ler alguma coisa do que vai para Roma sobre o Padre Cruz vai-se achar perfeitamente em casa e até a canonização vem mais depressa”, disse hoje D. Manuel Clemente, num painel sobre a vida e obra do sacerdote, cujo processo de canonização segue agora para a Santa Sé.

O cardeal-patriarca de Lisboa contextualizou que no primeiro documento que o Papa Francisco dirigiu à Igreja, “retomando aquele tema da ‘nova evangelização’ lançado pelo Papa São João Paulo II, diz a certa altura: A nova evangelização hoje é por os pobres no centro”.

“Foi exatamente isso que fez o Padre Cruz. Creio que se o Papa Francisco tiver acesso direto a estas informações que agora lhe são oferecidas no processo diocesano sobre a vida do Padre Cruz se reconhecerá muito nele. Não só porque o Padre Cruz nos últimos anos pertenceu à Companhia de Jesus, mas também e sobretudo pela grande coincidência que há na maneira não só de viver, mas propor o Evangelho às pessoas”, desenvolveu.

D. Manuel Clemente lembrou que Padre Cruz a qualquer lugar que ia “o que queria visitar eram os doentes e os presos em primeiros lugar e pedia mesmo isso”, e “passou por todas as dioceses de Portugal” e “deixou um rasto de Evangelho propriamente dito”.

O cardeal-patriarca de Lisboa preside hoje à sessão de encerramento do processo diocesano supletivo de beatificação do Padre Cruz, na igreja de São Vicente de Fora; o processo segue para a Congregação para a Causa dos Santos, na Santa Sé, onde será analisado, para verificar o levantamento de informações realizado em Portugal.

No painel sobre a vida e obra do ‘Apóstolo da Caridade’, o historiador Paulo Fontes, diretor do Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa, lembrou que o Padre Cruz conheceu diferentes regimes políticos – “monarquia constitucional, implementação e primeira da república, a ditadura militar, o Estado Novo” –, e “um país que estava em grande processo de transformação a vários níveis”.

“É nesse país em mutação, em transição, por variadíssimos processos, que vai emergir esta figura, carismática, muito atenta à realidade em que se move, e que vai inaugurar ou que vai inscrever-se um tipo de apostolado que é relativamente novo”, disse o docente, que integrou a comissão histórica deste processo sobre o Padre Cruz.

Paulo Fontes destaca que o Padre Cruz conseguiu ir ao encontro dos mais necessitados, “dos pobres, dos presos, dos setores mais marginalizados, de gente que o procura em situação pessoal, social, familiar difícil”, e “beneficia com um contacto muito próximo com as notabilidades locais”.

“Trazia consigo uma integridade e autenticidade, sinceridade até, que cativava as pessoas pela sua pregação, acolhimento, palavra de conforto e ao mesmo tempo pela sua prática esmoler”, desenvolveu o historiador.

No painel sobre a vida e obra do ‘Apóstolo da Caridade’, moderado por Rita Palhinha, do Gabinete de Comunicação da Companhia de Jesus em Portugal, participou também o sacerdote Jesuíta Dário Pedroso, que é o vice-postulador da causa de canonização do Padre Cruz e esta semana foi entrevistado no programa ECCLESIA, na RTP 2.

CB/OC

Padre Cruz: «É verdadeiramente um santo que está vivo na alma e no coração do povo» – vice-postulador da causa de canonização (c/vídeo)

 

O processo que visa o reconhecimento da santidade de Francisco Rodrigues da Cruz, sj (Padre Cruz) conheceu avanços nos últimos anos: a causa teve início a 10 de março de 1951 e a fase diocesana decorreu até 18 setembro de 1965; mais tarde, “sendo necessário completar aquele processo com os elementos requeridos pelas novas normas para a instrução dos processos de canonização”, foi nomeado um novo Tribunal, em setembro de 2009.

Francisco Rodrigues da Cruz, quarto filho de Manuel da Cruz e Catarina de Oliveira da Cruz, era natural da vila de Alcochete, onde nasceu a 29 de julho de 1859; concluídos os estudos secundários, seguiu para Coimbra, onde se formou em Teologia na Universidade de Coimbra em 1880, ordenando-se sacerdote em 1882.

O Padre Cruz entrou para a Companhia de Jesus a 3 de dezembro de 1940; conhecido popularmente como ‘Santo Padre Cruz’, faleceu a 1 de outubro de 1948, aos 80 anos de idade, “numa altura em que já tinha uma vida de santidade e um apostolado intenso”, como sublinha o padre António Júlio Trigueiros, presidente da Comissão Histórica.

 

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Agência ECCLESIA

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