Nota da Comissão Episcopal da Missão e Nova Evangelização
Na sexta e sábado que precedem o IV Domingo da Quaresma de cada ano, tem lugar a iniciativa “24 horas para o Senhor”. Se o Papa Francisco, na Bula Misericordiae vultus, de abril de 2015, apela a que esta iniciativa seja implementada em todas as dioceses, a sua promoção ficou a cargo do Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização, que acaba de publicar subsídios pastorais para este ano (ver Documento), que, conforme for possível, se realiza nos dias 12 e 13 de março e tem como tema: “Ele perdoa todas as culpas”.
Duas atividades caracterizam, desde o início, esta iniciativa: a Adoração Eucarística, pessoal e coletiva, e a Celebração do Sacramento da Reconciliação. São dois dos principais pilares sobre os quais assenta a vida e a dinâmica cristãs. Sem eles, a promoção da Nova Evangelização dificilmente avançará. Cada cristão e cada comunidade cristã estão sempre desafiados a promover a revitalização e o aprofundamento do culto eucarístico e nele fundamentar a sua vida cristã e a dinâmica pastoral.
O ser da Igreja expressa-se na Eucaristia. A Igreja só é Igreja, só tem sentido como Igreja, só é Sacramento de Cristo, enquanto comunidade reunida à volta do memorial da Vida, Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. A verdadeira vida cristã nasce a partir de dentro, a partir duma experiência com o Ressuscitado, com o mesmo Jesus histórico que está presente na Igreja que é o seu Corpo. É uma experiência que torna presente o passado, dinamiza o presente e provoca o futuro em fidelidade à obra de Jesus, uma fidelidade criativa e criadora pela força do Espírito Santo, uma fidelidade geradora de comunhão e fraternidade, uma fidelidade que se traduz em participação e corresponsabilidade. Tal como Deus Pai se solidarizou com Jesus em defesa de todos os injustiçados da história, tal deve ser o agir da Igreja, amando, lavando os pés às dores do mundo, tal como Jesus fez. Se é fonte e meta de toda a vida comunitária, a Eucaristia deve ser celebrada em comunidade e para a comunidade, promovendo a participação dos fiéis, como sinal do compromisso comunitário na transformação das realidades terrenas à luz do Evangelho.
Para além de adorar, valorizar e promover a devoção à Santíssima Eucaristia, donde tudo deve partir e para onde tudo deve convergir, esta iniciativa das “24 horas para o Senhor”, junta a si a celebração do Sacramento da Reconciliação, para que os fiéis possam fazer a experiência da misericórdia do Senhor. A misericórdia, conforme lemos na Bula do Papa e se acentua também nos referidos recursos pastorais, é a palavra-chave que, na Sagrada Escritura, indica o agir de Deus para connosco. Não é uma ideia abstrata, mas uma realidade concreta, pela qual Deus revela o seu amor visceral, profundo, natural, feito de ternura e compaixão, de indulgência e perdão (cf. MV6).
Na experiência da misericórdia vivida no sacramento da Reconciliação, se muitos fortalecem a sua caminhada em direção à santidade, muitos outros encontram o caminho para voltar ao Senhor e descobrir o sentido da sua própria vida, permitindo que o Pai faça festa, tal como aconteceu com o regresso do filho pródigo.
É na celebração deste sacramento, onde o confessor acolhe respeitosamente e tira as sandálias diante da terra sagrada que é o outro, como afirma o Papa Francisco. É aí que tantos e tantas, jovens e adultos, fazem a experiência do abraço misericordioso de Deus Pai que perdoa, liberta e anima a viver uma vida verdadeiramente nova.
Tantas vezes se nota, e bem, uma saudável preocupação com o espaço litúrgico e tudo o que envolve a celebração da Eucarística e do Batismo, e alguma negligência no que é preciso para acolher adequadamente quem se aproxima do sacramento da Reconciliação. Sendo o Sacerdote a via ou o instrumento da misericórdia de Deus, aquele que atua in persona Christi, Deus também fala através da beleza, da arte e da dignidade com que se acolhe, para ouvir, aconselhar e perdoar, em nome do Senhor e da sua Igreja. Por isso se apela, não só à disponibilidade dos sacerdotes, mas também à sua própria apresentação e à dignidade do local da celebração.
Como realça a publicação da Comissão Pontifícia da Promoção da Nova Evangelização para as “24 horas para o Senhor”, este ano, até devido às restrições nas Celebrações comunitárias, pode ser uma oportunidade para aprofundar, pessoalmente e em família, a mensagem da misericórdia de Deus e a noção de pecado, a importância da Palavra de Deus e da oração na Confissão, bem como do exame de consciência e da grandeza do dom do Sacramento. A referida publicação tem várias propostas e relata dois testemunhos de pessoas reencontradas consigo mesmas e com Deus, realçando, deste modo, a importância do testemunho pessoal como forma de contar a fé e evangelizar, também em ordem ao perdão dos pecados.