D. Paolo Bizzeti lembra que «70% da população turca aprovou» a decisão do presidente Recep Tayyip Erdogan
Lisboa, 15 jul 2020 (Ecclesia) – O vigário-apostólico da Anatólia (Turquia) manifestou a “tristeza partilhada” com o Papa Francisco e outros líderes cristãos, como o patriarca ecuménico de Constantinopla, Bartolomeu I, pela decisão de converter a antiga basílica de Santa Sofia, em Istambul, numa mesquita.
“De acordo com as últimas pesquisas cerca de 70% da população turca aprovou esta decisão do presidente Erdoğan, um dado que deve ser levado em conta. Não foi uma ação irrefletida do presidente”, afirma D. Paolo Bizzeti, divulga o sítio online ‘Vatican News’.
O presidente Recep Tayyip Erdogan disse que a reconversão do monumento numa mesquita era um “direito soberano” da Turquia, num discurso proferido a 10 de julho.
Antes, o Conselho de Estado, o mais alto tribunal administrativo da Turquia, tinha aceitado o pedido de diversas associações, tendo revogado a medida governamental de 1934 que transformou o espaço num museu, numa decisão do então presidente Mustafá Kemal Ataturk.
“É preciso ver como será preparado e se haverá um espaço em frente aos mosaicos da antiga catedral bizantina”, acrescentou D. Paolo Bizzeti, comentando o facto de o edifício estar aberto às orações muçulmanas a partir da sexta-feira 24 de julho.
A antiga basílica, construída no século VI, já foi a maior catedral do Cristianismo; seria convertida em mesquita no século XV, após a captura de Constantinopla, em 1453, e depois de ser transformada num museu entrou para a lista do Património Mundial da UNESCO, em 1985.
No último domingo, o Papa mostrou-se “muito entristecido” com a decisão do presidente Erdogan – que recebeu no Vaticano a 5 de fevereiro de 2018.
O vigário-apostólico da Anatólia partilha a “tristeza” do Papa Francisco e de outros líderes cristãos, como o patriarca ecuménico de Constantinopla (Igreja Ortodoxa), Bartolomeu I, personalidades e instituições que “se manifestaram claramente” contra a decisão de transformar novamente Santa Sofia numa mesquita.
O Patriarcado da Igreja Caldeia (Iraque), liderada pelo cardeal Louis Raphael I Sako, também manifestou “tristeza e dor” realçando que os muçulmanos de Istambul “não precisam de uma nova mesquita onde já existem inúmeras mesquitas”, invocando Deus Todo-Poderoso que liberte a humanidade “do extremismo e da politização das religiões”.
Para o vigário-apostólico da Anatólia, as referências à fé e à oração feitas pelo presidente Erdogan no seu discurso “dão esperança” que “seja concedida aos refugiados cristãos a possibilidade de rezar” em novos locais de culto, dando como exemplo uma igreja em Tarso que é usada como museu, mas onde “é possível celebrar e reunir”.
Segundo D. Paolo Bizzeti “também está em jogo o reconhecimento jurídico da Igreja Católica”, considerando ser “fundamental permitir que pessoas de toda fé e religião se possam expressar”.
CB/OC