A unidade do Sacerdócio Apostólico, sinal da unidade da Igreja, Povo Sacerdotal

Homilia do Cardeal-Patriarca na Missa Crismal 1. Este dia e, em especial, esta celebração, em que se manifesta a riqueza sacramental da Igreja, fruto da fecundidade salvífica da morte e ressurreição de Cristo, em favor do Povo através do sacerdócio apostólico, convidam-nos a meditar sobre o nosso ministério sacerdotal, na sua relação com Cristo, o único Sacerdote, e com o Povo de Deus, a cujo crescimento e autenticidade se destinam essas graças sacramentais. E neste ano, em que toda a Igreja de Lisboa tenta perceber os chamamentos que Deus lhe dirigiu através do Congresso para a Nova Evangelização, devemos aprofundar, à luz da fé no nosso próprio ministério, e da sua fecundidade pastoral, concretizada em serviço de Jesus Cristo em favor do Seu Povo, as exigências do nosso ministério sacerdotal. Ressalta, neste dia, a relação do nosso sacerdócio com Jesus Cristo, e com a Igreja, Povo sacerdotal, amada por Deus, através do nosso ministério, sacramento da fecundidade salvífica da Páscoa de Jesus. Todo o sacerdócio é uma mediação fecunda, entre o amor infinito de Deus, e a humanidade por Ele chamada à plenitude da vida. Jesus Cristo, o Filho, feito Homem, nosso irmão, é o Mediador perfeito e definitivo entre o amor da Santíssima Trindade e a humanidade chamada a participar desse amor. Ele é o sacerdote perfeito e definitivo. O sacerdócio apostólico, exercido pelos Bispos unidos ao seu Presbitério, exerce a mediação entre Cristo, o Mediador, e a Sua Igreja, Povo que Ele adquiriu com o Seu Sangue. A Igreja toda, Povo sacerdotal, é mediadora entre Cristo e a humanidade, anunciando a todos os homens que Deus os ama e amando-os como Cristo os ama. A Igreja, em tudo o que faz, e na totalidade dos seus membros, é sempre mediadora entre o amor de Deus, manifestado em Jesus Cristo e a humanidade. A própria mediação sacerdotal é uma expressão do amor infinito de Deus. Através dela, a Igreja aparece e acontece “como um povo que vai buscar a sua unidade à unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo” . 2. Toda a mediação sacerdotal visa a edificação da Igreja, realização visível do Reino de Deus , marcada por esta unidade do amor, o que define a sua natureza como experiência de comunhão. “A identidade sacerdotal, como toda e qualquer identidade cristã, encontra na Santíssima Trindade a sua própria fonte que se revela e auto-comunica aos homens em Cristo, constituindo, n’Ele e por meio do Espírito, a Igreja como gérmen e início do Reino” . Sendo a Santíssima Trindade a fonte de toda a mediação sacerdotal, define-se a Igreja “como mistério, comunhão e missão. Ela é mistério porque o amor e a vida do Pai, do Filho e do Espírito Santo constituem o dom gratuito oferecido a quantos nasceram da água e do Espírito, chamados a reviver a própria comunhão de Deus e a manifestá-la e comunicá-la na sua missão na história” . A primeira expressão deste mistério, comunhão e missão, na fidelidade ao amor de Deus, deve ser a unidade de comunhão e missão de todos os que exercem o ministério sacerdotal, recebido dos Apóstolos. A primeira concretização desta unidade de mistério, comunhão e missão, é a unidade do mesmo sacerdócio do Bispo e do seu Presbitério. Como se diz na Pastores Dabo Vobis, “mediante o sacerdócio, que brota das profundezas do mistério de Deus, ou seja, do amor do Pai, da graça de Jesus Cristo, e do dom do Espírito Santo, o presbítero é inserido sacramentalmente na comunhão com o Bispo e com os outros presbíteros para servir o Povo de Deus, que é a Igreja, e atrair todos a Cristo” . O nosso sacerdócio, queridos Padres, é um só, dado à Igreja de Lisboa através da sucessão apostólica e somos chamados a vivê-lo na unidade de comunhão e de missão. E esta unidade é o maior dom que podemos oferecer à nossa Igreja. Sinto cada vez mais que não serei completamente fiel ao ministério que o Senhor me confiou se vós não fordes fiéis, do mesmo modo que me sinto fortalecido e confortado com a generosa fidelidade de tantos dos nossos sacerdotes. 