Comunidades eclesiais de transição para imigrantes

Encontro Nacional das Migrações decorre em Viana do Castelo João Manuel Duque desafia a Igreja Católica a construir verdadeiras «comunidades de transição» abertas a uma cultura de acolhimento e que mantenham uma relação com a cultura de origem para possibilitar uma «resposta sadia aos novos desafios da transmissão da fé» em contexto de migração. Este professor da Universidade Católica e Secretário da Comissão Episcopal da Doutrina da Fé interveio ontem no Encontro Nacional dos Secretariados Diocesanos da Pastoral de Migrações e Capelanias onde defendeu também o envolvimento da Universidade, em particular da Faculdade de Teologia na ajuda ao esclarecimento e aprofundamento cristão, do ponto de vista teológico, acerca da comunidade ortodoxa porque acerca das outras confissões cristãs «este trabalho de aprofundamento já está mais adiantado». Para João Duque é o próprio cristianismo que pode sair reforçado e rejuvenescido na sua «ortodoxia» uma vez que aquela Igreja comunga muito do Padres orientais das origens do catolicismo. Intervindo sobre a «transmissão da fé em contexto migratório» e dada a sua estadia de vários anos na Alemanha, salientou que estas comunidades de transição permitiriam construir «comunidades de pertença reais, com identidade e cultura» para que «a transmissão da fé continue pertinente para as gerações seguintes». Uma das principiais problemáticas da actualidade é esta «crise de transmissão», seja de valores ou de tradições que se receberam. Como a fé não advém de uma «pertença étnica» ressente-se deste contexto cultural global. Não se pode desvalorizar esse contexto, salientou, porque tem um papel «importante» na «vivificação ou na morte» de uma fé ou uma tradição. Neste quadro em que se coloca em causa o valor de transmitir o que se recebeu e de acolher, a família ressente-se já que ao longos dos anos tem funcionado como uma espécie de mediação entre o «contexto cultural global e a pessoa que está a desabrocahar para a vida». Ironicamente referiu que «não se trata da crise do Espírito Santo, mas da nossa crise relativamente à transmissão» muito mais sentido em contexto de desenraizamento social fruto da migração. Nesta altura em que todos vivem cada vez mais igual, o global ou «desfaz as tradições» ou «dá-se a afirmação da tribo» numa reacção agressiva, mas em ambos os casos o final é uma cada vez maior desintegração. João Duque não duvida que a «vivência da fé e a pertença à comunidade religiosa ajuda à integração social e cultural». Abordando a questão da “teologia dos sacramentos nas várias confissões cristãs”, João Duque defende que, do ponto de vista pragmático, « benéfico para as comunidades cristãs»perceberem como entendem, em particular, os sacramentos do Baptismo e da Eucaristia as outras tradições, «aprendendo o valor da ritualidade e da beleza litúrgica». O aprender com aqueles que acolhemos, «mesmo na sua condição de minoria» foi um aspecto que muito acentuou na sua intervenção sublinhando que isso faz crescer e superar o orgulho. Encontro ecuménico O primeiro dia de trabalhos do Encontro Nacional dos Secretariados Diocesano das Migrações e Capelanias terminou com um tempo ecuménico de oração presidida pelo Bispo de Viana do Castelo e que contou com a presença de um Bispo Anglicano e outro Ortodoxo. Para o Prelado anfitrião do encontro as novas «feições da mobilidade» trouxeram a questão da interconfessionalidade que é uma novidade para os católicos do Alto Minho. D. José Pedreira sublinhou que «a nossa gente tem de aprender a por em prática» as orientações do Vaticano II a este respeito, que passa pela «aprendizagem de uma nova linguagem em senti ecuménico». Uma linguagem que se caracteriza por ser muito «fraterna» e que leva à «ajuda mútua». A título de exemplo do quanto há para caminhar, disse que a confissão Anglicana solicitou à Diocese de Viana do Castelo um espaço para celebrar, um problema que não está ainda resolvido porque «os cristãos não entendem os imigrantes», nem as suas práticas de fé. D. Fernando Soares, o Bispo Anglicano do Conselho Português das Igrejas Cristãs (COPIC), organismo que representa cerca de 15 mil fiéis em Portugal, interveio neste encontro para falar do “lugar da Palavra de Deus nas Igrejas Reformadas e a sua compreensão do baptismo”. Este Prelado começou por sublinhar que o reconhecer que em torno do baptismo existe um «santo consenso» e que o «reconhecimento público mútuo», oficializar o que na prática já acontece, «será um passo importante no caminho do ecumenismo» em Portugal. Relativamente à Palavra de Deus, D. Fernando Soares sublinhou que é nela que está o «depósito da vida e das consolações» que exige a «escuta na intimidade de uma leitura saboreada», advertindo contudo que «Deus não é uma solução a encontrar, mas um mistério a descobrir». Vincou bem que a Palavra de Deus, entendida como os textos inspirados, é livre iniciativa de Deus e contém «todas as coisas sagradas necessárias para a salvação». O Bispo da Igreja Ortodoxa Grega do Patriarcado Ecuménico de Constantinopla sublinhou que a Eucaristia é o «fundamento da Igreja» e que sem aquela «é impossível a salvação». A salvação é entendida como o «reiniciar» do processo de comunhão da pessoa com Deus, por isso estar em Igreja significa participar na «fracção do pão e na bênção do cálice» através da qual todos se tornam num só. Em cada Eucaristia, disse D. Hilarion Rudnyk, «não temos a reprodução ou repetição» do sacrifício de Cristo na cruz, mas «a sua continuação», «é o mesmo sacrifício de Cristo que se entrega». O Prelado Ortodoxo lamentou que haja quem tenha medo de aprofundar o diálogo ecuménico por causa da identidade ou por ter de abdicar de coisas consideradas fundamentais. «Isto não é verdade, já que a união dos cristãos não pode acontecer sem Jesus Cristo, Ele que é a verdade», concluiu D. Rudnyk. O encontro prossegue hoje com a definição de prioridades, metodologias e estratégias comuns para a Pastoral das Migrações, cujo Plano Nacional 2006-2008 vai estar em discussão.

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