Igreja: Santidade do Padre Américo é um «espinho» nas consciências, que alerta para as carências sociais – D. Manuel Linda (c/vídeo)

Bispo do Porto afirmou que o avanço no processo de canonização é uma «boa notícia» para a diocese e para a Igreja Católica em Portugal

Porto, 12 dez 2019 (Ecclesia) – O bispo do Porto afirmou hoje que a declaração das virtudes heroicas do padre Américo é uma “boa notícia” para a diocese e para a Igreja Católica em Portugal e um “espinho” na consciência a dizer que “não desapareceram as carências”.

“O Pai américo está aí como espinho na nossa própria consciência e a dizer-nos: mudaram as condições, mas não desapareceram as carências”, afirmou D. Manuel Linda na homilia da Missa que assinalou o quinto aniversário do restauro da Torre e da Igreja dos Clérigos.

“Temos muito melhores condições de vida mas não quer dizer que esteja tudo bem com todas as pessoas”, sublinhou.

O bispo do Porto defendeu uma “boa colaboração entre Igreja e a sociedade” para que, como estímulo e exemplo do “Pai Américo” a atitude seja de proximidade em relação a quem “está a vegetar na beira da estrada”.

“Não abandonemos a sociedade e não nos refugiemos nos castelos das nossas expectativas, por mais legítimas que sejam. Que os nossos trabalhos, sonhos e até promoções sociais nunca sejam pretexto para nos afastarmos daqueles que, no dia a dia, senão estão a vegetar na beira da estrada, não têm o sentido da alegria”, afirmou.

D. Manuel Linda lembrou o trabalho do “Pai Américo” na cidade do Porto de ajudar “crianças abandonadas ou malnutridas, em estado de pobreza absoluta e conseguiu alimentar e servir a sociedade”

Hoje temos muitas outras instituições que se dedicam à infância, mas não desapareceu a necessidade da Igreja e do Estado estarem presentes junto de tantas fragilidades, que têm muitos nomes: sem-abrigo, o mundo das toxicodependências, da solidão”.

Em declarações à Agência ECCLESIA, o bispo do Porto disse que “a alegria é grande”, desde o dia 2 de dezembro, quando decorreu a votação na Congregação para a Causa dos Santos (Santa Sé), “por unanimidade”.

“Eram cerca de 20 peritos que constituem a plenária e a votação foi por unanimidade; Esperava que o Santo Padre pusesse a sua assinatura”, revelou.

D. Manuel Linda afirmou que, apesar de se poder “pensar que a sociedade já resolveu tudo mas não resolveu”, esta figura da Igreja Católica recorda que “há novas formas de pobreza”, como a “solidão” e as drogas cujo combate não foi vencido.

O bispo do Porto explica que a ‘Obra da Rua’ “tem de ser repensada totalmente, porque foi imaginada para um contexto”, ma sublinha que “o padre Américo estava muitos graus acima do pensar dominante da sociedade”, pelo que hoje “tem de ser exemplo de novas intervenções”.

“Temos uma dificuldade: hoje, a obra está com falta de clero, como a Igreja em geral. Vamos ver como reconfigurá-la para uma altura em que não pode ser pensada mais à base dos padres, mas fortemente laical; não foi fundada a nível de pirâmide, apareceu das bases e o bispo aprovou-a, hoje tem de ser a partir da Obra da Rua que se estabelece a sua reconfiguração, e o bispo do Porto terá a sua palavra de incentivo e aprovação”, desenvolveu.

O Papa Francisco aprovou a publicação do decreto que reconhece as “virtudes heroicas” do Padre Américo, anunciou hoje o Vaticano.

Américo Monteiro de Aguiar, conhecido como padre Américo, institui a Obra da Rua em janeiro de 1940, com a fundação da primeira Casa do Gaiato; o sacerdote nasceu em Galegos, Penafiel, a 23 de outubro de 1887, e faleceu no Hospital de Santo António, Porto, a 16 de julho de 1956, tendo sido sepultado na Capela da Casa do Gaiato de Paço de Sousa, Penafiel.

O reconhecimento das “virtudes heroicas” é um passo central no processo que leva à proclamação de um fiel católico como beato, penúltima etapa para a declaração da santidade; para a beatificação, exige-se o reconhecimento de um milagre atribuído à intercessão do agora venerável.

O processo de beatificação do Padre Américo foi introduzido em 1986.

PR/OC

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Agência ECCLESIA

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