No Vale dos Cristãos, na Síria, a ajuda da Fundação AIS faz milagres
Aprendiz de anjo-da-guarda
Majd Jalhoum era dentista em Homs, a cidade onde começou a guerra na Síria. A violência dos combates obrigaram-na a fugir, tal como milhares de pessoas. Hoje vive em Marmarita, uma pequena localidade no chamado Vale dos Cristãos. A pobreza no país é tanta que ela decidiu que tinha de fazer alguma coisa. A sua consciência obrigou-a a agir. Hoje é voluntária. Trabalha com a Fundação AIS. Ela é um dos rostos da solidariedade da Igreja neste país.
O Vale dos Cristãos não tem muitas marcas da guerra que tem martirizado a Síria nos últimos anos. Parece que escapou ao conflito. No entanto, por lá travaram-se duras batalhas mas nada que se compare com Alepo, por exemplo. Apesar disso, a guerra está presente nas memórias, nas palavras e até no olhar dos que vivem neste vale. Ali, quase todos são refugiados. Fugiram da violência e da morte. Fugiram para o Vale dos Cristãos. Praticamente todos os que vivem no Vale dos Cristãos dependem da ajuda da Igreja. Quase todos ficaram sem nada. A guerra levou-lhes tudo: familiares e amigos que morreram, a casa, o trabalho, as economias. Estão vivos mas estão sem nada. Ali todos têm uma história para contar. Majd Jahoum era dentista em Homs mas foi forçada a deixar a cidade por causa da violência da guerra. Os seus pais e irmãos decidiram fazer as malas rumo aos EUA. Ela podia ter ido com eles, mas decidiu ficar no país. Hoje, está no Vale dos Cristãos e é voluntária. Trabalha para a Igreja. É um dos rostos da Fundação AIS junto da comunidade cristã. Recém-formada em medicina dentária, com um futuro promissor à sua frente, não foi fácil para Madj ficar na Síria e não seguir para os EUA com a família. Foi uma decisão muito pensada, muito rezada. “Estou aqui graças à minha fé. Em todo este tempo, compreendi que o meu destino era ficar aqui e ajudar todas estas pessoas”, explica à Fundação AIS, acrescentando: “a minha inspiração foi e é Jesus”.
Pequenos gestos
Se Majd Jahoum tivesse acompanhado os pais para os EUA, o trabalho que a Igreja desenvolve ali, no Vale dos Cristãos, não seria o mesmo. Majd trabalha no Centro de Ajuda de São Pedro, que é apoiado directamente pela Fundação AIS. O mais importante de tudo é a forma como ela lida com as pessoas, como sorri. A ternura que coloca nos mais pequenos detalhes. Isso é que faz toda a diferença. Majd era dentista em Homs. Agora é aprendiz de anjo-da-guarda no Vale dos Cristãos. “Cuidamos das famílias desalojadas. Inicialmente, começámos com uma ajuda simples, cabazes de alimentos e ‘kits’ de higiene. Mais tarde, a Fundação AIS começou a apoiar-nos e passámos a ter projectos maiores, de apoio às cirurgias, equipamento médico, tratamentos, mas também nos ajuda com bolsas de estudo, apoio às rendas para as famílias muito pobres…” Majd faz questão de visitar essas famílias todos os dias. Ela conhece todas as pessoas. Sabe de cor as suas histórias, os seus lamentos. Já partilhou com eles as lágrimas do sofrimento causado pela guerra. Ali, no Vale dos Cristãos, todos vivem da solidariedade da Igreja. Na Síria, o passado é um lugar terrível mas o futuro mostra-se ainda desconhecido. Se as memórias dos anos de guerra assustam, o futuro também intimida. Majd podia estar agora nos EUA com a família, a exercer a sua profissão de dentista, mas está ali, no Vale dos Cristãos, a servir a comunidade. “Sinto que aquilo que fazemos faz realmente a diferença. Estas famílias dependem de nós.” Por vezes, o Centro de Ajuda de São Pedro é confrontado com situações muito complexas. Alguém que precisa de uma operação, uma família que acaba de chegar de mãos vazias, medicamentos que se esgotam nas prateleiras… Alimentos ou vestuário que não chegam para todas as necessidades. Por vezes, as coisas parecem difíceis, mas acabam sempre por se resolver. “Agradecemos a Deus todos os dias. Sabemos que são as mãos de Deus que os fazem”, diz Majd Jalhoum. Na verdade, é ela que empresta as suas mãos a Deus…
Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt