Ecumenismo: «Tentaram mandar-nos para a água mas conseguimos fugir, tivemos sorte» – Refugiado sírio

Testemunho de Khoshnav Alloush, em Portugal desde 2016, desafia a recordar os migrantes e refugiados na Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, que propõe olhar sobre vítimas de naufrágios no Mediterrâneo

Foto: Agência ECCLESIA/LS

Lisboa, 17 jan 2020 (Ecclesia) – O jovem Khoshnav Alloush, refugiado sírio, acolhido pela Unidade Pastoral de Apoio a Refugiados, uma resposta de duas paróquias do Patriarcado de Lisboa, encontrou em Oeiras uma hospitalidade que o levou a considerar Portugal a sua casa.

“Guardo Alepo como uma cidade bonita, no coração, a sua imagem está sempre na minha cabeça, mas descobri que Portugal era um país fixe, onde podia ter futuro”, explica este jovem de 18 anos, à Agência ECCLESIA.

O testemunho de Khoshnav Alloush, que saiu da sua casa com 15 anos, na Síria, devido à guerra, vai mostrar na Vigília ecuménica Jovem, marcada para a noite deste sábado, na igreja de Santa Isabel, em Lisboa, como a hospitalidade pode fazer a diferença na vida dos migrantes e refugiados.

A Semana anual de Oração pela Unidade dos Cristãos, que une milhões de pessoas de várias Igrejas, entre 18 e 25 de janeiro, vai recordar em 2020 os migrantes e refugiados que são vítimas de naufrágios no Mediterrâneo.

A reflexão é proposta pelas comunidades cristãs do arquipélago maltês, a partir do relato bíblico do naufrágio de São Paulo II (século I), que o levou até à ilha de Malta, onde, segundo o livro dos Atos dos Apóstolos, foi tratado com “invulgar humanidade”.

Khoshnav, juntamente com a irmã Rohaf e a mãe Shiraz, deixou a sua casa, de noite às 2 da madrugada para encetar um caminho que originalmente demorava uma hora a fazer, mas que, devido à guerra, levou 14 horas; passaram a fronteira, tendo como destino Istambul, onde os aguardava uns familiares; o pai tinha ficado em Alepo, na Síria.

O clima na capital turca não era “o ideal” e acabaram num barco, “sobrelotado”, rumo a Lesbos, na Grécia.

“Apanhámos o barco e ficámos lá dentro quatro horas. Tinha medo, porque não sabia nadar, mas a minha mãe e irmã estavam comigo. Havia muitas pessoas. Apanhamos polícia na Turquia, tentaram mandar-nos para a água mas conseguimos fugir. Encontrámos, depois, um barco grego e chegamos a terra. Tivemos sorte”, indica.

A família Allush esteve no campo de refugiados de Moria, em Lesbos, “com muitos problemas” e, mais uma vez, Khoshnav admite que teve sorte: inscreveu-se num programa que lhe permitia ajudar outros no campo e o levou, a si e à sua família, para um hotel, onde puderam “dormir e tomar banho”, mas ali permaneceram sete meses.

Quando lhes pediram para indicar 11 países possíveis de destino, escreve o nome de Portugal na lista, “porque tinha ouvido falar em Cristiano Ronaldo”.

Em outubro de 2016, a família aterra em Lisboa, acolhida pela Unidade Pastoral de Apoio a Refugiados (UPAR), uma resposta da Unidade Pastoral de Nova Oeiras e São Julião, duas paróquias do Patriarcado de Lisboa, ao abrigo do programa da Plataforma de Apoio aos Refugiados.

A integração “não foi fácil”, recorda Khoshnav Alloush, que teve dificuldade em aprender o português e incluir-se na escola.

Foto: Agência ECCLESIA/LS

Rita Fonseca, da UPAR, depois de ter estado em Ragusa, na Sicília, e em Atenas, na Grécia, na ajuda a refugiados, sabe que hoje o seu caminho passa por estar em Portugal e fazer “por cá” o que puder.

“É muito importante conseguirmos pôr em perspetiva, sabendo que não vamos mudar o mundo. Podemos ter mudado um pouco o dia-a-dia daquelas crianças, criado memórias de dias mais felizes, e isso é gratificante. É um tijolo e eu aqui tenho mais recursos à minha disposição”, explica a jovem de 27 anos, psicóloga educacional.

Khoshnav não tem dúvidas que encontrou “boas pessoas no caminho”: hoje estuda programação, a sua irmã Rohaf estuda na universidade e a mãe Shiraz trabalha num restaurante sírio; o pai chegou em abril de 2019, passando agora pela fase de adaptação.

“É muito gratificante perceber a forma como (os Alloush) se integraram e hoje fazem a sua vida cá, com todas as dificuldades que todas as famílias têm”, traduz.

Os testemunhos de Khoshnav Alloush e Rita Fonseca vão estar em destaque na Vigília ecuménica Jovem e esta semana nos programas Ecclesia, a emitir na Antena 1, de segunda a sexta, pelas 22h45.

LS

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Agência ECCLESIA

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