Bangladesh: A história de fé de um povo que usa com «orgulho» o apelido português

D. Bejoy D’Cruz falou à Agência ECCLESIA sobre os 500 anos de evangelização do seu país

Lisboa, 31 jan 2018 (Ecclesia) – A Igreja Católica no Bangladesh está a celebrar 5 séculos de evangelização, iniciada por comerciantes portugueses em 1518 e cujos sinais ainda hoje permanecem muito vivos naquela nação asiática.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, o bispo de Sylhet, D. Bejoy D’Cruz, recorda uma história que começou a ser escrita “no porto de Chittagong”, então um importante “ponto de comércio” do Bangladesh.

Mais tarde, por volta de 1598, chegaram os primeiros missionários lusos, os jesuítas Francisco Fernandes e Domingos de Sousa, que “estabeleceram várias igrejas naquela região”.

“É assim também que hoje, em especial nas arquidioceses de Chittagong, de Daca e também na Diocese de Rajshahi, a maioria da população tem um apelido português”, salienta o bispo.

D. Bejoy D’Cruz é um exemplo disso mesmo, com o apelido ‘da Cruz’, mas no território encontramos também vários outros nomes familiares ao povo português, como Rosário, Costa ou Gomes; várias construções também evocam essa presença, como a igreja do Santo Rosário, em Daca, que acolhe as lápides dos primeiros missionários portugueses, construída em 1677.

O bispo de Sylhet realça o “orgulho” que sente em poder assinalar estes 500 anos, escrita através da transmissão da fé mas também do apoio que os missionários portugueses deram – mais tarde “também os missionários britânicos” – a um povo cuja vida tem sido marcada por múltiplos desafios, como a pobreza extrema (o Bangladesh é um dos países mais pobres do mundo), a desigualdade social e a discriminação religiosa.

Nesta nação asiática, 90 por cento da população é muçulmana e a relação com as minorias, ainda que não tão grave como em outros países, não deixa de ser complicada.

“Graças a Deus, o Bangladesh não é um país fundamentalista, não temos a leia da sharia ou a lei da blasfémia, podemos dizer que somos um país muçulmano moderado. Mas isso não significa que todas as pessoas aqui sejam consideradas iguais. Há discriminação, em especial sobre as minorias”, realça o bispo de Sylhet.

Este contexto é visível sobretudo na relação entre a maioria muçulmana e os vários povos indígenas existentes no país (como os chakmas ou os bihari), que segundo D. Bejoy D’Cruz é marcada “de tempo a tempos” pelo “medo de agressões e ataques”.

Na Diocese de Sylhet, criada em 2011, uma das grandes preocupações da Igreja Católica está centrada nas comunidades que trabalham nas plantações de chá.

Anteriormente integrada na Arquidiocese de Daca, a Diocese de Sylhet conta com uma população de 10 milhões de pessoas – um território em extensão muito semelhante a Portugal – e dessa fatia demográfica perto de 20 mil pessoas são católicas.

“Esta é uma zona de campos de chá, de jardins de chá, temos cerca de 200 campos, e neles trabalham pelo menos 600 mil pessoas, na sua maioria hindus. Pessoas que por volta do ano de 1850, durante o domínio britânico, vieram do nordeste da Índia para trabalhar. Disseram-lhes que teriam boas condições de vida, mas ainda hoje vivem em pobreza extrema”, lamenta D. Bejoy D’Cruz, que visita Portugal a convite da Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre.

É neste ambiente que a Igreja Católica procura intervir e dar aos que mais precisam perspetivas de futuro, de educação para os filhos, de acesso a serviços básicos como a saúde.

“Boa parte dos católicos e cristãos da minha diocese trabalham nestas plantações, e recebem apenas um dólar por dia de trabalho, muito pouco para sobreviver. Vivem numa situação muito difícil e a Igreja Católica é uma grande esperança para eles”, frisa o bispo.

Junto às plantações de chá, a Igreja Católica ergueu mais de 50 escolas, um hospital e duas clínicas.

Esta missão é cumprida também em parceria com as irmãs missionárias de Madre Teresa, que acolhem nas suas instalações solidárias e de saúde mais de 300 pessoas carenciadas.

Muitos hindus, “ao verem a bondade da Igreja Católica, o seu trabalho a favor dos pobres”, começam a ficar “abertos a receber a fé cristã”.

“Cada ano, na minha diocese, tenho cerca de 100 novos batismos de adultos”, realça D. Bejoy D’Cruz, que pede a oração e o apoio dos portugueses para que a Igreja Católica possa continuar a florescer nesta nação asiática.

JCP

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