D. Manuel Linda afirma que um pedido da morte é um «grito de acusação» a quem nega «proximidade afetiva»
Porto 09 mai 2018 (Ecclesia) – O bispo do Porto pediu hoje que as decisões sobre a legalização da eutanásia não sejam fruto de uma “pretensa ‘modernidade’”, mas assentem na “responsabilidade ética” dos deputados, e referiu que o pedido da morte é um “grito de acusação”.
“Tem de se perguntar se, quando alguém diz que quer morrer, essa linguagem é unívoca ou não estará antes a lançar um grito de acusação àqueles que, «criminosamente», lhe negam o conforto e a proximidade afetiva, até porque, hoje, os modernos analgésicos suprimem praticamente toda a dor física”, afirmou D. Manuel Linda.
O bispo do Porto divulgou hoje um documento, durante um encontro com jornalistas, no contexto do Dia Mundial das Comunicações Sociais, que se assinala no próximo domingo, com um “contributo para um diálogo cultural sério” sobre a legalização da eutanásia, em debate no Parlamento a 29 de maio.
“Espera-se que as decisões a tomar sejam fruto de uma sadia cultura ético-social e não de qualquer pretensa «modernidade» que outra coisa não é do que o regresso ao pior dos passados. Espera-se muito da responsabilidade ética dos nossos deputados”, sublinhou D. Manuel Linda.
Para o bispo do Porto, não está apenas em causa ser “a favor e contra” a eutanásia, antes considerar a “teia de relações sociais” que se rompe ao legalizar a morte a pedido, nomeadamente “a confiança na medicina” e “o pavor de associar doença e velhice com a possibilidade de ser eutanasiado”.
D. Manuel Linda considera também que admitir a eutanásia implica a “negação do velho princípio estruturante da ética médica do “primum non nocere” (primeiro, não prejudicar)” e afeta “a desconfiança nas relações familiares, os interesses escondidos por detrás de uma falsa piedade, o remorso perante uma situação violenta e irreversível”.
“A sociedade tem de se interrogar se a frieza das relações é inevitável, se sob a capa da defesa do «direito a morrer com dignidade» não se esconde o mais cruel «descarte» daqueles em quem não se está interessado e se se gasta a mesma energia e dedicação no cuidado dos anciãos e doentes que se usa para defender a «morte a pedido»”, acrescenta o bispo do Porto.
D. Manuel Linda sublinha também no seu documento, publicado na página da internet da Diocese do Porto, a necessidade de não acentuar “a dinâmica social da fragmentação das relações familiares” de que o “recurso ao internamento dos mais velhos em lares e casas de recolhimento” é um sinal, diz que “o que mais deveria preocupar os dirigentes sociais é o desaparecimento da ética” e o facto de mais de um quarto da população portuguesa ser pobre ou viver em risco de pobreza.
“Este sim, é o tema que deveria preocupar os dirigentes sociais”, alertou o bispo do Porto.
No dia 29 de maio a Assembleia da República tem agendados debates parlamentares sobre os projetos de lei sobre a legalização da eutanásia.
PR