Antigo assistente da JOC e da LOC/MTC passa em revista percurso nesta área da pastoral, desde o Estado Novo à atualidade, e recorda «festa» de 1974
Lisboa, 28 abr 2024 (Ecclesia) – O padre Horácio Noronha, antigo assistente da Liga Operária Católica e da Juventude Operária Católica, considera que há um “certo mal-entendido” na relação entre a Igreja e o mundo do trabalho, que deve ser ultrapassado.
“Há um certo mal-entendido entre a Igreja e o mundo do trabalho. Há uma dificuldade em isso ser tomado a sério e a ser assumido”, indica o convidado da entrevista conjunta Ecclesia/Renascença, que esta semana evoca o histórico 1.º de Maio de 1974.
Para o sacerdote, a Igreja Católica “tem uma série de documentação muito abundante sobre os temas de trabalho, só que depois, na prática, é mais difícil isso passar”.
“Em geral, existe um certo problema difícil de analisar, alguma indiferença e um certo medo de se meter por estes caminhos. Nós não encontramos muitos movimentos na Igreja que tomem a sério a vida dos trabalhadores, os seus problemas, as suas angústias e também as suas lutas libertadoras”, advertiu.
O responsável, que começou a acompanhar a JOC em 1969, deixa votos de que as comunidades católicas acompanhem “de uma maneira mais objetiva, mais verdadeira também, esta área da vida das pessoas, da vida dos trabalhadores, de maneira a haver uma maior compreensão, uma maior receção dos numerosos documentos que existem sobre o assunto e também um esforço para os pôr em prática”.
O padre Horácio Noronha recorda a sua participação na manifestação do 1.º de Maio de 1974, uma semana depois da revolução, com “grande alegria”.
Saí à rua, andei por aí e tenho muito boas recordações. Foi uma festa, uma festa enorme, com toda a gente a festejar, com bandeiras, a editar slogans. Foi, realmente, uma comemoração muito festiva e, digamos que, unitária. Toda a gente, não havia divisões, estavam todos unidos”, indica.
O sacerdote realça que, entre os militantes da JOC e os seus dirigentes existia “um grande desejo de que isso acontecesse, não se sabia como, mas que acontecesse uma mudança”.
Os movimentos juvenis, acrescenta, tiveram “um papel importante” nesta mudança, refere o entrevistado, observando que na Juventude Operária Católica, em particular, “havia certas sementes que tinham a ver com este mundo novo que estava a despontar”.
“Foi uma passagem muito importante, que nós vivemos todos com muito empenhamento e com muita alegria”, insiste.
O padre Horácio Noronha pede que se assumam os problemas, sublinhando que hoje se vive a “precariedade no trabalho, o desemprego, há pessoas que trabalham e são pobres”.
“Essa é uma realidade difícil que nos questiona, questiona a todos, a Igreja também”, prossegue.
O responsável, que continua a acompanhar a atividade da LOC/MTC, considera que estes movimentos continuam a ser necessários e elogia o seu empenho na “na dignificação do trabalho, um trabalho digno”.
Sobre a questão do domingo livre, um dos temas debatidos pela Pastoral Operária a nível europeu, o padre Horácio Noronha sublinha que a resposta passa também pelos consumidores.
“Se não fizermos compras, aquilo fecha, mas enquanto houver gente para comprar aquilo vai estar aberto. É uma luta que eu acho que deve continuar, mas não sei como se pode resolver”, conclui.
Henrique Cunha (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)