Reflexões sobre o vácuo

P. Nuno Tovar de Lemos, sj

Diria que parece haver um “Princípio do Vácuo”. De facto, os vazios nem sempre são uma desgraça; podem ser o espaço necessário para o surgir de novas realidades.

Foi um fim de tarde no hospital que me fez pensar na importância do vácuo. Estivemos várias horas numa sala de espera, uma sala pequena com não mais de dez lugares numa zona reservada do hospital. Deu para observar bem cada pormenor da sala: os avisos afixados nas paredes, o sistema de articulação das poltronas, os vários posters clínicos, etc.

Intrigaram-me, na parede, três pontos de saída de gás. Imaginei que servissem para ajudar à respiração de alguém mais aflito. Percebi que uma das saídas era de ar e a outra de oxigénio. Mas a 3ª? Apanhei uma enfermeira de passagem pela sala. O que tem esta saída? Vácuo, disse ela apressadamente. Comentei que me parecia estranho que aplicassem vácuo nas narinas de uma pessoa com deficiências respiratórias… Ela riu-se e esclareceu que o vácuo não se aplicava no paciente mas que se ligava à máquina que ajudava a pessoa a respirar. Que esta máquina necessitava de vácuo para funcionar.

Não cheguei a perceber como é que a máquina funciona mas, desde aí, tenho pensado muito neste facto curioso do vácuo poder ajudar à respiração. E pareceu-me que isto não acontece só nos hospitais mas em muitas situações da vida. (O que é um aparente contra-senso porque o vácuo, em si, é uma ausência, uma falta). Parece-me mesmo que a História, muitas vezes, não avança por incrementos mas sim por vácuos. Chamei-lhe “Princípio do Vácuo”. Seria assim:

Os vazios nem sempre são uma desgraça; podem ser o espaço necessário para o surgir de novas realidades.

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