Igreja prepara-se para receber novos católicos

Baptismo na Vigília Pascal é tradição antiquíssima. Cada vez mais adultos pedem este Sacramento Desde os primeiros tempos da Igreja Católica que o tornar-se cristão se processa através de um percurso estruturado, em fases diversas, que culminava com o Baptismo na Vigília Pascal. A importância deste gesto é tal que se considera que a liturgia baptismal da Vigília Pascal só atinge a sua plenitude quando se celebra o baptismo de adultos, ou pelo menos de crianças – mas mesmo quando não se celebra o baptismo, faz-se nas igrejas paroquiais a bênção da água baptismal. Ao longo do tempo, o Baptismo das crianças tornou-se a forma habitual de celebração deste Sacramento, relegando para segundo plano todo o processo de “iniciação cristã”. Por isso mesmo, o Concílio Vaticano II veio restaurar o catecumenado dos adultos, distribuído em várias fases, e hoje em dia o número de Baptismo depois dos 7 anos representa, em todo o mundo, 15% do total. Em Portugal, a maioria esmagadora dos Baptismos continua a decorrer antes do primeiro ano de vida (perto de 90 mil), mas nos últimos anos são já mais de 5.500 os que, todos os anos, se tornam católicos depois dos 7 anos (6% do total), idade que a Tradição da Igreja associa aos que “atingiram a idade da razão”. O catecumenado, tal como foi pensado pela Igreja nos primeiros séculos, é a instituição que tem a missão de acompanhar estas pessoas no itinerário de fé até aos sacramentos do Baptismo, da Confirmação e da Eucaristia. O número de adultos a pedir o Baptismo aumenta no nosso país, numa época de forte secularização, com as opções dos pais que relegam esta decisão para a própria vontade dos filhos, e com a chegada de imigrantes de países não cristãos. A iniciação cristã dos adultos começa com um período de pré-catecumenado, com a manifestação do primeiro desejo de ser Baptizado. Segue-se o tempo de catecumenado, ligado de maneira particular à catequese, ao conhecimento da pessoa de Jesus, da Igreja e das verdades da fé cristã. Este tempo termina com o Rito de Eleição dos catecúmenos e a partir desse dia, a preocupação com os adultos já não é de ordem doutrinal, mas de ordem espiritual. São então convidados a uma caminhada de ordem interior, espiritual. Seguidamente à recepção dos sacramentos da iniciação cristã, com o Baptismo, a Confirmação e a Eucaristia, os neófitos iniciam um período de Mistagogia em que são inseridos na vida da Igreja. As Dioceses de Lisboa, Porto e Braga representam mais de metade da população portuguesa e mostram, elas próprias, as diferentes opções, mais ou menos tradicionais, que existem a este respeito no nosso país. Os últimos dados disponíveis, referentes ao ano de 2004, mostram que enquanto em Lisboa acontecem 2008 Baptismos acima dos 7 anos (para 8886 até 1 ano), no Porto há apenas 347 (para 14.441 Baptismos até ao primeiro ano de vida). Em Braga a situação é ainda mais significativa: o número de baptizados até ao primeiro ano de vida é semelhante ao de Lisboa (8312), mas acima dos 7 anos apenas encontramos 10 novos católicos. Perante este cenário, em Maio de 2005 a Zona Pastoral da Cidade de Braga abriu um novo horizonte na vida das comunidades cristãs, apostando na “iniciação cristã de adultos e formação permanente de adultos”. Este ano, em Lisboa, há uma centena de jovens e adultos que se vêm preparando para receber o Baptismo na próxima Páscoa. No início da Quaresma, o Cardeal-Patriarca de Lisboa presidiu ao Rito da Eleição dos Catecúmenos, que provêm de diferentes paróquias do Patriarcado e de outras estruturas eclesiais, como Colégios Católicos e Movimentos. No Algarve, onde o número de Baptismos de pessoas com mais de 7 anos foi de 522 (838 no primeiro ano de vida) conta, este ano, com 35 catecúmenos. Com o “Rito de eleição”, os adultos admitidos aos sacramentos iniciação cristã (Baptismo, Confirmação e Eucaristia), iniciaram uma nova fase do seu catecumenado – a purificação e iluminação, – deixando de ser catecúmenos para passar a ser eleitos. Pastoral catecumenal para cristãos A pastoral catecumenal não se circunscreve apenas aos convertidos não baptizados, que desejam ser cristãos através de um processo de iniciação, incluindo também, entre nós, a reiniciação dos baptizados e até confirmados que, embora crentes à sua maneira, desejam recuperar a vida cristã. Um movimento recente e de grande expansão no mundo, também presente entre nós, os Neocatecumenais, estão a realizar um trabalho de registo nesta área.. “Reconheço que o Caminho Neocatecumenal como um itinerário de formação católica, válido para a sociedade e para os tempos de hoje”, dizia João Paulo II. Nascido da experiência de Kiko Arguello, pintor espanhol que nos anos sessenta abandonou tudo e foi viver com os marginalizados, em busca de Deus, este carisma está espalhado por o mundo, em mais de seis mil paróquias, onde tem suscitado milhares de vocações religiosas e missionárias. O Caminho Neocatecumenal é uma iniciação cristã, um catecumenado pós-baptismal e não um movimento ou associação: é uma escola que gradualmente vai introduzindo os fiéis no mistério de Cristo e da Igreja e um caminho catecumenal depois do baptismo, que é oferecido às paróquias. Nas paróquias em que está, os fiéis, que se propuseram fazer esta iniciação cristã, aparecem depois nos diversos campos de acção e nos diversos movimentos, com abertura e consciência cristã. O Caminho Neocatecumenal é um instrumento ao serviço dos Bispos para a redescoberta da iniciação cristã dos adultos baptizados, que se afastaram da igreja; que não foram suficientemente evangelizados ou catequizados; que desejem aprofundar e amadurecer a sua fé; que provenham de confissões cristãs, que não estão em plena comunhão com a Igreja Católica. Este instrumento, ao serviço da Igreja, pode também ter por missão educar na fé os não baptizados. Na paróquia, o neocatecumenado é vivido em pequenas comunidades, dado que a forma completa ou comum de iniciação cristã dos adultos é a comunitária, tendo como exemplo a Sagrada Família de Nazaré. O neocatecumenado é constituído por catequeses iniciais e pelo itinerário neocatecumenal, articulado segundo as três fases da iniciação cristã – pré-catecumenado, catecumenado, e eleição. As catequeses iniciais e o itinerário neocatecumenal baseiam-se nos três elementos fundamentais da vida cristã (tripé), salientados pelo Concílio Vaticano II – Palavra, Liturgia e Comunidade. No centro de todo o percurso neocatecumenal há uma síntese do primeiro anúncio cristão, que leva a uma mudança de vida moral e litúrgica. A sua condução é feita, em comunhão com o pároco, sob a responsabilidade pastoral de uma equipa de catequistas. O Caminho Neocatecumenal contribui para formar aos poucos uma assembleia paroquial, que prepara e celebra a Vigília Pascal com toda a riqueza dos elementos e dos sinais litúrgicos e sacramentais queridos pela Igreja.

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