Francisco alerta para riscos do clericalismo, «da mesquinhez, do abuso e da crueldade»
Cidade do Vaticano, 18 abr 2019 (Ecclesia) – O Papa Francisco presidiu hoje à Missa Crismal no Vaticano, reunindo os membros do clero presentes em Roma, e disse que todos os padres devem manter uma atitude constante de “contacto direto” com o povo, como Jesus.
“Este seguimento do povo não é calculista, é um seguimento sem condições, cheio de carinho. Contrasta com a mesquinhez dos discípulos, cujo comportamento face ao povo se revela quase cruel quando sugerem ao Senhor que o mande embora para irem procurar algo de comer”, declarou, na homilia da celebração, que marca o início da Quinta-feira Santa.
O pontífice destacou que, para os sacerdotes, este povo representa um “modelo evangélico”, convidando a olhar com atenção para “esta multidão com estes rostos concretos, que a unção do Senhor levanta e vivifica”.
“Aquele que aprende a ungir e a abençoar fica curado da mesquinhez, do abuso e da crueldade”, sustentou.
Francisco refletiu sobre três “graças” que caracterizam o relacionamento entre Jesus e as multidões: a graça do seguimento, a graça da admiração e a graça do discernimento.
O Papa contrapôs à atitude de Cristo algumas reações dos seus discípulos, que queriam afastar as populações.
“Creio que o clericalismo começou aqui: nesta atitude de querer assegurar-se o próprio alimento e comodidade, desinteressando-se das pessoas”, observou.
A intervenção recordou, em seguida, que o Evangelho de São Lucas apresenta “quatro grandes grupos que são destinatários preferenciais da unção do Senhor”: os pobres, os prisioneiros de guerra, os cegos, os oprimidos”.
Ungimos, sujando as nossas mãos ao tocar as feridas, os pecados, as amarguras do povo; ungimos perfumando as nossas mãos ao tocar a sua fé, as suas esperanças, a sua fidelidade e a generosidade sem reservas da sua doação”.
O Papa convidou os sacerdotes católicos a ter em atenção os “os traumas que deixam pessoas, famílias e populações inteiras fora de jogo, como excluídas e supérfluas, à margem da história”.
A homilia criticou ainda o que chamou de “colonização ideológica” na sociedade.
“Só a unção da nossa cultura própria, forjada pelo trabalho e a arte dos nossos antepassados, é que pode libertar as nossas cidades destas novas escravidões”, declarou Francisco.
Nesta manhã de Quinta-feira Santa, os padres das várias dioceses do mundo reúnem-se em volta dos seus bispos, para a celebração da chamada Missa Crismal, em que são abençoados os óleos dos catecúmenos e dos enfermos e consagrado o óleo do crisma, utilizado na celebração de vários sacramentos.
“Rezemos para que o Pai, ao colocar-nos com Jesus no meio do nosso povo, renove em nós a efusão do seu Espírito de santidade e faça com que nos unamos para implorar a sua misericórdia para o povo que nos está confiado e pelo mundo inteiro”, concluiu o Papa.
OC