A sabedoria dos simples quanto à Eutanásia é ouro

Miguel Oliveira Panão (Professor Universitário), Blog & Autor

Num video amador, jovens – aparentemente – pedem a uma senhora velhinha e simples, que me referirei por avó,, para lhes partilhar o que lhes tinha dito momentos antes sobre a Eutanásia. Diz esta avó:

«Se a eutanásia ganhasse, eu nunca mais ia ao médico! Porque o dever deles é salvar-nos e não matar-nos. Portanto, eu nunca mais lá ia.»

É claro que existe a objecção de consciência, mas o que está em questão é a confiança depositada nos médicos, que me parece mais importante para superar uma doença do que pensamos. Existem diversos estudos que mostram como o relacionamento de confiança entre médico e paciente possui um efeito placebo, mas terapêutico.

De seguida, esta avó chama a atenção para a maior necessidade em investir nos cuidados paliativos. Porém, não coloca a razão nos efeitos terapêuticos, mas no facto de isso aumentar a noção da importância de nos ajudarmo-nos uns aos outros. Na sua simplicidade, esta avó toca na ferida: os relacionamentos.

A questão da eutanásia é um reflexo do défice relacional que a cultura, hoje, enfrenta. Todo o sofrimento suporta-se de maneira diferente se tivermos alguém que está connosco e nos apoia. Nesse sentido, a avó conta uma experiência relevante entre si e o seu pai.

«O meu pai pediu-me. Estava tão mal que pediu-me uma caçadeira que o matasse. E eu disse – “Não! A gente tem que lutar.” – Punha-lhe supositórios e levava-o às 11h da manhã de casa até a um lugar perto da minha casa, deitava-o numa espreguiçadeira a apanhar Sol. E ele beijava-me e dizia-me assim – “Filha, bem dizias tu que aquilo era uma crise.”»

Simplesmente. Genial. Mas o génio que vemos nesta experiência está acessível a todos. É aquele que nos impulsiona a sair da nossa zona de conforto para abraçar o outro na sua dor, dar-lhe força e amá-lo, fazendo-o sentir-se amado. Porém, há um detalhe que gostaria de salientar neste relato e que pode passar despercebido. A experiência do pai desta avó que o levou a agradecer à filha, demonstrando-o com beijos: apanhou Sol.

Desde sempre que a natureza faz parte de nós por sermos natureza. Apanhar Sol é muito mais do que receber o seu calor, ou o fresco da brisa que o acompanha. O contacto com a natureza amplia o significado da nossa vida e sentimo-nos gratos por cada momento de relacionamento com o mundo natural.

Com a excessiva utilização dos meios tecnológicos, sobretudo no que diz respeito ao tempo de ecrã, a vida tem-se artificializado e, gradualmente, perdemos o nosso sentido de pertença à criação.

Quando referimos os cuidados paliativos, não me lembro de alguma vez ouvir falar no efeito que o contacto com a natureza tem na pessoa que sofre. Penso sempre no facto de estar numa cama, num quatro partilhado com outros, num ambiente hospitalar que nem sempre é o mais adequado. É verdade que o resguardo em ambiente controlado é importante, mas será que valeria explorar melhor o valor terapêutico de um maior contacto com a criação?

A avó demonstra que sim.

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