Viagem a Portugal, primeira do pontificado e quinta da história, surge como o maior acontecimento religioso do ano em que se celebrou o Centenário da República
A viagem de Bento XVI a Portugal, de 11 a 14 de Maio de 2010, foi o maior acontecimento religioso do ano no nosso país, com repercussões dentro e fora das fronteiras da Igreja Católica.
Para o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), D. Jorge Ortiga, a quinta visita papal a território português, primeira de Bento XVI, foi um acontecimento “histórico”.
Em entrevista à ECCLESIA, o arcebispo assinala que esta visita “serviu para que desaparecessem clichés” sobre Bento XVI e “crescesse o amor ao Papa, determinante para acolher a sua mensagem”.
Os quatro dias passados em Lisboa, Fátima e Porto surpreenderam as multidões e ficam na história do actual pontificado.
O reconhecido sucesso da visita deve-se também, em muito, a meses de intenso trabalho, na sua preparação.
Logo em Janeiro, o Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, assegurou ao Núncio Apostólico em Lisboa, D. Rino Passigato, que Portugal aguardava, “com entusiasmo, a visita oficial de Sua Santidade”.
De Janeiro a Maio, a mobilização foi geral. Para que os portugueses pudessem conhecer todos os pormenores da visita e a história e pontificado de Bento XVI, a CEP lançou o site www.bentoxviportugal.pt e o slogan para os quatros dias: «Contigo caminhamos na esperança. Cristianismo, Sabedoria e Missão».
Ao longo deste ano, o 5 de Outubro de 1910 e a consequente mudança de regime político foram recordados insistentemente, inclusive pelo próprio Bento XVI, o qual evocou as comemorações do Centenário da República no primeiro discurso que proferiu em território nacional, ainda no Aeroporto de Lisboa, sublinhando a importância da colaboração entre Igreja e Estado.
“A viragem republicana, operada há cem anos, abriu na distinção entre a Igreja e o Estado um espaço novo de liberdade para a Igreja”, disse.
Contrariando as previsões de Afonso Costa, a Lei da Separação (1911) despertou nos católicos “uma vitalidade insuspeitável”.
A radicalização das suas medidas não afastou os católicos, mas “deu-lhes força”, defendeu o historiador e bispo do Porto, D. Manuel Clemente.
Sobre este Centenário, D. Jorge Ortiga lamenta, por seu lado, que não tenham existido conclusões “a respeito do exercício da democracia, vendo o que a supõe e como deveria ser exercida, quais as exigências da coisa pública”.
O tema esteve em destaque nas Jornadas Nacionais das Comunicação Social, em Fátima, e na edição especial do seminário Agência ECCLESIA, precisamente a 5 de Outubro, fruto da parceria com o Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa.
“Repensar Juntos a Pastoral da Igreja em Portugal” é o mote do movimento lançado pela CEP para reflectir sobre o estado actual da vida eclesial: uma comissão com representantes de todas as dioceses e da Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal preparou um “Instrumento de trabalho”, apresentado em 2010.
Os bispos decidiram promover, no próximo ano, um recenseamento da prática dominical e um inquérito sobre as atitudes e expectativas da sociedade portuguesa face à Igreja.
Na assembleia plenária do mês de Abril, foi aprovada a Carta Pastoral “Para um rosto missionário da Igreja em Portugal”, publicada em Junho, após a visita de Bento XVI, com o objectivo de ser “uma ajuda para a revitalização” das comunidades cristãs.
A CEP publicou ainda uma Nota Pastoral sobre os 50 anos dos Cursos de Cristandade em Portugal.
LFS/OC