Liga Operária Católica/Movimento de Trabalhadores Cristãos
A Europa foi, ao longo dos séculos, espaço de encontro de povos e culturas muito diversos, que se traduziram, no último século, em valores como a paz, a cooperação, a solidariedade e a democracia. Valores sempre frágeis e a necessitar de cuidado, construídos na base da família e do trabalho, numa ideia do ser humano como pessoa, ser individual e relacional ao mesmo tempo, cidadão responsável, capaz de compromissos. São precisamente estas realidades que vêm sendo postas em causa nos últimos tempos por uma economia que “mata”. Mata a pessoa, a família, a participação, as pequenas empresas, o ambiente, a democracia. Esta economia absolutiza o dinheiro, a tecnologia e o poder, colocando-os acima dos interesses dos cidadãos, mais concretamente dos trabalhadores e trabalhadoras precarizadas, flexibilizados, descartáveis, transformados em objetos, úteis enquanto produzem. Economia que instala o individualismo nas relações laborais, rejeitando contratos e acordos coletivos de trabalho, instala a concorrência, também entre trabalhadores, e só promove o mérito para atingir objetivos.
Ora os trabalhadores, enquanto pessoas, não se podem conformar com esta situação onde: o desemprego é uma arma; o trabalhador não pode amar nem se sente realizado com o que faz; não consegue o salário suficiente para construir e manter uma família; as desigualdades são abismais e continuam a crescer à vista de todos; os mais pobres não podem participar da mesa que devia ser comum; a paz e a democracia ficam ameaçadas.
A nossa ação como Movimento de Trabalhadores Cristãos vai na linha de garantir que o Trabalho Digno e a dignidade humana possam ser salvaguardados e protegidos em todas as circunstâncias. Para nós a pessoa é sagrada porque é imagem de Deus, criada para ser feliz pelo trabalho, e não pode ser reduzida a um objeto. Utilizamos na revisão de vida, a metodologia de Joseph Cardijn assente em 3 palavras: VER, JULGAR e AGIR para conhecer, partilhar e viver as experiências dos trabalhadores. Procuramos fomentar a participação de cidadania e a cooperação com os sindicatos e outras organizações. Tentamos envolver a Igreja, a política e a sociedade civil no debate sobre a vida dos trabalhadores, dos migrantes, dos pobres e dos mais desfavorecidos. Continuaremos a aprofundar esta reflexão a nível local, nacional, europeu e internacional. Também com os outros movimentos de trabalhadores cristãos da Europa (MTCE) e do Mundo (MMTC), com o Episcopado nacional e europeu e com a OIT- Organização Internacional do Trabalho, no âmbito da celebração do seu centenário, queremos fazer chegar as nossas aspirações e partilhar os nossos contributos. Acreditamos na capacidade e no sentido de responsabilidade que está dentro de cada ser humano e das estruturas representativas dos trabalhadores para configurar o futuro do trabalho como suporte de uma vida digna para todos. Esta é também a razão pela qual achamos inadmissível fechar a porta aos emigrantes, vendo neles apenas ameaças ao nosso bem-estar. Afinal, foi do encontro com outros povos e culturas que se desenharam os valores que agora apreciamos.
No mês de novembro tivemos em Portugal a conferência internacional Web Summit, que falou de tecnologia, digitalização e negócios. Pouco ou nada falou das consequências resultantes para o trabalho e para os trabalhadores esquecendo que o ser humano sem trabalho não se realiza, não contribui para o desenvolvimento social e não tem meios económicos para sobreviver.
A LOC/MTC considera que a sociedade tem de reavaliar as bases em que se está a construir e quer estar na linha da frente na construção de um novo humanismo, de uma nova cultura de encontro e responsabilidade, contribuindo deste modo para dignificar o trabalho na era digital, numa justa procura da felicidade para todos.