Mudar-nos a nós mesmos para mudarmos a nossa relação com a natureza

Maria da Conceição Martins, Comissão Diocesana Justiça e Paz de Bragança-Miranda

A pandemia provocada pelo SARS-CoV-2 conduz-nos a uma reflexão inevitável acerca das nossas formas de ser, de estar e de viver. Instigou-nos a questionar a relevância do insubstituível contacto presencial em tantos momentos e circunstâncias… Mas, se isso é muito evidente na vida pessoal e afetiva, mostrou-nos, contudo, que diversas atividades podem ser substituídas por contactos em formato digital, com ganhos ambientais rapidamente visíveis. Em poucas semanas, foi possível registar acentuadas reduções da poluição do ar e da água, o regresso de golfinhos aos estuários, de tartarugas às suas praias, e tantos outros exemplos.

A essa conversão ecológica apelou o Papa Francisco na sua Carta Encíclica Laudato Si’ sobre o cuidado da «casa comum», salientando que “O grito da terra e o grito dos pobres não aguentam mais”. “A Terra é a nossa casa comum. Cuidar dela é cuidar de nós (LS, n. 13). Nunca, como hoje, estas palavras foram tão pertinentes.

A Carta Encíclica Laudato Si’, assinada em 24 de maio de 2015, pode ser considerada um dos documentos mais marcantes do Papa Francisco. Ela trouxe-nos uma visão acutilante sobre os problemas que assolam o Planeta. Hoje, cinco anos depois, mergulhados numa crise que tem posto a descoberto a imensa fragilidade da vida humana e as enormes contradições do sistema económico em que vivemos, aquelas palavras do Papa Francisco ecoam ainda mais nos nossos pensamentos: “Crescemos a pensar que éramos seus proprietários e dominadores, autorizados a saqueá-la (…) Por isso, entre os pobres mais abandonados e maltratados, conta-se a nossa terra oprimida e devastada” (LS, 2). É contra esta situação que o Papa se propõe erguer a voz: “O urgente desafio de proteger a nossa casa comum inclui a preocupação de unir toda a família humana na busca de um desenvolvimento sustentável e integral” (LS, 13).

Precisamos de aproveitar este tempo extraordinário para refletirmos sobre qual é o propósito da vida. Precisamos assumir que “desenvolvimento” não é sinónimo de “crescimento”. O processo de globalização tem-se baseado exclusivamente em critérios economicistas, sem respeitar, quer os direitos humanos, quer os equilíbrios ecossistémicos. A esperança existe. É possível mudar o mundo! Mas como? Como podemos fazer diferente do que tem sido feito até aqui, de modo mais sustentável, e sem perder a qualidade de vida alcançada? Talvez começando dentro de nós… cada um a mudar o seu próprio mundo.

 

Referências:

Papa Francisco (2015). Carta Encíclica Laudato si’ – sobre o cuidado da casa comum. http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papa-francesco_20150524_enciclica-laudato-si.html

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Agência ECCLESIA

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