Fazer da evangelização a expressão e o anúncio da caridade

Conferência do Cardeal-Patriarca de Lisboa no Dia da Igreja Diocesana 1. O tema desta minha intervenção na celebração do Dia da Igreja Diocesana, é o objectivo fundamental do Programa Diocesano de Pastoral, agora tornado público. No ano pastoral que agora finda, o Programa de Pastoral da diocese identificou-se com o Congresso Internacional para a Nova Evangelização, a sua preparação e realização e o tomar consciência das interpelações e linhas de força que ele lançou à comunidade diocesana para o cumprimento da sua missão. Retomamos agora a publicação de programas pastorais e este, o primeiro depois do Congresso, só pode ser a indicação dos caminhos de fidelidade às interpelações que o Congresso nos deixou. Já depois dele, a Igreja foi sacudida com uma outra interpelação, a do Santo Padre na Carta Encíclica “Deus é Amor”, que nos convida a fazer da caridade, vivida e praticada e não apenas proclamada, o princípio inspirador de toda a acção pastoral da Igreja. Não poderíamos ignorar esta Palavra do Papa, aliás convergente com as interpelações do Congresso, pois toda a acção da Igreja deve ser expressão da caridade e busca da caridade, quando celebra os mistérios da fé, quando anuncia a Palavra, quando concretiza, no realismo da vida e das situações, o mandamento do amor fraterno. Amar sempre, aprender a amar, anunciar o amor e ensinar a amar, é o objectivo perene da missão da Igreja. 2. Se é assim, para quê Programas de Pastoral? O Santo Padre João Paulo II, na Carta Apostólica “No início do Novo Milénio”, em que encaminha a Igreja para tirar todas as consequências pastorais de um outro grande acontecimento, o “Grande Jubileu do Ano 2000”, diz que o programa pastoral da Igreja é Jesus Cristo (cf. NMI, 29). Essa é a missão da Igreja: anunciar Jesus Cristo, edificar um Povo de crentes, que se identifica com o Seu próprio corpo, que há-de viver, já neste mundo, a densidade do amor-comunhão, que se exprime em plenitude na comunhão trinitária, e faz da Igreja na vivência mesma da caridade, um Povo peregrino dessa mesma plenitude. Como afirma o Concílio Vaticano II, “assim a Igreja Universal aparece como um povo que tira a sua unidade da unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (L.G. n. 4). Misteriosa e vasta, a missão da Igreja abarca toda a realidade do homem e da história. É justo e necessário que, em cada tempo, tendo em conta as circunstâncias peculiares da sociedade e da Igreja, esta planeie a sua missão pastoral, estabelecendo prioridades e modos de agir, lendo os “sinais dos tempos”, isto é, discernindo as aberturas ao Evangelho e à fé, próprias de cada momento da história, mobilizando pessoas e meios para a sua missão. É preciso reconhecer que o hábito de programar a acção pastoral de certo modo se “tecnicizou”, sob a influência das modernas teorias das organizações, onde o traçar de objectivos a alcançar, garantir os recursos, pessoais, materiais e técnicos para os atingir, guardam o segredo do seu crescimento e sucesso. Nessas teorias das organizações, a avaliação da execução dos programas, e a adaptação dos meios que se mobilizaram, são igualmente importantes para garantir o sucesso. É inegável que a Igreja é, nesse sentido, uma grande organização e que pode aprender dessa teoria das organizações, a definir objectivos para a sua acção, a potenciar os meios, humanos e outros, de que dispõe para a sua consecução e a saber avaliar a execução dos seus programas. Mas ao programar, é preciso não esquecer que a Igreja é uma organização peculiar: a principal força de que dispõe é Cristo ressuscitado, que no-la comunica através do dom permanente do Seu Espírito, que não é facilmente mensurável. Nenhum objectivo traçado pode ser rigorosamente sectorial, pois tem de abranger sempre a totalidade do mistério da Igreja. Se Cristo é o programa pastoral da Igreja, todos os programas têm de ter a dimensão de Jesus Cristo. Nas organizações humanas, o sucesso dos seus programas depende, em grande parte, da qualidade do factor humano, da sua preparação e mobilização entusiasta para a realização dos objectivos traçados. Este elemento da teoria das organizações é válido para a Igreja. É nessa dinamização do elemento humano, os “agentes da acção pastoral”, que o elemento transcendente da acção do Espírito é decisivo, pois a verdadeira dimensão da estatura de Jesus Cristo define-se, antes de mais, no coração dos cristãos. É por isso que a caridade é o dinamismo mobilizador de toda a acção pastoral da Igreja. 