A missão discreta da Irmã Samia Jriej, em Homs, Síria
Pequenos milagres
A cidade de Homs esteve no centro da guerra na Síria. Por lá travaram-se encarniçadas batalhas que trouxeram sofrimento e morte. No meio do caos, algumas irmãs do Sagrado Coração faziam o que podiam em socorro das populações. E nunca deixaram de erguer as suas vozes ao Céu em oração, mesmo quando as bombas caíam ao lado da sua casa.
Curar corações que choram. Numa simples frase cabe toda a vida, toda a missão da Irmã Samia Jriej, em Homs, a terceira cidade mais importante da Síria. Foi lá que começou o movimento de protesto contra o presidente Bashar al Assad, em 2011, que depois degenerou em guerra. Guerra que ainda não acabou. Aliás, dificilmente a guerra algum dia terminará para todas as pessoas que viveram o susto das bombas, o rebentar da artilharia, o zumbido das balas assassinas. Homs assistiu a algumas das mais encarniçadas batalhas nesta guerra que já entrou no oitavo ano. Até ao início de 2014, a chamada cidade velha de Homs ainda estava debaixo do controlo de milícias armadas. Cerca de três mil pessoas viveram aí encurraladas, durante meses, sem acesso a comida e a medicamentos, com os céus a serem sulcados por aviões que despejavam bombas e morte. A guerra em Homs é agora apenas uma dolorosa memória. É tão dolorosa que há pessoas que ainda começam a chorar quando recordam o barulho insuportável das metralhadoras, as bombas a deflagrarem cobardemente, deixando rios de sangue e gritos de dor. No meio do caos e do medo, as pessoas de Homs sabiam que podiam contar, no entanto, com o sorriso fraterno, com a ajuda indispensável das Irmãs do Sagrado Coração. Durante todos estes anos, elas têm sido uma espécie de anjos da guarda dos que choram, dos que sofrem. Dos que têm medo.
A irmã catequista
Uma das irmãs é Samia Jrej. Todos a conhecem. Ela é jovem ainda, tem um sorriso doce, uma voz meiga e sabe que o trabalho que a sua congregação desenvolve na cidade de Homs é absolutamente vital. Além da catequese, de que Samia Jrej é a coordenadora, além do trabalho pastoral, as irmãs abraçaram outra frente de batalha na guerra pela reconquista da esperança. É preciso devolver sorrisos às crianças e jovens que tantas vezes não conheceram outra realidade que a de bombardeamentos, de pessoas feridas, de gritos de morte. A Irmã Samia aponta o dedo para o outro lado da rua, a apenas meia dúzia de metros, e mostra o local onde um dia deflagrou uma bomba. Foi uma explosão tão poderosa que destruiu parte do telhado da casa das irmãs. É difícil sobreviver-se a memórias tão cheias de violência. A catequese ajuda a isso e tem feito pequenos milagres. São cada vez mais os jovens que procuram as irmãs, que entendem que elas simbolizam a paz, a concórdia. O amor. E como os Sírios precisam tanto dessa vitamina que é o amor. As Irmãs do Sagrado Coração, em Homs, dedicam ainda uma atenção especial às crianças e jovens com dificuldades intelectuais. É preciso olhar para todos. Rezar por todos. Com elas ninguém fica para trás. As irmãs olham para o futuro com a confiança da fé. Mas não esquecem o passado. “Há muitas crianças que viram coisas terríveis durante a guerra. Vir para aqui – explica ela a uma equipa da Fundação AIS que esteve recentemente em Homs – ajuda-as a curar-se e a ocupar a mente com algo que não seja a guerra…” Sempre que uma criança entra na capela do centro, se ajoelha e começa a rezar, a irmã esboça um sorriso. O trabalho das Irmãs do Sagrado Coração é apoiado pela Fundação AIS. Já o era nos tempos encarniçados da guerra e continuará a ser até que as feridas sarem por completo. A paz é muito mais do que a ausência de guerra. A Irmã Samia sabe que a verdadeira paz só se atinge com corações sossegados. E que nada se consegue sem oração. As irmãs, na sua simplicidade, estão a conseguir curar corações que ainda choram. São pequenos milagres que acontecem ali, em Homs, na Síria.
Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt