Igreja São Francisco e Capela dos Ossos, Évora
É no coração da cidade de Évora, entre o aglomerado do seu casario e o buliço da cidade, que a Igreja de São Francisco manifesta todo o seu esplendor e magnificência. Aqui nasceu a primeira casa franciscana, no século XII e continua a ser hoje um testemunho da mensagem do Poverello de Assis.
A sua relevância e os desgastes do tempo, aconselhariam a sua reedificação e ampliação nos finais do século XV. Respeitando os limites originais, as três naves foram substituídas pela nave única, coberta pela arrojada abóbada gótico-manuelina que atinge vinte e quatro metros de altura. É a maior nave peninsular e acolhe um património de incomensurável valor.
O Convento de São Francisco de Évora está intimamente ligado à história dos monarcas da expansão marítima portuguesa que elegeram a cidade do Sem Pavor como a segunda cidade do Reino. Aqui se albergavam sempre que os ares de Lisboa o aconselhavam. Dom Afonso V escolheu mesmo este espaço conventual para nele se instalar nas suas deslocações à cidade-museu contribuindo, deste modo, para o seu engrandecimento como capela real. A ligação à realeza ostenta-se nos símbolos da magnificente nave de abóbada ogival: a cruz da Ordem de Cristo e os emblemas dos reis fundadores, D. João II e D. Manuel I.
A sua traça arquitectónica gótico-manuelina está bem patente nas ameias e torres das fachadas bem como no pórtico principal e na abóbada que evidencia a espiritualidade do lugar. A extensa nave do templo, é ladeada por dez capelas, compostas por retábulos de talha dourada e policromada (século XVIII) e de estuques (século XIX). O retábulo actual da capela-mor é da segunda metade do século XVIII, em mármores alentejanos. Nele se expõem as grandes imagens de São Francisco e São Domingos, como era hábito nas igrejas franciscanas. Nos alçados da capela estão duas belíssimas janelas marmóreas renascentistas, de onde a Família Real assistia aos ofícios religiosos (no século XVI).
Data dos séculos XVI-XVII a construção da Capela dos Ossos, edificada no primitivo dormitório dos frades. A sua construção partiu da iniciativa de três frades franciscanos como espaço de reflexão sobre o carácter efémero e transitório da vida. Emblemática é a frase que domina o frontispício da capela: “Nós, ossos que aqui estamos, pelos vossos esperamos!” A persuasão que este lugar exerce nos visitantes tornou-o um dos ex-libris mais relevantes da cidade de Évora.
Fruto das recentes obras de requalificação que abrangeram todos os domínios, desde o reforço da estrutura ao restauro integral das obras de arte, foi recuperado o espaço do antigo dormitório dos frades onde está patente uma magnífica exposição de arte sacra. As galerias superiores foram também recuperadas para uma exposição de presépios, cedida para o efeito pelo General Canha da Silva. Do seu terraço acessível, pode disfrutar-se duma luminosa vista sobre a cidade.
Segundo uma tradição consistente, aqui está sepultado, em lugar incerto, o primeiro dramaturgo português, Gil Vicente (1536).
Santuário Nossa Senhora D’Aires – Viana do Alentejo
A pouco mais de vinte quilómetros de Évora, a Vila de Viana do Alentejo revela-se com toda a sua dignidade de Vila transtagana, rica de história e de património. Nos seus arredores, transposto o perímetro urbano, somos surpreendidos por uma erupção de fogo branco, nascido da terra e erguido, como um hino, pela devoção dum povo: é o Santuário de Nossa Senhora d’Aires. Plantado na planície, brilha como uma prece inesperada e de uma beleza ímpar que extasia o peregrino e acolhe, dadivoso, o visitante.
Reza a memória que um lavrador, já em tempo de Reconquista Cristã, ao lançar o arado à terra, encontrou uma imagem de Nossa Senhora da Piedade de pedra de Ançã, num pote de barro. Tal achamento foi recebido como uma bênção do céu e sinal de protecção divina. O templo singelo, então erguido, depressa se tornou lugar de devoção e de peregrinações. De muitos lugares, afluíam devotos, romeiros e peregrinos para pedir e agradecer à Senhora d’Aires as graças do céu.
No século XVIII, sendo exíguo o espaço, o P. João Batalha que também era arquitecto, empreendeu a ampliação da ermida quinhentista, dando uma configuração ao templo mais condizente com o simbolismo do lugar. A fachada com as suas torres sineiras não esconde a influência da arquitectura de Mafra. De planta de cruz latina, uma só nave e cobertura de abóbada de berço, é um templo bem proporcionado em estilo rococó. No parecer de muitos, um dos melhores exemplares do Rococó ao sul do Tejo. Ao entrar, ressalta a imponência do baldaquino de talha dourada, de generosas dimensões, que funciona como capela-mor com deambulatório, encimado por um resguardo envidraçado que acolhe a imagem de Nossa Senhora d’Aires, para a veneração dos fiéis.