3. O objectivo fundamental escolhido para a nossa programação pastoral no post-Congresso, “fazer da evangelização a expressão e o anúncio da caridade”, põe em relevo, como não podia deixar de ser depois de um Congresso sobre a “Nova Evangelização”, a missão evangelizadora da Igreja. Mas ao considerar a evangelização como expressão e anúncio da caridade, essa missão à totalidade do mistério da Igreja, na consciência de que a autêntica expressão da Igreja é evangelizadora, porque é anúncio e testemunho, e anunciar a fé é expressão de amor a Deus e aos irmãos. É isso que distingue a missão evangelizadora da Igreja de qualquer “marketing” de propaganda ou proselitismo. Por isso, todo o Programa, nos vários objectivos sectoriais, é para ser realizado ao mesmo tempo, na totalidade da Igreja Diocesana, ainda que seja justificável que certos Departamentos e Serviços, Paróquias ou Movimentos, desenvolvam mais uns aspectos do que outros. É porque cada um desses objectivos faz parte do todo da Igreja, mas não é a Igreja toda. Desenvolverei, de seguida, os principais aspectos deste objectivo que nos propusemos, na sua dinâmica de acção, na Igreja que somos, na sociedade em que estamos inseridos, com os meios de que dispomos. O anúncio da fé: a pastoral querigmática 4. É, desde o início, a primeira concretização da missão evangelizadora da Igreja. Esta é um Povo de discípulos de Jesus ressuscitado, aqueles que acreditam que Jesus está vivo, porque ressuscitou dos mortos e inaugurou, já neste mundo, a plenitude da vida. O Cristianismo, como tradição evangélica, pode ser uma religião. Mas só é verdadeiramente revolucionário, fundador de uma total transformação da vida, para aqueles que acreditam que Jesus está vivo no meio do Seu Povo, ressuscitou para que tenhamos a vida em abundância, e estabelece connosco uma relação de amor, a do Bom Pastor que conhece as suas ovelhas e a quem as ovelhas reconhecem. O anúncio de que Cristo está vivo é o testemunho de uma experiência vivida e libertadora. Foi assim para os primeiros discípulos, a quem o Senhor ressuscitado se manifestou; foi assim, ao longo de dois mil anos, quando os cristãos que vivem a experiência dessa presença e desse convívio o testemunham com alegria. O anúncio querigmático não é uma primeira alínea de um programa pastoral; é o testemunho de uma experiência, que parte da abertura da própria intimidade num diálogo confiante. É por isso que ele toca os corações. São hoje muitos, dentro da Igreja e fora dela, aqueles e aquelas que ainda não abriram o seu coração a esta realidade inaudita de Cristo vivo, a conviver com o Seu Povo e com cada um dos seus membros. Basta pensar nessa multidão imensa dos que foram baptizados em criança e a quem nunca ninguém deu esse testemunho convincente de Cristo ressuscitado. Aliás esse testemunho, simples e sincero, expresso mais em atitudes do que em palavras, não é importante apenas no início da fé. Todos nós, que em comunidade procuramos viver, cada vez mais profundamente, a nossa fé em Cristo vivo, somos fortalecidos, nessa caminhada de fé, pelo testemunho dos irmãos e sempre pelo testemunho da Igreja. A fé da Igreja é sempre o estímulo que nos fortalece. 