Cultura vocacional contra o estigma da crise

Em entrevista à Agência ECCLESIA, o presidente da Comissão Episcopal para as Vocações e Ministérios, D. António Francisco dos Santos, fala da importância de promover uma cultura vocacional no nosso país, em que muitas paróquias vivem como se só o pároco tivesse uma vocação. Agência ECCLESIA – Há ou não crise vocacional? D. António Francisco dos Santos – Queremos introduzir na perspectiva vocacional um olhar de esperança sobre o estigma da crise. A partir dum olhar sereno e distante podemos construir uma cultura vocacional, que é a nossa primeira aposta e um compromisso assumido que não esquecemos. AE – Como se faz o trabalho da Comissão Episcopal? AFS – A nossa metodologia passa por reunir, todos os meses, com delegados das Dioceses e responsáveis pela pastoral vocacional, com Reitores e equipas dos seminários, procurando criar essa cultura vocacional em toda a Igreja. Também estamos a trabalhar de perto com os Institutos religiosos e seculares. Este ano vamos realizar um Simpósio do Clero e já realizámos um Fórum das Vocações, em Outubro passado, marcado pelo espírito impresso neste slogan: “Viver a alegria de ser chamado e a coragem de chamar”. O próximo Fórum quer renovar a pastoral da Igreja a partir da pastoral vocacional, com comunidades que façam surgir vocações a todos os níveis e não onde só o pároco tenha uma vocação… AE – A Jornada de Oração pelas Vocações é fundamental? AFS – Na introdução que fiz no Guião para a Semana de Oração pelas Vocações, pedi que as famílias e as comunidades sejam lugar vocacional, bem como escolas de vocação, porque a vocação também se educa. É importante olhar para as comunidades paroquiais como locais onde a pastoral vocacional tem de estar presente em todas as actividades. É essa a cultura vocacional que gostaríamos de imprimir. AE – A quebra numérica de candidatos ao sacerdócio e à vida consagrada é uma inevitabilidade? AFS – Nós não nos conformamos – embora tenhamos de ser realistas e aceitar a diminuição- com a tirania dos números nem temos de aceitar passivamente essa quebra. Estamos comprometidos em relançar esta cultura vocacional, sentindo que há Dioceses e Institutos onde as vocações têm contrariado a tendência de diminuição progressiva. Não podemos esquecer aquilo que nos diz Bento XVI na sua Mensagem: “Não surpreende que, onde se reza com fervor, floresçam as vocações”. Esse aspecto tem de ser realçado e nós conhecemos situações onde as vocações têm florescido, mesmo em Portugal. Por tudo isto é preciso que, na análise aos dados estatísticos, seja feita uma leitura inteligente e atenta, procurando compreender as razões pelas quais há crescimento em determinados sectores da Igreja e não há noutros. AE – Há novos ministérios que possam emergir com mais força neste novo cenário? AFS – Eu destacaria o Diaconado Permanente. Vamos iniciar agora, no mês de Maio, uma reflexão que queremos estruturada com os delegados diocesa-nos e os prelados, para fazermos uma avaliação do percurso das últimas décadas, desde o reinício deste ministério com o Concílio Vaticano II. O Espírito faz surgir, obviamente, carismas e ministérios que hoje dão resposta às urgências pastorais dos nossos tempos, e esse é um aspecto que queremos trabalhar, acentuando esta dinâmica dos ministérios na Igreja. AE – Que mensagem deixa às comunidades cristãs para a próxima Jornada de Oração? AFS – Bento XVI, na primeira Mensagem que nos escreve para esta ocasião, deixa o tema para os próximos anos: o primeiro é “Vocação no mistério da Igreja”, em 2007 será “Vocação na comunhão da Igreja” e em 2008 “Vocação na missão da Igreja”. Aqui vemos a dinâmica que devemos imprimir a esta Jornada de Oração: sentir o mistério da filiação divina, acolhendo a vocação na grandeza e diversidade da Igreja e vendo-a na sua missão. Queremos fazer sentir às comunidades que elas não são apenas um ponto de chegada, mas a renovação da pastoral vocacional é o início da viagem.

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