Para além do constante movimento de visitantes e peregrinos, salienta-se a romaria anual, que data de 1748, no último fim de semana de Setembro e a romaria a cavalo no quarto fim de semana de Abril, que percorre a antiga canada real, ao longo de 120 Kms, desde a igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem da Moita do Ribatejo até ao Santuário da Senhora d’Aires.
Nos espaços adjacentes, no piso térreo, pode visitar-se uma impressionante mostra de ex-votos que testemunha a devoção à Senhora D’Aires. Em preparação, nas galerias superiores, está um núcleo museológico que albergará o magnífico recheio acumulado ao longo dos tempos. No seu exterior, a fonte da Senhora d’Aires refresca os peregrinos e continua a entoar preces ao alto nos murmúrios das suas águas aveludadas.
Santuário de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa
Quando um grupo de frades de Santo Agostinho calcorreava montes e vales para escolher um sítio para edificar um convento, deparou-se com a beleza dum lugar onde corriam ribeiras fartas entre generosos arvoredos. Estamos em meados do século XIII. Vila Viçosa era só um desígnio profetizado nos olhares daqueles frades devotos. Ainda sem castelo nem muralhas, sem palácios nem templos, era simplesmente um Vale Viçoso à espera de ser moldado pela história dum povo com ideais elevados.
Dom Dinis edificaria, não longe do convento dos agostinhos, entretanto instalado, um Castelo amuralhado onde foi construída uma ermida à Senhora do Castelo. A colocação de Dom Nuno Álvares Pereira como Fronteiro-mor, trouxe consigo uma era de engrandecimento para a futura Vila Ducal.
Após a batalha de Aljubarrota, na transição do século XIV para o XV, o Santo Condestável edifica a igreja da Conceição onde antes havia uma singela ermida. Dotou-a, segundo uma tradição credível, duma imagem da Imaculada Conceição, de pedra de Ançã policromada, esculpida na Inglaterra e duma Confraria que engrandecesse o seu culto e que ainda hoje persiste. O desgaste dos tempos ditaria que esse templo fosse ampliado nos reinados de Dom Sebastião e do Cardeal-Rei.
A nobreza deste lugar ganha dimensão quando Dom João IV, em 25 de Março de 1646, em plena guerra da Restauração, proclamou Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa como Padroeira do Reino de Portugal. Num gesto de devoção toda singular, corou a imagem da Virgem com a coroa real e nunca mais os reis de Portugal usariam coroa nas suas cabeças. O Santuário de Vila Viçosa passaria a ser o Solar da Padroeira e seria o palco de muitas páginas gloriosas da história lusa.
O templo desenvolve-se numa estrutura composta por três naves de cinco tramos, capela-mor mais estreita, flanqueada por dois absidíolos, quatro capelas laterais, duas sacristias e torre sineira. A capela-mor resistiu ao terramoto de 1755 e ostenta um retábulo maneirista com um tecto em nervuras ogivais de fino recorte. As paredes da capela-mor, outrora com pinturas murais e agora caiadas de branco, estão decoradas com um friso de azulejos do século XVIII com cenas da vida da Virgem Maria. Na parede, do lado esquerdo, numa vitrine com caixilho de madeira, pode ser vista a bandeira do Comandante da batalha de Montes Claros que assinalaria o triunfo da Restauração de Portugal. À entrada da capela, também do lado esquerdo, uma lamparina de prata oferecida pelas mães de Portugal, é uma permanente prece à Padroeira pelos filhos da Grei lusitana.
A capela do lado direito, ou do Calvário, guarda a preciosa escultura da Senhora da Boa Morte, oriunda do Convento das Chagas, ladeada por uma relíquia de São Nuno de Santa Maria, fundador da igreja. A mesma capela conserva o Círio pascal que foi oferecido pelo Papa S. João Paulo II, por ocasião da sua visita a este lugar no dia 14 de Maio de 1982.
A imagem da Padroeira, a partir do século XVIII começou a ser revestida com os preciosos mantos das Duquesas e Rainhas da dinastia de Bragança, sendo o último, o vestido de casamento da Rainha Dona Amélia. Dois anjos tocheiros ladeiam a imagem, em plano inferior, fazendo parte do conjunto original oferecido pelo Santo Condestável. A sua atitude de louvor à Virgem, evoca a devoção dos muitos peregrinos que se dirigem a este lugar para renovar a sua consagração a Nossa Senhora da Conceição, Padroeira de Portugal.
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