5. Esta atitude querigmática é, entre todas as expressões da realização da missão da Igreja, a mais dificilmente programável. Ela acontece ao ritmo do imprevisível da vida. Uma coisa é certa: quando um cristão vive sinceramente esta relação de fidelidade com Jesus Cristo, o Vivo, semeia à sua volta as sementes da vida, e, por vezes, os outros interpelam-no sobre as suas razões de viver. Podemos preparar indirectamente este anúncio, abrindo os cristãos para a ousadia do testemunho. Aliás toda a vida do cristão, como aliás as atitudes da Igreja deveriam ser um testemunho. É por isso que a Igreja é um sinal sacramental. Sabemos que nem sempre assim foi e nem sempre assim é. Por vezes a Igreja empobrece-se a si mesma com a pobreza das suas atitudes. É por isso que sempre, antes de celebrar a Eucaristia, ela se assume como pecadora e penitente. No dia a dia da acção pastoral da Igreja, há momentos em que esta qualidade testemunhal deve ser especialmente cultivada, dando testemunho desta convivência com Cristo, manifestação do amor, em tudo o que fazemos na Igreja, em nome da Igreja: quando celebramos a Eucaristia, quando anunciamos a Palavra, quando damos catequese, quando ajudamos os irmãos. Mas, sobretudo, ao fazer das situações de acolhimento ocasiões simples de anúncio da nossa fé em Cristo ressuscitado. Quando as pessoas pedem o baptismo para os seus filhos, quando os noivos pedem o sacramento do matrimónio, quando os pais inscrevem os filhos na catequese, quando as pessoas enlutadas batem à porta da Igreja, sempre que alguém aflito procura uma palavra de orientação ou consolo. Quem acolhe em nome da Igreja tem de ser testemunha da ressurreição. Aprofundamento da fé que leve à relação de amor com Deus e com os irmãos 6. Situa-se aqui o essencial da missão da Igreja: fazê-la crescer como experiência de comunhão. A grande novidade pascal, que a Sagrada Escritura designa com várias expressões como “vida nova”, “homem novo”, “nova criação”, “nascer de novo”, consiste na possibilidade dos discípulos, pessoalmente e em comunidade, participarem no amor do Pai e do Filho, no Espírito Santo. Conduzida pelo Espírito, a Igreja é um mistério da caridade, porque fazendo-se um com Cristo, abre-se progressivamente ao mistério do amor de Deus. Os caminhos deste crescimento na fé e no amor situam-nos no essencial da acção pastoral da Igreja. * A escuta da Palavra. A Palavra de Deus deve ser proclamada e acolhida como uma manifestação do amor de Deus pelo Seu Povo. Só um Deus que ama se revela. Proclamá-la em nome de Deus e da Igreja é já deixar-se envolver por esse dinamismo de amor. É a caridade, amor de Deus pelos homens, que leva a Igreja a nunca desistir de proclamar a Sua Palavra, a tempo e a contra tempo. Todos os servidores da Palavra, leitores, diáconos, sacerdotes, devem estar possuídos da urgência e exigência do amor. Só ele os levará a procurar a qualidade no exercício do seu ministério. * A catequese. O cristão, desde o momento em que acreditou na ressurreição de Jesus e entrou na Igreja, pelo baptismo, estará até ao fim da sua vida em estado de catequese. Esta vai da iniciação à experiência da vida nova e ao seu aprofundamento contínuo, que culminará no dom da própria vida a Deus e aos irmãos, cume da caridade, a que normalmente chamamos santidade. É uma experiência esclarecida e esclarecedora, pois só quando a fé se torna sabedoria e se transforma em cultura, ilumina a liberdade. A iniciação à vida da graça supõe a estruturação progressiva de uma racionalidade crente. * A oração. O crescimento na vida da fé supõe, necessariamente, a iniciação à oração. É nela que Deus se revela ao mais íntimo do coração e se manifesta com o ardor do Seu amor. A oração é, na vida do cristão, o lugar da caridade. Uma pastoral de descoberta da oração é um grande desafio que se apresenta à Igreja de Lisboa. Tendo em comum para todos a adoração e a escuta de Deus, abrindo-se ao Seu amor, a oração pode revestir-se de dinamismos e dons particulares segundo a idade, o sexo, a situação, a missão. A oração das crianças tem a candura e a simplicidade de um coração puro; a oração da mulher pode ser potenciada pela sua capacidade natural de reduzir a vida ao amor; a oração das pessoas casadas tem o sabor de uma vida vivida em comunhão de amor; a oração dos doentes pode exprimir a radicalidade do dom e a confiança de quem se abandona totalmente ao amor de Deus. * A liturgia. É a oração comunitária da Igreja. Nela sente-se, como nunca, que Cristo Vivo faz parte da Igreja e está no meio do Seu Povo, e reza com ele ao Pai. Aí a oração é entrega de tudo a Deus, tornada