Eugénio Fonseca, presidente da Cáritas Portuguesa
A falta de rendimento continua a ser o primeiro motivo que leva hoje alguém a pedir ajuda à Cáritas. No ano de 2018, foram 121.031 pessoas atendidas. Além do acompanhamento cuidado a todas elas, foram concedidos 72.718 apoios diretos seja, estes em alimentos, em prestações pecuniárias ou outros tipos de bens. No que respeita a respostas sociais (crianças e jovens, idosos, família e comunidade, toxicodependência, HIV/SIDA, sem-abrigo, violência doméstica ou migrações) foram beneficiadas 29.289 pessoas.
Para a Cáritas, por detrás destes números, estão pessoas que são a razão para lembrar aos que se comprometeram com o povo português em melhorar as condições de vida dos seus concidadãos que ainda estamos muito longe de o conseguir. É urgente, a implementação da Estratégia Nacional de Combate à Pobreza. Dada a multidisciplinaridade de atuações que este combate exige, é nossa convicção que o mesmo deve ser coordenado pela Presidência do Conselho de Ministros e monitorizado, anualmente, num “Debate da Nação” a realizar no Parlamento. O desígnio de um país, verdadeiramente democrático, nunca estará cumprido enquanto todos os cidadãos não tiverem condições mínimas de subsistência para poderem viver com dignidade.
Ainda que tenha reduzido ligeiramente o número global de atendimentos (em 2017 foi de 138 635) não há razão para descansar consciências. As situações de desemprego, onde se incluem o desemprego de longa duração, o trabalho precário, e a prática de baixos salários têm feito prolongar e agudizar as situações limite em que muitas famílias se encontram. Estas foram as que mais sofreram os efeitos da crise económica e financeira e para elas esta ainda não acabou.
Com o aproximar das eleições europeias temos presente os valores fundamentais que estão na base da construção inicial da União Europeia. A Cáritas defende uma Europa que respeite os direitos humanos. Queremos uma Europa que coloque a justiça, a solidariedade e o bem comum no centro de suas ações, prestando particular atenção aos mais vulneráveis. Que seja inclusiva e acolhedora para reforçar o desenvolvimento de sociedades seguras, onde os migrantes e as comunidades de acolhimento trabalhem em conjunto, reafirmando compromissos mútuos de participação e inclusão.
Termino, lembrando as palavras de D. José Traquina, presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana, na Mensagem que assinala a Semana Nacional Cáritas em curso: “formamos, na verdade, uma só família humana. Reconhecermo-nos todos como irmãos permite interrogarmo-nos, para lá de eventuais preconceitos, sobre as reais condições de vida desta família que somos.”