Património: Fogo destruiu antigo Seminário de Santa Teresinha, dos Vicentinos, em Felgueiras

Padre José Alves salienta que se perdeu um «memorial à tenacidade, à força de vontade»

Foto: Congregação da Missão – Padres Vicentinos

Lisboa, 28 jul 2020 (Ecclesia) – O padre José Alves, antigo provincial da Congregação da Missão (Vicentinos) em Portugal, lamentou a destruição do antigo Seminário de Santa Teresinha, consumido num fogo, na noite de 25 para 26 de julho.

“Era um memorial à tenacidade, à força de vontade. A primeira coisa que se perde é esse memorial de homens que acreditavam numa obra e, por isso, faziam tudo por tudo para que ela se concretizasse”, disse hoje o sacerdote à Agência ECCLESIA.

O padre José Alves recorda que o seminário começou a ser construído em janeiro de 1928 e é o resultado de uma “força interior de dois homens que, após a espoliação de todos os bens da congregação após a República, achavam que não era justo deixar morrer a obra e 18 anos depois começam a província portuguesa da Congregação da Missão com a construção deste edifício”.

O antigo Seminário de Santa Teresinha, que pertenceu à Província Portuguesa da Congregação da Missão e foi vendido em 1988,  passando depois por vários proprietários; o edifício, na aldeia de Burgo, Freguesia de Pombeiro, em Felgueiras, encontrava-se devoluto.

O Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) do Porto informou que “ardeu na totalidade”, “sem vítimas a registar.

Foto: Congregação da Missão – Padres Vicentinos

Os Vicentinos lamentaram também a perda dos vitrais e dos altares da capela, “com mobiliário em pau-brasil, que ali permaneceram após o encerramento e venda do seminário, numa mensagem divulgada através da sua página na rede social Facebook.

O padre José Alves, que estudou no Seminário de Santa Teresinha entre 1964 e 1967, considera que “há uma perda afetiva muito grande”, sobretudo para antigos alunos, não só “sacerdotes, mas muita gente que hoje está espalhada pelo país”.

O sacerdote assinala que pertence à “mudança”, isto é, “ao grupo que saiu” deste seminário para ir para o Instituto Superior de Teologia em Lisboa, e foi o “94.º sacerdote que se ordenou a partir do Seminário de Santa Teresinha”, em 1970, na atual Arquidiocese de Maputo (Moçambique).

“Deixou memórias positivas, naturalmente que nos faltava o conhecimento do mundo urbano, mas havia outros aspetos muito positivos, sobretudo o contacto com a natureza, o contacto com a gente do campo e apreciar os seus costumes, as suas tradições”, desenvolveu.

O padre José Alves lembra que esta casa da Congregação da Missão começou por ser seminário menor e, depois seminário maior, até 1967, tendo sido “ininterruptamente escola de formação sacerdotal” onde se formaram 95 sacerdotes.

O entrevistado salienta que o seminário foi “uma espécie de inovação” e “serviu a sociedade, facilitando o crescimento cultural”, dado que a população tinha acesso ao telefone, à rádio, televisão e cinema.

O padre José Alves destaca também o acesso aos estudos “numa altura em que o ensino liceal era só para pessoas que tivessem posses económicas, o que era raro”,

Foto: Congregação da Missão – Padres Vicentinos

“Este seminário forneceu muitos outros elementos não só à Igreja mas também à sociedade: professores universitários, mas sobretudo muita gente para a administração pública, para os correios, professores, advogados”, acrescentou o sacerdote que foi o responsável pela Congregação da Missão em Portugal em três mandatos (2004-2010 e 2016-2020).

O presidente da Câmara Municipal de Felgueiras lamentou o incêndio no antigo seminário, um “cenário dantesco”.

“Apesar da prontidão e dos esforços dos nossos magníficos bombeiros, o nosso Seminário de Pombeiro – Seminário de Santa Teresinha – foi consumido pelas chamas, deixando para trás uma imensa história”, escreveu Nuno Fonseca, na rede social Facebook onde manifestou “profundo agradecimento e reconhecimento” a quem combateu o incêndio.

CB/OC

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Agência ECCLESIA

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