possível pela entrega perene de Cristo ao Pai. A liturgia é a fonte de toda a caminhada pessoal na oração. A caridade fraterna 7. A caridade que anima a Igreja exprime-se, necessariamente, no amor fraterno. Viver em comunidade é dar densidade à comunhão de amor. Ninguém está triste que não soframos com ele, ninguém está sozinho, que não vamos ao seu encontro; ninguém está em necessidade, que não partilhemos com ele o que temos; ninguém está desorientado ou em tentação, que não vamos ao seu encontro. No Patriarcado de Lisboa, a prática da caridade neste sector exige dos cristãos, fundamentalmente, duas atitudes: a partilha de bens e disponibilidade de tempo e de coração para acolher e ir ao encontro das pessoas que sofrem. Nem todas as necessidades dos nossos irmãos, mesmo dos pobres, se resolvem com dinheiro. Sinto que há já uma grande disponibilidade dos cristãos de Lisboa para a partilha de bens. É preciso aprofundar a disponibilidade para o apoio humanitário, a pessoas idosas, sozinhas, doentes, nos hospitais e cadeias etc. É preciso suscitar o sentido de vizinhança atenta, porque muitas pessoas não são ajudadas porque a sua situação não é conhecida. Os vizinhos devem ser intermediários entre as pessoas que precisam de apoio e a comunidade. A pastoral da caridade está, na nossa Diocese, organizada. Grandes instituições da Igreja, como são os Centros Sociais Paroquiais, as Misericórdias, a Comunidade Vida e Paz, e outras, garantem a eficácia das comunidades cristãs no apoio aos necessitados. Aí, o desafio é o da formação permanente dos agentes dessas instituições, para que sejam, não apenas tecnicamente competentes, mas possam encarnar o amor da Igreja pelos necessitados. Fortalecer todas as estruturas de comunhão 8. Na execução de um Programa de Pastoral, centrado na caridade, é preciso apoiar e reforçar as estruturas humanas e eclesiais que encontram na comunhão de amor e de serviço, a sua verdade e a sua razão de ser. Trata-se de sublinhar a dimensão existencial da caridade. Entre elas a acção pastoral prestará particular atenção: * À Paróquia. Continua a ser a comunidade de referência da Igreja comunhão. A caridade vivida é a força que a congrega e dinamiza. Na Paróquia a fé torna-se, necessariamente, caridade. A Eucaristia é a principal expressão e o foco irradiador dessa vivência do amor. Na verdade mais profunda da Igreja, só uma comunidade unida na caridade pode celebrar, com plenitude de sentido, o sacramento da Ceia do Senhor. O mandamento novo “amai-vos uns aos outros como Eu vos amei” é, na Paróquia, um desafio contínuo. Para a Paróquia convergem e aí encontram força, as outras estruturas da comunhão. A família, “Igreja doméstica”, recebe aí a força e o estímulo para a sua experiência específica de comunhão; através do Pároco, os fiéis participam e estão unidos ao presbitério, que é uma experiência de comunhão estruturante da Igreja particular; os movimentos ao fazerem uma experiência de comunidade, contribuem e são sinal da vida em comunhão da Paróquia. Por outro lado, a Paróquia, na variedade das suas actividades e vivência da missão, exprime as diversas concretizações da caridade: a celebração litúrgica e a oração assim como o serviço da comunidade humana onde os cristãos dão testemunho da caridade que os une. A Paróquia como realidade de comunhão e de serviço será, cada vez mais, a principal expressão da visibilidade da Igreja no mundo e, por isso mesmo, também da missão da Igreja na sociedade. * À Família. A criatividade na pastoral familiar é das maiores exigências da nossa programação pastoral, dada a centralidade decisiva da família na Igreja e na sociedade. É preciso salvar, na sociedade contemporânea, a compreensão da família como comunhão de amor. Na família concentram-se, na sua riqueza e complexidade, todas as grandes expressões da caridade: a intimidade partilhada, a diferença assumida como riqueza, a fecundidade como expressão da generosidade do amor, a força da natureza e a beleza da graça. A família cristã, para ser expressão da caridade, tem de fazer um longo caminho que significa a passagem de uma