Presença católica na Televisão pública abre-se à tecnologia virtual após uma década (1997-2007) de regularidade e a estabilidade Os primeiros minutos foram para apresentações: objectivos, conteúdos, pessoas, estruturas. Depois, todo o tempo do programa quis concretizar duas acções: informar e formar. O Primeiro Programa Ecclesia foi “para o ar” a 15 de Setembro de 1997. Nas suas origens estão décadas de estudo, pedidos, debates… A Igreja Católica cedo quis marcar presença evangelizadora nos meios de comunicação social, nomeadamente na televisão. Os inícios da década de oitenta trouxeram a público essas pretensões por parte dos responsáveis da Igreja e a possibilidade da concessão de um canal de televisão à Igreja Católica. O que nunca viria a acontecer. A legislação ditou, ao contrário, a abertura da televisão ao mundo empresarial privado e a emissão de um “Tempo de emissão para confissões religiosas” no canal 2 da RTP. É o que determina o artº 25º da Lei nº. 58/90, de 7 de Setembro, repetidamente afirmado por posteriores quadros legislativos (nomeadamente os que regulam a concessão do serviço público de televisão à RTP), e recentemente a Lei de Liberdade Religiosa. O nº 1 do artº 25 afirma claramente que “nos serviços públicos de televisão e de radiodifusão é garantido às igrejas e demais comunidades religiosas inscritas, por si, através da respectiva organização representativa, ou conjuntamente, quando preferirem participar como se fossem uma única confissão, um tempo de emissão, fixado globalmente para todas, para prossecução dos seus fins religiosos”. Esta lei determina que o tempo (actualmente de 30 minutos) seja distribuído “tendo em conta a representatividade das confissões religiosas e o princípio da tolerância”. A concretizar estas disposições está, há 10 anos, o Programa “A Fé dos Homens”, que inclui conteúdos de 13 confissões religiosas radicadas em Portugal, nas condições assinadas em protocolo a 16 de Maio de 1997. Em ecumenismo Desde a determinação legal, em 1990, até ao início das emissões passaram anos de diálogo entre as confissões religiosas e entre estas e a RTP. Primeiro para determinar o tempo para cada confissão, depois para conseguir o melhor espaço na grelha da RTP2 e para determinar como conjugar os programas das diferentes confissões religiosas nos 30 minutos de segunda a sexta-feira. O que determinou a divisão do programa em duas partes: 22 minutos e meio para conteúdos da Igreja Católica Romana e 7 minutos e meio para as restantes confissões religiosas. O tempo de diálogo entre as confissões religiosas e a proximidade que o Programa “A Fé dos Homens” proporcionou faz com tenha na sua história uma marca determinante: a ecuménica. Ela oferece originalidade a esta iniciativa mediática, repetidamente afirmada por líderes religiosos, responsáveis pelos meios de comunicação social, colunistas e políticos. Ela foi também um trunfo quando o projecto foi colocado em causa. Aconteceu a 15 de Março de 2002, dia em que a RTP denuncia unilateralmente o protocolo com as confissões religiosas. A necessidade de estudar formas de reduzir custos de produção foi a razão apontada por parte da administração da RTP, colocando também em causa a inclusão do Programa no serviço público de televisão. Uma decisão tomada após um ano de ameaças e dois dias antes de eleições legislativas. Nos dias que se seguiram, líderes políticos e sociais – e naturalmente também os das diferentes confissões religiosas – sublinhavam a importância das religiões nas sociedades e a inclusão religiosa proporcionada pelo Programa. O que viria a ser reconhecido pelos novos responsáveis governamentais e pela nova administração da RTP. Informar e formar No que diz respeito ao Programa Ecclesia, informar e formar são as palavras de ordem. O protocolo em que está enquadrado determina que, como todos os que estão integrados em “A Fé dos Homens”, o Programa Ecclesia seja espaço de divulgação de conteúdos e iniciativas relacionadas com a Igreja Católica. E é isso que tem acontecido ao longo destes 10 anos, a partir dos recursos que a comunicação televisiva proporciona. Os documentários, as séries, as reportagens, as entrevistas e os debates preencheram as grelhas semanais de cada ano. Nos primeiros, procurando incluir as diferentes expressões do catolicismo, em Portugal e no mundo, as iniciativas pastorais para os mais novos e para os adultos, o debate provocado por temas bíblicos ou da sociedade. Depois, a celebração do Jubileu do Ano 2000 fez convergir forças e iniciativas para o preparar e para o viver. Durante o ano 2000, para além dos acontecimentos jubilares, o Programa Ecclesia emitiu um curso bíblico (da autoria do Pe. Joaquim Carreira das Neves) e apresentou “A Igreja no Tempo” (os 2000 anos da História da Igreja, da autoria de D. Manuel Clemente). Dois produtos televisivos, posteriormente publicados em livro. Numa década de emissões, foram muitos os colaboradores que se juntaram à equipa que, todos os dias, reúne conteúdos e criatividade para produzir e realizar cada programa. Investigadores em diferentes áreas da teologia, comentadores, protagonistas de múltiplas missões na Igreja passaram diante das câmaras para explicar e testemunhar o Evangelho. Os dois referidos, Pe. Joaquim e D. Manuel Clemente, acompanham toda a história do programa. Cedo aderiram à proposta de marcar presença semanal no programa. E continuam! Após os dinamismos provocados pela celebração do Ano Jubilar, as objectivas voltaram-se novamente para a multiplicidade de iniciativas eclesiais e para quem as testemunha na primeira pessoa. Merece particular destaque as incursões pelo mundo missionário. Foram algumas as oportunidades para chegar às fronteiras da missão – na África, Ásia ou América – e aí registar dinamismos de anúncio do evangelho feito por consagrados ou leigos missionários, registar outras culturas e outras expressões do cristianismo. Virtual, aos 10 anos Da história do programa e da RTP faz parte, desde há poucos dias, a utilização em estúdio da tecnologia virtual. De facto, foi no Programa Ecclesia gravado e emitido no dia 5 de Setembro último que a RTP utilizou, pela primeira vez, a cenografia virtual. Assim continuará a acontecer: dois dos programas Ecclesia, em cada semana, gravados nos estúdios da RTP poderão beneficiar dos recursos que a tecnologia virtual proporciona. Se a “crise” de 2002 marcou negativamente a criatividade e a produção, pelo menos no que diz respeito ao Programa Ecclesia (com as consequências ditadas pela redução de custos que se prolongam até ao presente), a celebração do décimo aniversário de emissões regulares (que acontece um ano após a nomeação pelo Governo da Comissão do Tempo de Emissão das Confissões Religiosas, num contexto de compromissos crescentes pela melhor qualidade de todos os programas e pela preocupação para que sejam mais vistos, expressa pelos responsáveis da televisão e pelos coordenadores dos programas das diferentes confissões) pode ser uma ocasião de viragem. Com recursos virtuais, e sobretudo com os reais, estes programas, nomeadamente o Programa Ecclesia, pode ainda ser recurso para muitas iniciativas da Igreja Católica em Portugal, nas suas diferentes expressões, nomeadamente as diocesanas. A integração deste produto de televisão em planos de pastoral e nos debates que determinam princípios e atitudes para a presença da Igreja na sociedade portuguesa merece ser cada vez mais considerada.