Cardeal Mario Zenari afirma que carta do Papa «tem valor humanitário e de proximidade ao sofrimento da população»
Damasco, 25 jul 2019 (Ecclesia) – O núncio apostólico na Síria disse que a carta do Papa Francisco ao presidente Bashar al-Assad “é um convite para duplicar os esforços” para acabar com “o grande sofrimento da população e protegê-la”, depois de nove anos de guerra.
“A carta tem um valor humanitário e de proximidade ao sofrimento da população civil, particularmente o povo da província de Idlib. Se os combates não cessarem corre-se o risco de uma catástrofe humanitária de proporções enormes, a região há cerca de três mil civis”, disse D. Mario Zenari.
O Papa Francisco enviou uma carta ao presidente da Síria onde expressa a sua preocupação pela “situação humanitária” no país, nomeadamente em Idlib, uma cidade no noroeste da Síria, a 300 quilómetros da capital Damasco, e foi entregue pessoalmente a Bashar al-Assad pelo cardeal Peter Turkson, esta segunda-feira.
“Foi mais uma demonstração do quanto Papa Francisco tem no seu coração o destino da população síria e o quanto seja sensível aos seus sofrimentos que já duram nove anos”, assinala o cardeal italiano que integrou a comitiva.
Para D. Mario Zenari a carta é um convite para “duplicar os esforços” e, principalmente, para acabar com “o grande sofrimento da população civil e protegê-la” para encontrar uma solução política.
Desde abril deste ano, o combate pelo regime sírio ao que parece ser o derradeiro reduto dos rebeldes em Idlib já terá provocado a morte a pelo menos 700 civis e, segundo o núncio apostólico, “300 mil deslocados”.
“A primeira coisa a ser feita é a proximidade ao sofrimento e o chamado à observação dos direitos humanos internacionais que tem como prioridade a proteção da população civil e das infraestruturas como escolas, hospitais e mercados”, desenvolveu.
O povo sírio, acrescentou, “mesmo onde não caem bombas” declara-se sob “ameaça de uma guerra económica” porque existe a “bomba da pobreza” que segundo a ONU atinge cerca de “80% da população obrigada e viver abaixo da linha da pobreza”.
A guerra na Síria começou em 2011, em novembro desse ano o país foi suspenso da Liga Árabe, e sanções internacionais continuam, a 17 de maio deste ano o Conselho da Europa “decidiu manter as suas medidas restritivas contra o regime sírio e os seus apoiantes” até 1 de junho de 2020, “uma vez que continua a repressão da população civil”.
D. Mario Zenari assinala que “algumas sanções têm uma influência negativa” sobre a população e exemplifica com o inverno “muito rigoroso e longo” deste ano que se prolongou “até a Páscoa e não se encontrava gás e combustível para alimentar as pequenas estufas”.
“O embargo petrolífero e de seus produtos derivados teve um impacto muito negativo para a população”, sublinhou.
O núncio apostólico da Santa Sé salientou também que pelas suas “grandes proporções de mortos, feridos, de deslocados” a guerra na Síria “é a maior catástrofe humanitária provocada pelo homem desde a Segunda Guerra Mundial”
“Entramos no nono ano de conflito com sofrimentos inimagináveis para toda a população, de todas as fés, de todas as etnias. Os deslocados internos são mais de 6 milhões, e 5 milhões estão nos países vizinhos”, contabilizou ao sítio online ‘Vatican News’.
CB