«O Sagrado e as Gentes»: «Mãe Soberana», a festa que transforma Loulé (c/vídeo)

Padre Carlos Aquino fala em celebração da vida, com «dimensão profundamente religiosa»

Loulé, 24 jul 2020 (Ecclesia) – O pároco de Loulé sublinha o impacto comunitário da festa da Nossa Senhora da Piedade, a “Mãe Soberana”, e afirma que “há uma grande carga religiosa que tem de ser estudada”, nesta manifestação.

“Quando cheguei a Loulé há quatro anos ouvi muito esta expressão: ‘Pode não existir Deus, mas existe a Mãe Soberana’”, disse o padre Carlos Aquino, convidado das ‘Conversas na ECCLESIA’.

Em ‘O Sagrado e as Gentes’, desta sexta-feira, está em destaque a festa de Nossa Senhora da Piedade, popularmente evocada como Mãe Soberana, e apresentada como a mais significativa expressão de devoção mariana algarvia e a maior manifestação de fé a sul do Tejo.

No domingo de Páscoa, realiza-se a ‘festa pequena’ com a imagem a ser transportada da sua ermida, “construída em 1553”, para a igreja de São Francisco, na cidade de Loulé, e, desde 1893, estabeleceu-se que no terceiro domingo de Páscoa, passado quinze dias, é a ‘festa grande’ de Nossa Senhora da Piedade, “as festas solenes”, com o regresso da imagem.

“É uma festa muito primaveril, a celebração da vida, desde os cantos, os vivas, aquele esforço heroico da subida, em que se reconhece o sacrifício da vida, mas depois é todo um povo que transporta esta imagem ao cimo do monte”, realça.

O pároco de Loulé explica que tem “alguma dificuldade” em “separar o profano do sagrado” porque “pode não ser uma dimensão cristã, mas há uma dimensão profundamente religiosa”.

Foto: Folha do Domingo, Procissão da Mãe Soberana em 2019

No início da celebração esteve “um povo crente, que vivia esta espiritualidade”, como na “prece tão espontânea de pedir pelo dom e pela graça da chuva”; em muitos anos, a imagem de Nossa Senhora da Piedade, uma pietá, “desce à cidade por causa de tempos graves de seca”, como em 1605, 1750, 1773 ou 1896.

O padre Carlos Aquino recorda a dança que é feita com o andor no regresso à ermida, que “é uma dança muito bela, uma dança de festa”, “com um ritmo nada de profano e de muito respeito à Senhora”.

“Evoca-me sempre a dança de David em frente da Arca da Aliança”, acrescenta.

Estas festas ajudam muito e dão força para o ano inteiro nesta certeza de que temos uma Mãe que nos acompanha e nos conduz aquele que é mais importante”.

A ‘Mãe Soberana’ é transportada pelos homens do andor que “são escolhidos de entre o povo”.

Ao longo do tempo, a festa “foi-se valorizando muito”, são oito homens do andor, mais os ‘tochas’, que levam as velas à frente, e “vão quase coordenando a procissão e orientando o próprio caminho naquela estrada tão ingreme”.

“São expressão de um povo e é muito bonito porque quando sabem aquela ladeira é todo o povo que vai agarrado aos homens do andor”, salienta o padre Carlos Aquino.

Ao longo do mês de julho, de segunda a sexta-feira, a Agência ECCLESIA divulga um lugar onde “O Sagrado e as Gentes” se cruza, em festas e romarias, na preservação do património ou na divulgação de tradições e culturas religiosas.

CB/OC

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