Novo presidente considera um erro pensar que depois da tempestade, a bonança virá «por acréscimo»
Lisboa, 30 dez 2014 (Ecclesia) – O novo presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP) elege como um dos principais desafios para 2015 o combate à pobreza e a garantia de uma verdadeira “inclusão social” dos mais carenciados.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, no contexto do Dia Mundial da Paz que vai ser assinalado no arranque do novo ano, Pedro Vaz Patto realça que o “crescimento” económico anunciado após a crise “não garante necessariamente a justiça” nem “a distribuição equitativa dos recursos” resultantes “desse desenvolvimento”.
Para aquele responsável, Portugal não pode cair no erro de pensar que, depois da tempestade, a bonança virá “por acréscimo”, até porque com a crise “a pobreza acentuou-se”.
As questões de fundo, “as causas estruturais” que estão por trás das dificuldades das pessoas continuam presentes e é preciso resolvê-las “para que o fenómeno não continue indefinidamente”.
Lutar contra a pobreza é um dever geral, tanto dos políticos como dos cidadãos, “cada um, à sua escala”.
“Nem a responsabilidade dos políticos, dos Estados, exclui a responsabilidade individual, nem nós apontarmos à responsabilidade individual de cada um significa que ignoremos aquilo que depende de uma ação de âmbito mais vasto, de âmbito político”, realça Pedro Vaz Patto.
A mensagem do Papa para o 48.º Dia Mundial da Paz tem como tema “Já não escravos, mas irmãos” e alerta para as “múltiplas formas de escravatura” que atualmente levam as pessoas a viver “em condições indignas”, vítimas de “exploração” nos mais variados campos: social, laboral, sexual.
“Ainda hoje milhões de pessoas – crianças, homens e mulheres de todas as idades – são privadas da liberdade e constrangidas a viver em condições semelhantes às da escravatura”, aponta Francisco, que critica ainda situações em que, no mundo laboral, os empregados são privados de “condições de trabalho dignas e salários adequados”.
Para o presidente da CNJP, esta posição do Papa argentino pretende abanar as fundações de uma sociedade onde fenómenos como “o tráfico de pessoas e de órgãos, as redes de prostituição, os casamentos forçados, as crianças-soldados, ou as formas disfarçadas de adoção internacional” marcam o quotidiano.
“Tudo o que serve de denominador comum a estas situações”, apontadas na mensagem de Francisco, “é as pessoas serem coisificadas, tratadas como objeto. É aqui que está a raiz da escravatura”, sustenta Pedro Vaz Patto.
Olhando para a realidade portuguesa, aquele responsável frisa que “num contexto de desemprego generalizado há um grande perigo”, o de se pensar que “mais vale trabalhar seja em que condições forem do que não ter emprego”.
“É preciso evitar isso, porque há condições mínimas em relação às quais nunca se pode transgredir, porque está em causa a dignidade da pessoa humana”, complementa.
A entrevista ao presidente da CNJP poderá ser acompanhada no próximo domingo, a partir das 06h00, na Antena 1; antes, esta quinta-feira, Pedro Vaz Patto é o convidado do programa ECCLESIA na RTP2, a partir das 15h30.
LS/JCP