LUSOFONIAS – Morabeza de Cabo Verde

Tony Neves

A Basílica da Santíssima Trindade encheu-se de Missão na tarde de 7 de Julho. A grande (e rica na diversidade) Família Espiritana peregrinou a Fátima e a Missa de abertura foi animada por um grupo coral vindo de Loulé (Algarve). A nota de relevo é que a maioria dos elementos deste coral é de origem caboverdiana. E estas raízes deram tom e ritmo à celebração, com batuques e cânticos em crioulo. A grande assembleia celebrou com muita alegria a Eucaristia e vibrou, em particular, com os momentos coreografados da entronização da Palavra e de Ação de Graças.

Cabo Verde voltou, mais uma vez, à minha vida. Tinha eu 20 e poucos anos quando tudo começou: estava a terminar os meus estudos de Teologia, na Universidade Católica, em Lisboa, quando o meu trabalho pastoral se começou a fazer na Paróquia da Cruz Quebrada, sobretudo no bairro do Alto de Santa Catarina, hoje já destruído, após realojamento das pessoas. O bairro era de uma pobreza extrema, mas o povo, de maioria caboverdiana, tinha uma enorme alegria de viver e uma fé muito profunda. Dava gosto animar as crianças, os jovens e o conjunto da comunidade, com reuniões, festas e a celebração semanal da Missa, numa barraca lá do bairro transformada em capela.

Mais tarde, já como padre, coordenei o Projeto ‘Ponte 2002’, com uma quinzena de Jovens Sem Fronteiras na Calheta de S. Miguel, em Cabo Verde. Foi um excelente mês de Agosto, cheio de formações, celebrações e festas com um povo que vive a sério a ‘morabeza’ (acolhimento fraterno) e, quando parte para o estrangeiro, guarda sempre uma enorme ‘sodade’, como imortalizou e globalizou a cantora Cesária Évora. Os jovens e eu regressamos mais ricos do que partimos. É contagiante a alegria deste povo, apesar de tantas dificuldades. É testemunhante a fé desta boa gente, apesar das contrariedades que a história foi provocando na sua vida sofrida.

Por Missão, tenho visitado Cabo Verde e fico feliz por ver que é um país que cresce a todos os níveis e que nunca apostou na guerra como caminho de solução para problemas. É um povo que, sendo obrigado a fazer as malas e partir, nunca esquece as suas raízes e lá volta sempre que pode.

Fico feliz pela cultura caboverdiana continuar a ser reconhecida dentro e fora de portas. Foi bom ouvir a voz de Cesária Évora num restaurante da Polónia, como música ambiente. É óptimo que o Prémio Camões deste ano tenha sido atribuído a Germano Almeida. É promissor de futuro ver em palcos jovens deste país lusófono a mostrar ao mundo a riqueza da música caboverdiana que não se resume a mornas e coladeiras!

E, claro, como encheu o peito este povo ao ver o Papa Francisco a escolher para Cardeal D. Arlindo Furtado! Foi, certamente, um gesto de reconhecimento da fé deste povo crioulo que tem o português como língua oficial.

Força, Cabo Verde!

 

 

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Agência ECCLESIA

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