Obra lançada pela ECCLESIA e Centro de Estudos de História Religiosa sublinha mudança na consciência católica e seu papel na história da oposição ao regime
Lisboa, 23 abr 2024 (Ecclesia) – O novo livro sobre as “permanências, ruturas e recomposições” do 25 de Abril, lançado pela Agência ECCLESIA e o Centro de Estudos de História Religiosa (CEHR) da UCP, sublinha o impacto da guerra no “conflito de paradigmas sobre o país e a religião”.
“Beneficiando de fortes influências de dinâmicas internacionais, contando com diversos protagonistas, envolvendo diferentes organizações e sectores sociais e culturais, dos posicionamentos em relação à guerra colonial resultaram importantes contributos para a transformação da sociedade portuguesa, num processo que viria a culminar em abril de 1974”, indica a equipa coordenadora da publicação, do CEHR.
O livro dedica a sua primeira parte ao tema da guerra, ligada à “gestação de uma nova consciência social e política”, com referências à “religiosidade portuguesa vivenciada em Fátima” e à “tomada de consciência cada vez mais alargada de sectores do catolicismo em Portugal”.
Essa “viragem na consciência católica, indicam os investigadores, vai influir “de forma crucial, na história da oposição ao regime”.
A primeira parte do livro ‘25 de Abril. Permanências, ruturas e composições’ é coordenada por Edgar Silva, investigador do CEHR, para quem é necessário “valorizar o alcance e os profundos impactos do magistério de Paulo VI em relação à guerra, na inequívoca condenação do colonialismo, nos compromissos em favor de uma cultura da paz, para a mudança da consciência católica em Portugal quanto à Guerra Colonial”.
Em declarações à Agência ECCLESIA, o autor sublinhou que a guerra foi “determinante para uma mudança de consciência, para uma nova consciência social, uma nova consciência política em Portugal, particularmente para vastos setores do catolicismo”.
Edgar Silva destaca a intervenção que a Igreja Católica tinha no plano internacional, particularmente as intervenções sobre as questões da paz e contra a guerra dos Papas Pio XII, João XXIII e Paulo VI.
“Vários documentos da Igreja tiveram um contributo decisivo para dar alento a tantos dos setores católicos que precisavam de uma mensagem de coragem, de incentivo. Tudo isso foi um movimento muito importante para o 25 de Abril, para a transformação da sociedade portuguesa”, acrescenta.
A respeito da contestação à guerra colonial, o historiador António Matos Ferreira assina um texto sobre a vigília da Capela do Rato, em Lisboa, na passagem de ano de 1972 para 1973, ato que “transportava um percurso de meia década de meios católicos que tinham assumido com prioritário da sua atuação a ‘luta anticolonial’”.
“Esta vigília foi expressão de um percurso convergente que tornará evidente a contestação e a condenação da guerra colonial. Interpretava, portanto, uma atitude muito mais ampla de mudança de uma consciência social e eclesial”, escreve o investigador do CEHR.
Para o especialista, a Capela do Rato “correspondia a uma comunidade capaz de acolher e não rejeitar uma iniciativa de denúncia da guerra colonial e de causar impacto mais amplo, para além das fronteiras do catolicismo”.
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