Lusitanidade: um sentir-se em casa no mundo

Mensagem do presidente da Comissão Episcopal da Mobilidade Humana para o dia 10 de Junho 1. No dia 10 de Junho os portugueses celebram o seu dia, numa atitude de sadia alegria e gratidão por aquilo que são, não apenas pelo que têm em comum com todos os outros povos, mas também pelas suas peculiaridades, que fazem da lusitanidade uma característica própria deste povo que somos. Como Presidente da Comissão Episcopal da Mobilidade Humana, em nome da Igreja que peregrina em Portugal, saúdo todos os portugueses e seus descendentes em diáspora pelo mundo e solidarizo-me com cada um, seja qual for a sua situação de vida, de sucesso ou insucesso, cristão ou não, para que nunca tenhamos vergonha de mostrarmos aquilo que no fundo somos: um povo com uma cultura solidária, universal, aberta ao mundo e uma língua falada em todos os continentes por povos irmãos. 2. Nestes dias o mundo vai estar concentrado no Campeonato Mundial de futebol, na Alemanha, e os nossos emigrantes vão apoiar e estimular, como ninguém, a nossa selecção, para obter um bom resultado neste desporto que se tornou uma linguagem universal da convivência entre os povos. Mas, a nossa identidade não é de agora, nem se reduz apenas a essa faceta. Na verdade, a característica mais arraigada na nossa mentalidade e história secular provém dos quase dois mil anos de ligação ao Evangelho de Jesus Cristo, com os seus valores e critérios que cimentam a unidade do nosso povo e contribuem para a solidariedade universal, tão própria da Comunidade Portuguesa, onde quer que se encontre. O brio e até orgulho naquilo que nos caracteriza, não nos afasta dos outros, mas antes nos predispõe a colaborar com todas as nacionalidades e religiões e a contribuir para o bem comum da humanidade inteira. 3. Com o Escritor sagrado do Pentateuco apetece-me também exclamar “onde existe um povo com características tão sublimes como o nosso”, cujas raízes mergulham geneticamente na matriz cristã da nossa cultura e identidade? Isto verifica-se através de muitos sinais, que tocam o coração dos portugueses, onde quer que se encontrem. Quando em 1966 cheguei à Alemanha, jogava-se o campeonato mundial de futebol na Inglaterra e os alemães, ao saberem que eu era português, falavam-me de Eusébio, o melhor marcador desse campeonato; outros falavam-me de Fátima e outros ainda de Amália Rodrigues, do fado. Com efeito, muitos não sabiam onde ficava Portugal ou até ignoravam a sua existência como país, mas esses três nomes enchiam-nos de admiração por Portugal e pelos portugueses que na Alemanha, como acontecia com todos os estrangeiros imigrantes, éramos considerados “trabalhadores hóspedes”. 4. Entretanto, com o devir do tempo e com a evolução sócio-politica, esses fenómenos mudaram, mas Fátima mantém-se. As maiores peregrinações dos portugueses no mundo – algumas em países fortemente secularizados e descristianizados – giram à volta da mensagem de Nossa Senhora de Fátima. Mesmo os menos religiosos ou “praticantes” não deixam de sentir um grande amor à sua terra e à sua identidade lusitana, quando se congregam em comunidade de fé e de língua à volta da imagem da Branca Senhora que veio pedir a Paz. Tenho vivido esta experiência em Portugal e em muitos países onde presidi a peregrinações das Comunidades Portuguesas aos santuários locais. Algumas delas são as maiores manifestações públicas de fé testemunhadas pelas igrejas que acolhem os portugueses e seus descendentes. Cada vez mais a Virgem de Nazaré honrada pelo nosso povo se torna a mãe de todos os povos. 5. Isto leva-me a afirmar, em ano de celebração do 90º aniversário, que Nossa Senhora de Fátima veio acordar-nos para aquilo que nos define e toca o nosso coração: a nossa identidade cristã e a nossa ligação afectiva a Maria. O saudoso Papa João Paulo II, defensor dos migrantes e refugiados, dizia-se “todo de Maria”. Nós portugueses afirmamos: Portugal é terra de Santa Maria, que significa terra de todos os seus filhos muito amados! Por isso, neste Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, a Ela confio todos os portugueses e lusodescendentes espalhados pelo mundo – oriundos do Continente e das Regiões Autónomas – para que vivam muito unidos entre si, continuem a enriquecer a sociedade e a igreja locais com os nossos valores humanistas e cristãos, e profundamente enraizados na lusitanidade que nos faz sentir em casa em qualquer parte do mundo, porque cidadãos do mundo, peregrinos a caminho da pátria universal no Céu. Beja, 06 de Junho de 2006 † António Vitalino, Bispo de Beja

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