Ser santo é ser de Cristo
A liturgia do sétimo domingo do tempo comum convida-nos à santidade. Sugere que o caminho cristão é um caminho nunca acabado, que exige de cada homem e mulher, em cada dia, um compromisso sério e radical, feito de gestos concretos de amor e partilha com a dinâmica do Reino de Deus.
A primeira leitura apresenta um veemente apelo à santidade: ser santo é viver na comunhão com Deus e no amor ao próximo. «Sede santos, porque Eu, o Senhor, vosso Deus, sou santo. Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor».
Na segunda leitura, Paulo convida-nos a sermos de Cristo, a sermos o lugar onde Deus reside e Se revela, a renunciar definitivamente à sabedoria do mundo e optar pela sabedoria de Deus, qual dom da vida, amor gratuito e total. «Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Tudo é vosso; mas vós sois de Cristo, e Cristo é de Deus».
No Evangelho, Jesus propõe, de forma muito concreta, a Lei da santidade, no contexto do sermão da montanha. «Amai os vossos inimigos e orai por aqueles que vos perseguem, para serdes filhos do vosso Pai que está nos Céus… Sede perfeitos, como o vosso Pai celeste é perfeito».
O convite à santidade pode soar como algo de estranho para as pessoas de hoje. Uma certa mentalidade contemporânea vê os santos como extraterrestres, seres estranhos que pairam um pouco acima das nuvens sem se misturar com os seus irmãos e que passam ao lado dos prazeres da vida, ocupados em conquistar o céu a golpes de renúncia, de sacrifício e de longos trabalhos ascéticos. A santidade não é uma anormalidade, mas uma exigência da comunhão com Deus. É o estado normal de quem se identifica com Cristo, assume a sua filiação divina e quer caminhar ao encontro da vida plena em Cristo. A santidade deve estar no horizonte diário que procuramos construir sem dramas nem exaltações, com simplicidade e naturalidade, na fidelidade aos compromissos. Convidados a sermos santos no quotidiano, no dia a dia, santos ao pé da porta, como diz o Papa Francisco na Exortação Apostólica “Alegrai-vos e exultai” sobre a santidade no mundo atual.
Ser santo não significa viver de olhos voltados para Deus esquecendo as pessoas. A santidade implica um real compromisso com o mundo, passa pela construção de uma vida de verdadeira relação com os irmãos, implica a eliminação de qualquer tipo de agressividade, vingança e rancor, implica amar o outro como a si mesmo.
Aí está a santidade que é caminho para todos. O Concílio Vaticano II veio repor este essencial dinamismo da vida cristã. A santidade é para todos, o que foi esquecido durante séculos na Igreja, e não apenas para um grupo de consagrados, religiosos e clérigos. Há que procurar no quotidiano da existência esse dom de Deus para cada um de nós. Ser santo, afinal, é simplesmente ser de Cristo.
Manuel Barbosa, scj