Igreja/Portugal: Trabalho em conjunto, sem medo do desconhecido e desligado de «realidades fetichistas do passado» são apostas do novo presidente da Conferência Episcopal

A Ilha da Madeira foi «ponto de partida» de D. José Ornelas e o «mar imenso» abriu caminhos para todo o mundo

Foto Agência ECCLESIA/AE, D. José Ornelas, bispo de Setúbal e presidente da Conferência Episcopal Portuguesa

Lisboa, 21 jun 2020 (Ecclesia) – D. José Ornelas Carvalho aposta num trabalho “em rede e em subsidiariedade” na Igreja Católica em Portugal e diz que tem de “aprender” a ser presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, na continuidade de um percurso iniciado na Madeira.

“A ilha é um ponto de partida para o mar imenso! Há gente que fica aflita quando chega à Madeira porque vê água por todo o lado. Nós vemos caminhos que se abrem para todo o mundo, sem muros”, disse o novo presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), natural da Ilha da Madeira.

Para D. José Ornelas, a fé “é um caminho donde se parte, que se leva no coração e se conjuga e se amassa com tantas coisas” e cria “mestiçagem em todo o mundo”.

“Só os ideais débeis é que têm medo e se fecham”, afirmou D. José Ornelas em entrevista ao programa 70×7, emitido na RTP este domingo.

O bispo de Setúbal foi eleito presidente da Conferência Episcopal Portuguesa para o triénio 2020-2023 na Assembleia Plenária do episcopado que iniciou na última segunda-feira e defende a afirmação da identidade católica na atualidade “não como algo de intocável”, mas “como uma riqueza dinâmica que se recria constantemente”.

“O espírito de seita que se vive em determinadas realidades da Igreja é precisamente isso: o medo do desconhecido, o medo do novo e o fechar-se em realidades fetichistas do passado que não têm coragem de se amassar com o mundo como ele se apresenta”, afirmou.

Para D. José Ornelas, “falar de governo na Conferência Episcopal é completamente desajustado”, porque tem competências de “coordenação da missão apostólica”.

“A tradição da Igreja é de igrejas locais, desafiadas a trabalhar em rede e em subsidiariedade. A Igreja vive na família, na paróquia, na diocese, em conjuntos de dioceses que caraterizam a Igreja num país”, referiu.

“Os bispos são a expressão de cada igreja local. Encontrarem-se juntos é fundamental para realizar a unidade da Igreja, o que se chama a colegialidade”.

O novo presidente da CEP considera que os vários bispos diocesanos precisam de “fazer caminhos juntos”, afirmar a “circularidade” da Igreja que “não anula a necessidade de estruturar”.

“Sempre admirei a CEP! Não somos bons no sentido de ser perfeitos, mas quando às vezes se especula sobre as divisões entre bispos, não tenho notado isso. Somos diferente e temos opiniões diferentes, sim. Mas os pronunciamentos da conferência são praticamente unânimes”, defendeu.

Para D. José Ornelas, a CEP precisa de “melhorar a articulação”, “estabelecer novos laços de cooperação e de trabalhar em conjunto dentro da Igreja” e “dinamizar o espírito de missão”, como demonstrou o tempo de pandemia.

“E eu espero que esta experiência nos faça entender muitas coisas: uma Igreja que precisa de estar mais em rede, próxima daqueles que estão mais nas periferias e na atenção aos mais frágeis, porque nos pobres decide-se a civilização que queremos criar”, afirmou.

D. José Ornelas considera que o seu sonho missionário “foi sempre constante e continua a ser”, afirma que a Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus, onde iniciou o seu percurso, é uma das suas “pátrias” e mostra-se disponível para “ter o cuidado, juntamente com os outros bispos, da Igreja em Portugal”.

“Bispos sem trabalho não existem”, diz D. José Ornelas, certo de que vai ter de conciliar o trabalho de presidente da CEP com “uma diocese para cuidar”, no caso a Diocese de Setúbal.

Questionado sobre o que significa ser presidente da CEP, D. José Ornelas diz ter de aprender: “antes de ser bispo, eu sabia o que era ser bispo, sabia tudo! Depois quando fui eleito bispo de Setúbal, perdi as certezas e comecei a aprender”, afirmou.

Ordenado bispo em 2015 para a Diocese de Setúbal, D. José Ornelas foi eleito presidente da Conferência Episcopal Portuguesa na última terça-feira, aos 66 anos, após ter sido sido responsável mundial pela Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos) durante 12 anos.

A entrevista a D. José Ornelas é emitida no programa 70×7 deste domingo, pelas 17h45, na RTP2.

PR

«Só os ideais débeis é que têm medo e se fecham» – D. José Ornelas

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Agência ECCLESIA

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