natureza fragilizada pelo pecado, à vivência da realidade nova da vida em Cristo ressuscitado, que não anula a natureza, mas a corrige, ajuda e plenifica. Como o Santo Padre Bento XVI afirma na sua Encíclica, este é o caminho que leva do “eros”, o amor sexuado com a força e a beleza que lhe são originais, ao amor caridade (agapê), que não anula a sexualidade, antes lhe revela o seu sentido pleno. Isto só é possível através da evangelização contínua do amor. É que a beleza desse sentido novo do amor humano tem de ser continuamente revelado, e só se atinge, não com a força da natureza, mas com a força do Espírito, que faz dele a expressão do amor de Jesus Cristo. Por outro lado, a família tem sofrido o efeito das grandes alterações sociais e culturais: a mulher no trabalho; um urbanismo concebido segundo as regras e exigências do mercado e do lucro e não segundo as vantagens da comunidade familiar; a erosão dos valores da generosidade, da fidelidade, da pureza e simplicidade do coração; as exigências e custos da maternidade/paternidade, etc. A pastoral da Igreja não pode limitar-se a propagar um ideal de vida familiar que a muitos, por parecer inalcançável, deixa de interessar como objectivo a atingir. Tem de dirigir-se à família concreta, no realismo das suas dificuldades culturais, económicas, sociais. * A outro tipo de comunidades. Há muitos cristãos que optaram por viver a dimensão comunitária da caridade, não apenas na paróquia e na família, mas noutro tipo de comunidades, normalmente reunidas à volta de um carisma próprio e de uma visão concreta da missão. São muitas estas comunidades: a imensa variedade das comunidades religiosas, de Institutos Seculares, de Movimentos que valorizam a dimensão comunitária da vida cristã. São uma riqueza imensa e indispensável numa Igreja que se quer afirmar pela força da comunhão. A atitude pastoral da diocese vai na linha de reconhecer e ajudar a viver a especificidade do carisma de cada uma, levar toda a Igreja a considerá-las como uma expressão da comunhão eclesial e uma força para a missão. * Ao Presbitério. O Bispo e os Sacerdotes formam uma estrutura de comunhão peculiar, fonte eficaz e inspiradora de toda a comunhão eclesial. A caridade que brota do dom do sacerdócio de Jesus Cristo à Igreja é a força de coesão do Presbitério, caridade que não engloba apenas os seus membros, mas todo o Povo de Deus, pois na Eucaristia a que presidem, realizam e exprimem a comunhão da Igreja na caridade. No seio da comunidade cristã, o sacerdote, antes de exercer uma função específica, é um mistério. Esta coesão do Presbitério como mistério de comunhão que abraça toda a Igreja, é um caminho nunca completamente percorrido. Estou profundamente convencido que da vivência deste mistério, pelos sacerdotes e por toda a comunidade eclesial, brotarão vocações sacerdotais. Uma espiritualidade abrangente 9. Fazer da caridade a força condutora e inspiradora de toda a acção pastoral, supõe uma espiritualidade abrangente. Ao falar de espiritualidade, refiro-me àquela interpretação espontânea da nossa vida, em Igreja, que enquadra e dá sentido às opções, às actividades, à análise dos problemas, que leva cada cristão, em cada momento, a agir e reagir, não individualmente, mas como membro da Igreja; a sentir, em cada circunstância que é mais do que ele mesmo, que é a Igreja a que pertence. Só a caridade fundamenta uma espiritualidade, a caridade praticada e não apenas afirmada. Ela é fruto natural da caridade vivida, mas pode ser cultivada explicitamente, na formação, no espírito com que se abraça cada missão, na oração pessoal e em comunidade. Sobretudo os cristãos mais comprometidos na acção pastoral devem procurar momentos fortes em que se cultive e aprofunde essa espiritualidade. Ela coincide, no fundo, com o “espírito de Igreja”, o “sentir com a Igreja”, que nos faz sentir a Igreja como a nossa casa, a família a que pertencemos, com quem percorrermos os caminhos da vida, até nos reunirmos um dia na Casa do Pai. Parque das Nações, 10 de Junho de 2006 † JOSÉ, Cardeal-Patriarca

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