Exposição e colóquio evocam o envolvimento dos católicos na oposição à ditadura, da vigília na Igreja de São Domingos à vigília na Capela do Rato, que o presidente da República quer homenagear com a «Ordem da Liberdade»
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Lisboa, 08 dez 2022 (Ecclesia) – O presidente da República Portuguesa afirmou hoje que deseja assinalar o contributo dos cristãos na conquista da democracia e da liberdade, sublinhando que a paz sem condições socioeconómicas justas “é uma trégua”.
“Não há paz onde há fome, onde há insjustiça social”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa no Colóquio ‘A Paz é Possível: afirmação impossível?’, que decorreu na Igreja de São Domingos, em Lisboa.
O colóquio seguiu-se à inauguração da exposição ‘A paz é possível. A Vigília da Capela do Rato e a contestação à Guerra Colonial’, que assinala os 50 anos da iniciativa de um grupo de cristãos, como sinal de oposição à ditadura.
Para Marcelo Rebelo de Sousa, onde não existirem “condições sociais e económicas que contribuam para a paz, nunca mais haverá paz”.
Referindo-se à paz na Ucrânia, o presidente da República afirmou que o fim da guerra neste país passa por “construir a paz em muitos outros sítios e num contexto global”.
“É preciso qualificar a paz, trazê-la para o terreno”, sustentou, acrescentando que não gosta de “amar a paz em abstrato”.
Eu não sei se gosto muito da ideia de amar a paz em abstrato, basta amar os outros. A nossa realização passa pelos outros e tem de ser com os outros. Se cada pessoa se realiza com os outros, está a construir a paz”.
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O colóquio contou com a participação a intervenção da ministra da Defesa, Helena Carreiras, e do professor universitário Luís Moita, que participou na vigília da Igreja de São Domingos, a 31 de dezembro de 1968, e na vigília da Capela do Rato, quatro anos depois, assim como do padre António Janela, que fazia parte da equipa sacerdotal da Capela do Rato, em 1972.
Para a ministra da defesa, “a Paz tem de ser possível e ter de ser desejava, mas a verdadeira pergunta é de que paz estamos a falar?”.
“É preciso qualificar a paz. Falar da paz com adjetivos”, sublinhou, acrescentando que tem de ser “resultado e condição de liberdade e de dignidade”.
O padre António Janela recordou a sua participação na vigília da Capela do Rato e acentuou a evolução do conceito de paz, que, com o Papa Paulo VI, deixou de ser um debate sobre a ausência da guerra e passou a ser uma condição assente na verdade, na justiça, na liberdade e na solidariedade, como indica na encíclica “Pacem in Terris” (1963).
“Não há paz se falha uma dessas colunas”, realçou o sacerdote, que viveu os acontecimentos da Capela do Rato, há 50 anos, indicando também a urgência de uma “educação para a paz”.
No final do colóquio, promovido pela Comissão Comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril, o presidente da República disse que, como houve o reconhecimento pelo envolvimento dos militares na conquista da liberdade, “era justo que houvesse um sinal em relação ao contributo cristão nesse processo”.
“Ando com a ideia de ter um gesto simbólico em relação à Comunidade do Rato”, anunciou Marcelo Rebelo de Sousa, acrescentando que a “Ordem da Liberdade” pode significar a gratidão pelo “papel mais próximo” da comunidade no processo que levou ao regime democrático.
PR