Bispo de Santarém assinala preocupação com «a fragilidade do trabalho», num tempo para «subsistir e distribuir»
Santarém, 07 jul 2020 (Ecclesia) – O presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana manifestou preocupação com a manutenção dos empregos no contexto da crise social e económica provocada pela pandemia Covid-19, destacando a solidariedade em defesa da “vida humana”.
“Foi notável como o valor da vida humana veio ao de cima, uma convergência de vontade para defender este valor”, afirma D. José Traquina à Agência ECCLESIA.
Segundo o bispo de Santarém, desde março, quando começou o isolamento, houve uma “clara boa vontade” das instituições sociais que funcionaram, das autarquias, juntas de freguesia, bombeiros, que “funcionou para responder a uma causa que é absolutamente central, a vida humana”.
D. José Traquina refere que, “em dois meses, 100 mil pessoas ficaram sem trabalho”, o que “revela a fragilidade do próprio trabalho”, e há quem precise de ajuda “no que é mais elementar e básico, o apoio alimentar”.
“As pessoas não têm uma estabilidade, não estão num quadro de estabilidade de emprego e há muitas situações de trabalho que funcionam com outros registos, outras formas de estar que também nos preocupa”, acrescentou o bispo de Santarém, alertando para há empresas que “não tem quadro social” que se conhece “como normal”.
Neste contexto, o responsável católico deu como exemplo “empresas grandes”, como plataformas de transportes, questionando “quantos empregados é que tem, atual é que é a responsabilidade social que tem com estes empregados”.
“Não há uma responsabilidade social como as outras empresas que conhecemos e, no entanto, são coisas megalómanas. Claro que queremos que as empresas funcionem mas com responsabilidade social”, realçou D. José Traquina.
O bispo de Santarém assinala que “todos os indicativos” é que a seguir à crise de saúde provocada pela pandemia do coronavírus vai acontecer “a crise social”, que está relacionada “com a estabilidade do emprego, com o rendimento das pessoas, com o rendimento das famílias”.
Não sabemos em pormenor quais são as consequências mas sabemos que perante essa crise precisamos de estar preparados para corresponder, a solidariedade traduzida em concreto, em ajuda: Quem puder ajudar, ajude, sejam generosos”.
O presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana salienta que se quer “uma sociedade que em si mesma é solidária”, não apenas uma responsabilidade do Estado que “veio ao de cima com uma grande importância nesta crise.
Para D. José Traquina este tempo “não é para amealhar, para fazer uma conta para amealhar”, mas “é um tempo para subsistir e distribuir”, por isso, é bom que, num momento de crise, “as pessoas que têm possibilidade, que têm alguma reserva, sejam confiantes e generosas para poder ajudar quem não tem”.
O bispo de Santarém aborda até sexta-feira o documento ‘Recomeçar e reconstruir’, da Conferência Episcopal, sobre a sociedade portuguesa a reconstruir depois da pandemia de Covid-19, no programa ‘Ecclesia’ (22h45, Antena 1 da rádio pública).
LS/CB/OC