3. A primeira exigência desta unidade entre nós é a da nossa fidelidade a Jesus Cristo e a nossa comunhão com Ele, de cujo sacerdócio somos sacramento, expressão do Seu amor pela Igreja. Entre nós e Jesus Cristo tem de haver uma intimidade crescente, uma cumplicidade amorosa, onde aprendemos, em cada circunstância, a ser sacerdotes como Ele é sacerdote. Isso passa pela escuta, sempre renovada, da Palavra do Pai, pelo anúncio corajoso e bondoso das exigências do Reino de Deus neste mundo a que somos enviados em Seu nome; passa pelo mergulhar, cada vez mais profundamente, na Eucaristia onde Ele exprime, sempre de novo, o Seu amor infinito pela Igreja, e onde aprendemos a adorá-l’O como nosso Deus e nosso Redentor. A nossa oração é sempre em presbitério, pela Igreja e com a Igreja. Devemos presidir à Eucaristia em atitude de adoração, prolongada depois na oração pessoal e silenciosa, que será semente fecunda de uma Igreja que reza e adora o Senhor. A falta de oração pode transformar-se numa das fragilidades do nosso presbitério. Habituemo-nos a rezar sempre em união com o Bispo e com os outros irmãos sacerdotes, com eles e por eles, e quanto mais profunda e assídua for a nossa oração, maior será a nossa comunhão e mais sólida a nossa unidade. Um sacerdote sem intimidade pessoal com Jesus Cristo é um anacronismo que empobrece a Igreja. Não hesiteis em limitar actividades, se for necessário, para reservardes tempo para a oração. A nossa relação com Cristo e com a Igreja é uma relação de amor. E nenhuma relação de amor subsiste sem tempo para o amor. Um dos frutos desejados do tempo de graça, que foi o Congresso, é suscitar na Igreja diocesana experiências de adoração, o hábito da adoração, o dinamismo silencioso a vitalizar todas as concretizações de missão. É preciso que não apenas os doentes e os idosos, mas todos os membros da Igreja, sejam “missionários da oração”. Um sacerdote que celebra rezando, e reza porque celebrou, será sempre fermento fecundo de aprendizagem da oração no meio do Povo a que foi enviado como mediador da salvação. 4. Esta unidade do Presbitério que brota da comunhão com Cristo, inspira e exige a unidade nos caminhos da missão. E aqui ressalta como principal exigência, o bem da Igreja. Esta tem o direito de acolher, através do ministério dos sacerdotes, a plenitude da graça de Jesus Cristo. Sempre que há um caso público de infidelidade sacerdotal, o que mais me dói é sentir que, de certo modo, enganámos a Igreja, dor apenas mitigada pela certeza confiante de que os nossos pecados não toldam, nem impedem, a fecundidade salvífica da santidade de Cristo. O bem da Igreja exige também a unidade na acção pastoral. Pode haver maneiras pessoais de agir, mas não critérios diferentes de acção. Neste momento, na sequência do Congresso, é obrigação de todo o Presbitério, em comunhão com toda a Igreja, discernir os caminhos novos de missão. Uma vez decididos, será condição para a sua realização a unidade de todos. O Santo Padre Bento XVI convidou-nos a fazer da caridade a grande prioridade pastoral. Procuraremos corajosamente encontrar-lhe as concretizações sugeridas pela sociedade em que exercemos a nossa missão. 5. Meus Irmãos e Irmãs, rezemos hoje, de um modo especial, pelos nossos sacerdotes. Agradeçamos a Deus os sacerdotes que nos deu; respeitemos, com delicada solicitude, a sua especificidade e modo de vida, demos-lhes a preciosa colaboração na missão, e não lhes neguemos a amizade e a ajuda fraterna. A melhor maneira de nos ajudardes, é procurardes ser fiéis à vocação e missão que Deus deu a cada um. É mais fácil a um sacerdote ser fiel no seio de uma comunidade cristã que procura ser fiel. Como sabeis, um número significativo dos nossos sacerdotes começa a sentir o peso dos anos e a fragilidade da doença. Procuraremos sempre, da maneira possível, que não falte a nenhuma comunidade a graça própria do ministério sacerdotal. Mas não podemos satisfazer todas as exigências das pessoas e das comunidades. Sede compreensivos e generosos em assumir responsabilidades que vos sejam confiadas. E sobretudo peçamos a Deus, com fé, o dom de novas vocações sacerdotais. Sé Patriarcal, 13 de Abril de 2006 † JOSÉ, Cardeal-Patriarca

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